domingo, 5 de novembro de 2017

Laudo da Polícia Federal aponta “erros de cálculo” em empréstimo do BNDES. Documento obtido por ÉPOCA analisa recurso destinado à JBS para aquisição de empresa estrangeira

BRASIL, POLÍTICA
 Os empresários Wesley (dir.) e Joesley Batista (Foto:  Zanone Fraissat/Folhapress)

Um laudo do Instituto Nacional de Criminalística da Polícia Federal encontrou “erros" cometidos pela BNDESPar – braço do BNDES que investe em participações de empresas – na liberação de um empréstimo de pouco mais de R$ 624 milhões concedido à JBS. Com o dinheiro, a companhia pretendia adquirir a empresa National Beef, mas desistiu da operação após autoridades antitruste dos Estados Unidos sinalizarem que a compra  não seria aprovada.

O BNDES, porém, não pegou os recursos de volta e assinou sucessivos aditivos alterando o objetivo do aporte, permitindo o uso dos recursos posteriormente no processo de aquisição ou incorporação de outras empresas, como Tasman, Pilgrim’s e Bertin. De acordo com a Polícia Federal, no entanto, essas três empresas nem sequer foram analisadas pelos técnicos do BNDES, sendo que uma delas, o Bertin, nem mesmo “se coadunava com o objetivo geral de apoiar a internacionalização da JBS”.


Laudo da Polícia Federal encontra "erros de cálculo" em empréstimo feito à JBS (Foto: reprodução/ÉPOCA)
Os peritos também encontraram erros de cálculo na estimativa do valor econômico da JBS, feita para definir o preço de aquisição dos papéis na operação envolvendo a National Beef. Isso levou o BNDES a desembolsar pelo menos R$ 37 milhões a mais que o valor necessário.

Outra observação feita pela Polícia Federal diz respeito à agilidade atípica em que ocorreu a liberação dos empréstimos, “embora as operações  de apoio à JBS analisadas neste laudo fossem de elevada complexidade e envolvessem valores expressivos”.


Auditorias do Tribunal de Contas da União (TCU) já haviam encontrado inconsistências nesses aportes, sendo que os auditores chegaram a afirmar que houve “cessão graciosa de dinheiro público” para a empresa. O material é um dos elementos que levaram à Operação Bullish da Polícia Federal.

O laudo de 64 páginas obtido por ÉPOCA é assinado por dois peritos criminais da Polícia Federal e foi produzido, em agosto de 2016, a pedido da Justiça Federal de Brasília. O BNDES foi procurado pela reportagem e, por meio de nota, informou que não vai comentar o laudo. 

(Patrik Camporez/Época)

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