quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

Esquema no Idema desviou equivalente a um ano de arrecadação do órgão

ESQUEMA NO IDEMA
 
Os mais de R$ 30 milhões desviados do Instituto de Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente (Idema) entre os anos de 2012 e 2014, através de fraudes realizadas de dentro do seu próprio setor financeiro, representam um ano inteiro de arrecadação da autarquia estadual. Acomparação é baseada na média dos últimos anos. De acordo com o diretor-geral, Rondinelle Silva Oliveira,entre R$ 30 e 50 milhõesentram nas contas do órgão,por ano, a depender do número de licenças solicitadas e expedidas no período. Esses recursos custeiam salários de servidores de carreira e conveniados, toda a infraestrutura física e de informática, aluguéis, projetos de educação ambiental e nove unidades estaduais de conservação – entre elas, o Parque das Dunas.  
 
Na última segunda-feira (22) a Justiça encerrou a fase de audiências de instrução, quando foram ouvidas as 15 pessoas acusadas de envolvimento nas fraudes. Desse total, apenas quatro eram funcionários do órgão, ocupantes de cargos de confiança no setor financeiro. As ações criminosas foram investigadas pela operação Candeeiro, do Ministério Público Estadual, que apontou inicialmente um rombo de R$ 19,3 milhões feito entre 2013 e 2014. Os investigadores só chegaram ao valor de R$ 30 milhões após delação premiada do ex-chefe da Unidade Instrumental de Finanças e Contabilidade do Idema, Clebson Bezerril, que é réu confesso.
 
De acordo com Rondinelle Oliveira, que assumiu a direção do órgão em janeiro de 2015, as práticas que permitiram os desvios foram banidas do órgão logo no início da sua gestão. A descoberta do golpe, em setembro passado, quando a Candeeiro foi deflagrada,surpreendeu até mesmo a comissão interna responsável pelo controle das finanças. “Quando o Ministério veio aqui e pediu os documentos, todos foram pegos de surpresa. Esses documentos não existiam”, afirma. 
 
O “modus operandi”, jargão jurídico paradefinir a forma de atuação do grupo criminoso, era assim: ofícios assinados pelo diretor administrativo, Gutson Reinaldo (apontado como líder do esquema) eram enviados ao Banco do Brasil, liberando pagamento para empresas que supostamente tinham contratos com o órgão. Esses gastos não eram cadastrados no Sistema Integrado de Administração Física e Financeira (Siafi), como se nunca tivessem existido. Os ofícios eram destruídos pelos servidores.
 
O maior trabalho deles era fazer com que no fim do ano o balanço não apresentasse o déficit. “Eram pessoas em cargos específicos, que tinham manuseio desse dinheiro. Então eles faziam esse encontro de contas, que justificasse no sistema. Era difícil para as outras pessoas do financeiro detectarem, porque, segundo a denuncia, era o próprio chefe do setor quem fazia isso”, diz a atual coordenadora jurídica do Idema, Janne Rodrigues. 
 
Os donos das empresas ficavam com parte do dinheiro e devolviam o restante para os servidores. De acordo com o Ministério Público, 10% eram divididos entre os empresários, e três servidores do setor financeiro. 90% eram repassados para o diretor administrativo, Gutson Reinaldo. Em depoimento, entretanto, ele afirmou que ficava com 20% e seus comparsas dividiam outros 20%. A maior parte, entretanto (60%), seria para o deputado estadual Ricardo Motta. O réu afirmou que foi mantido no cargo pelo deputado, dentro de sua cota de indicações. Motta era então presidente da Assembleia Legislativa. O parlamentar negou todas essas informações.Em 2015, o Idema liberou mais de 4,06 mil licenças. Até agora, entretanto, não foi fechado o balanço da arrecadação total do ano. 

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