BRASIL, POLÍTICA
O presidente Michel Temer (PMDB) e o ex-assessor presidencial Rodrigo
Rocha Loures, investigados pela PF (Dida Sampaio/Estadão Conteúdo)
No inquérito devolvido nesta segunda-feira ao Supremo Tribunal Federal (STF), a Polícia Federal concluiu que há indícios de materialidade da prática de crime de corrupção passiva pelo presidente Michel Temer (PMDB) e seu ex-assessor Rodrigo Rocha Loures,
preso em Brasília. Embora tenha concluído essa parte da apuração, os
delegados federais pediram mais cinco dias de prazo para encerrar a
investigação sobre os crimes de organização criminosa e obstrução da
Justiça, com base nas delações da JBS. O inquérito da PF deve basear a denúncia que o procurado-geral da República, Rodrigo Janot, prepara contra Temer e Rocha Loures.
O pedido de dilatação do prazo pela PF tem como objetivo
aguardar o término do laudo final da perícia no áudio da conversa
gravada pelo empresário Joesley Batista, do grupo J&F, com Temer. A demora na produção do laudo se dá pela má qualidade da gravação.
No diálogo gravado no Palácio do Jaburu, no dia 7 de março, o presidente diz “ótimo, ótimo”
quando o empresário revelou estar “comprando” um procurador do
Ministério Público Federal e “segurando” dois juízes, além de ter
respondido “tem que manter isso, viu?” diante da afirmação de Joesley de que estava “de bem” com o deputado federal Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e o operador financeiro Lúcio Bolonha Funaro.
Na conversa, o empresário disse a Temer que precisaria de
ajuda do Planalto para vencer um processo administrativo contra a
Petrobras no Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). O
presidente, então, indica Rocha Loures como interlocutor de sua “estrita
confiança” para atender à demanda do grupo J&F. Em encontro com o
aliado de Michel Temer, Joesley prometeu que a ajuda renderia 500.000
reais semanais em propina durante vinte anos.
No caso do crime de corrupção passiva, a reportagem apurou
que a conclusão baseou-se na análise das ações controladas – uma delas
que flagrou Rocha Loures correndo com uma mala de 500.000 reais
– e em dois laudos produzidos a partir da análise das conversas
gravadas entre o ex-assessor presidencial e o diretor de Relações
Institucionais do grupo J&F, Ricardo Saud.
Saud filmou e gravou, no dia 28 de abril deste ano,
encontros nos quais acertou e repassou a Rocha Loures a mala recheada de
dinheiro. Hesitante em pegar o dinheiro naquela ocasião, o peemedebista
chegou a sugerir um tal “Edgar” para buscar os valores, já que “todos
os outros caminhos estavam congestionados”.
Na conversa, Ricardo Saud ainda questiona se o preposto
sugerido por Loures para supostamente receber valores é “o Edgar que
trabalha para o presidente”. “Bom, se é da confiança do chefe, não tem
problema nenhum”, afirmou o delator.
Apesar de tentar indicar outra pessoa para receber os
valores, o então deputado federal acabou combinando, no mesmo dia, de
pegar a mala de propinas em uma pizzaria indicada por ele, em São Paulo,
na rua Pamplona. Saud também filmou o diálogo, em um estacionamento.
O valor seria entregue semanalmente pela JBS ao
peemedebista, em benefício de Temer, como foi informado, nas gravações,
pelo diretor de relações institucionais da holding. “Eu já tenho 500.000
reais. E dessa semana tem mais 500. Então você tem um milhão aí. Isso é
toda semana. Vê com ele, Michel Temer”, afirmou Saud a Rodrigo Rocha
Loures.
Rocha Loures é acusado de exercer influência sobre o preço
do gás fornecido pela Petrobras à termelétrica EPE – o valor da propina,
supostamente “em benefício de Temer”, como relataram executivos da JBS,
é correspondente a 5% do lucro que o grupo teria com a manobra.
Em notas anteriores, o Palácio do Planalto negou irregularidades envolvendo o presidente.
(com Estadão Conteúdo)
Nenhum comentário:
Postar um comentário