BRASIL, POLÍTICA
Senador Aécio Neves (PSDB-MG) - 06/11/2013 (Dida Sampaio/Estadão Conteúdo)
O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, denunciou pela primeira vez no âmbito da Operação Lava Jato o senador afastado Aécio Neves (PSDB)
pelos crimes de corrupção passiva e obstrução de Justiça. A PGR acusa
formalmente o tucano de pedir e receber 2 milhões de reais de propina
do dono da JBS, Joesley Batista, que fechou acordo de delação premiada com a procuradoria.
Além de Aécio, também foram denunciados a sua irmã, Andrea Neves; o seu primo Frederico Pacheco; e o advogado Mendherson Souza Lima, ex-assessor do senador Zezé Perrela (PMDB-MG) — os três estão presos desde a deflagração da Operação Patmos na semana retrasada.
Segundo a denúncia, Andrea Neves foi a primeira a pedir a
“vantagem indevida” em 18 de fevereiro de 2017. Ela disse que o dinheiro
serviria para renumerar os advogados do parlamentar. Depois, o próprio
Aécio ratificou a solicitação em encontro com Joesley num hotel em São
Paulo, em 24 de março. A conversa entre os dois foi gravada pelo
empresário, que entregou o áudio à PGR para conseguir em troca o perdão
penal pelos crimes confessados. No diálogo, os dois acertam como seriam
feitos os pagamentos. “Você consegue me ajudar nisso?”, perguntou o
senador, num dado momento.
Os 2 milhões acabaram sendo entregues em quatro parcelas de
500.000 reais nos dias 5, 12, 19 de abril e 3 de maio ao primo
Frederico, que havia sido indicado pelo senador — Mendherson participou
de três pagamentos. Ele teria levado parte da cifra em um táxi para Belo
Horizonte. Por meio das chamadas “ações controladas”, a Polícia Federal
filmou os dois recebendo o dinheiro das mãos do diretor de Relações
Institucionais da JBS e também delator, Ricardo Saud. Em diálogo
gravado, Fred chega a desabafar a Saud que está preocupado com a
possibilidade de ser descoberto. “Olha onde que eu tô me metendo”, diz.
A acusação será analisada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Marco Aurélio Mello
e julgada pela Primeira Turma da Corte, constituída pelos ministros
Alexandre de Moraes, Rosa Weber, Luís Roberto Barroso e Luiz Fux. Esta é
a primeira denúncia oferecida contra Aécio, que é alvo de outros sete
inquéritos no STF, cinco em razão da megadelação da Odebrecht e outros
dois sobre irregularidades na usina de Furnas e na CPI dos Correios.
O senador afastado explica que aceitou os 2 milhões de reais
porque não tinha dinheiro para pagar os seus advogados na Lava Jato e
que o dono da JBS fez uma “armação” para parecer que o “empréstimo” foi
um ato ilegal. Aécio nega que tenha havido qualquer contrapartida pelo
valor, o que descaracterizaria os atos de corrupção. Em nota enviada
nesta sexta-feira, a defesa do parlamentar lamentou a rapidez com que a
denúncia foi oferecida.
Em relação ao crime de obstrução de Justiça, o PGR diz que o
tucano tentou “embaraçar” e “constranger” as investigações da Lava Jato
ao atuar no Congresso em favor dos projetos de anistia ao caixa dois e
de abuso de autoridade e no direcionamento de delegados para
assumir inquéritos específicos “com a finalidade de beneficiá-lo”.
Como base para a acusação, a procuradoria citou a
transcrição de trechos da conversa — citada acima — entre Aécio e
Joesley num hotel em São Paulo. Num dado momento, o empresário interpela
o senador sobre a necessidade de paralisar as apurações, ao que ele
responde: “Duas coisas: primeiro cortar o para traz de quem doa e de
quem recebeu. Acabar com tudo, com todos esses crimes de falsidade
ideológica. O negócio agora não dá mais para ser na surdina. Todo mundo
assinando. PSDB, PT, PMDB vão assinar. A ideia é votar dentro do pacote
das 10 medidas”. Outros diálogos interceptados pela PF também foram
usados para formular a denúncia por obstrução, como um com o ministro
Gilmar Mendes e outro com o diretor-geral da PF, Leandro Daiello.
Além da condenação, a procuradoria também pediu à Justiça que obrigue Aécio e Andrea a devolver 6 milhões de reais
a título de indenização por danos morais e materiais; e a abertura de
um novo inquérito para investigar se o tucano cometeu suposto crime de
lavagem de dinheiro.
Clique aqui para ler a denúncia na íntegra.
Confira a nota enviada pela defesa de Aécio Neves:
A Defesa do Senador Aécio Neves recebe com surpresa a
notícia de que, na data de hoje, foi oferecida denúncia contra ele em
relação aos fatos envolvendo o Sr. Joesley Batista. Diversas
diligências de fundamental importância não foram realizadas, como a
oitiva do Senador e a perícia nas gravações. Assim, a Defesa lamenta o
açodamento no oferecimento da denúncia e aguarda ter acesso ao seu teor
para que possa demonstrar a correção da conduta do Senador Aécio Neves e
de seus familiares.
(Eduardo Gonçalves/Veja.Abril.com.br)
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