domingo, 26 de maio de 2019

Atenuados, atos pró-Bolsonaro devem mirar Centrão e defender Moro. Depois de mote que incluía fechamento do Congresso e do STF, organizadores e aliados do presidente agiram para moderar convocação; Bolsonaro não participará

MANIFESTAÇÃO PRÓ-GOVERNO
 
 O presidente do grupo Direita São Paulo, Edson Salomão, disse a VEJA que espera 150 mil pessoas na Avenida Paulista, em São Paulo, no domingo (Sergio Moraes/Reuters)

Apoiadores de Jair Bolsonaro fazem neste domingo, 26, manifestação em apoio ao presidente em ao menos 250 cidades do país, espalhadas em dezoito estados e no Distrito Federal, segundo expectativa dos organizadores. Os atos foram convocados como reação aos primeiros protestos expressivos contra o governo atual, que miraram o bloqueio de recursos no Ministério da Educação, e na esteira do compartilhamento, pelo presidente, de um texto que fala sobre o Brasil ser “ingovernável” sem “conchavos”.

Os motes iniciais das manifestações eram círitcas ao Congresso e ao Supremo Tribunal Federal (STF). Depois de repercussão negativa entre parlamentares e com o temor de um agravamento na crise entre Palácio do Planalto e Legislativo, contudo, Bolsonaro anunciou que não irá aos atos e recomendou que seus ministros façam o mesmo, enquanto aliados entraram em ação para “atenuar” a pauta dos protestos.

Conforme a convocatória atualizada, as manifestações defenderão a reforma da Previdência, o pacote anticrime elaborado pelo ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, e a Medida Provisória 870, que trata da reforma administrativa do governo.

Mesmo assim, aliados do presidente, como a líder do governo no Congresso, deputada Joice Hasselmann (PSL-SP), a deputada estadual paulista Janaina Paschoal (PSL) e o presidente do PSL, Luciano Bivar, posicionaram-se contra as mobilizações.

Joice está entre os que temem avarias maiores na governabilidade caso os atos mirem o Parlamento – um dos alvos devem ser os deputados do chamado Centrão -, e Janaina avaliou que “não tem sentido quem está com o poder convocar manifestações”, mesma posição de Bivar. Diante das divergências, o PSL liberou os integrantes de suas bancadas a participarem ou não dos atos. 

Sem grupos antipetistas

Os atos em apoio a Bolsonaro não estão sendo organizados por movimentos que protagonizaram a campanha pelo impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff em 2016, como o Movimento Brasil Livre (MBL) e o Vem Pra Rua, que preferiram não aderir aos atos. Sem os dois principais grupos antipetistas, a mobilização ficou a cargo de organizações menos conhecidas como Avança Brasil, Direita São Paulo, Confederação Monárquica no Rio, Consciência Patriótica e Movimento Brasil Conservador.

As manifestações estão sendo convocadas pelas redes sociais, sobretudo através do Facebook e do WhatsApp, plataformas nas quais o capitão consolidou sua principal interlocução com o eleitorado fiel.

Entre os organizadores, o grupo mais popular nas redes sociais é o Avança Brasil, que possui 1,4 milhão de seguidores em sua página no Facebook. O Direita São Paulo, por sua vez, formado há três anos, é um dos mais bem estruturados e terá o próprio caminhão de som na Avenida Paulista, onde o presidente do grupo, Edson Salomão, espera que haja 150.000 pessoas.

“Vamos às ruas para defender a reforma da Previdência, o pacote anticrime do ministro Sergio Moro, a MP 870, CPI da Lava Toga [que visa a investigar o Judiciário], a Operação Lava Jato e para pressionar os parlamentares do Centrão”, afirma Salomão.

Referindo-se a Janaina Paschoal e Luciano Bivar, Salomão avalia que políticos do próprio PSL “não souberam lidar com a situação”. “A classe política precisa entender que o povo tem a liberdade e a livre iniciativa de ir para as ruas quantas vezes quiser e quando quiser”, diz o líder do movimento. “Não é uma articulação do governo, de parlamentar. É uma posição legítima do povo que quer ir para a rua, para que as pautas que defendemos sejam votadas e aprovadas. A análise deles está equivocada”, acrescentou.

Edson Salomão ressalta que o Direita São Paulo repudia o que ele chamou de “radicalização das pautas”, como o fechamento do STF e do Congresso. “Acredito que essas sejam declarações isoladas”, avaliou.

O presidente do Direita São Paulo afirma, ainda, que os atos de hoje ganham relevância após a Câmara aprovar a retirada do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) do Ministério da Justiça e Segurança Pública, comandado por Moro, para o Ministério da Economia, de Paulo Guedes. “Não podemos dizer que houve uma derrota, de fato, porque a análise da matéria não foi totalmente concluída. Tem até o dia 3 de junho”, afirma, referindo-se à data em que a MP 870 perde validade.

A Confederação Monárquica no Brasil é outro movimento que está convocando sua militância para os atos de domingo. O grupo chamou manifestações para 18 estados e para o Distrito Federal.

 
 Militantes da Confederação Monárquica do Brasil, um dos organizadores da manifestação deste domingo (Facebook/Reprodução)

Em entrevista a VEJA, o líder do movimento, Rodrigo Dias, afirmou que o discurso anticorrupção ocupa o centro da pauta que será defendida nas ruas. “Defendemos que o Coaf permaneça com o ministro Sergio Moro e que a Receita Federal tenha poder de investigação junto ao Ministério Público”, diz.

Rodrigo Dias adota um discurso semelhante ao do presidente do Direita São Paulo. Em sua opinião, as pautas mais radicais não representam um “fato concreto”. “Tenho acompanhado de perto o engajamento nas redes sociais, as convocações de diversos movimentos e não vi nada neste tom, não é um fato concreto”, afirma.

Para Dias, a aprovação pelo plenário da Câmara da redução dos ministérios, de 29 para 22 pastas, conforme texto da MP 870, é um sinal de que “os parlamentares estão atentos”. “Quando há uma mobilização, há atenção da classe política, como consequência”, afirmou. Ele avalia ainda que os atos deste domingo podem ser “fundamentais” para que o Coaf volte ao comando de Moro.

O texto-base da MP e emendas seguem para análise no Senado. O líder do PSL na Casa, Major Olímpio (SP), e o senador Alvaro Dias (PODE-PR) anunciaram que apresentariam pedidos para que a decisão dos deputados fosse revertida. Se o Senado alterar qualquer ponto do texto aprovado pela Câmara, o texto voltará à Câmara, o que representaria risco à validade da MP – por isso, o presidente Bolsonaro já pediu que o Senado não mexa no texto aprovado na Câmara.


(Por André Siqueira/Veja.com.br)

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