MARCELO FREIXO
Em 2009, o então deputado estadual pelo Rio de Janeiro Marcelo Freixo
propôs, a Assembleia Legislativa aprovou e o governador daquele Estado
(o mesmo que hoje está condenado a mais de 190 anos de cadeia) sancionou
a Lei 5.543, que "define o funk como movimento cultural".
Cultura, simplificadamente, é a reunião de conhecimentos e saberes acumulados pela humanidade no decorrer do tempo.
Decretar o que deve ser considerado como cultura ou não, é tão
absurdo quanto imaginar que as cantatas de Bach são “cultura” porque o
Estado da Saxônia promulgou uma lei assim as considerando, ou que a
Capela Sistina é um bem cultural porque o Papa editou uma bula assim
estabelecendo.
Por definição, “cultura” não tem nada a ver com o Estado.
Aliás, se o Estado precisa decretar que algo é cultura, trata-se de forte indicativo de que esse algo NÃO É cultura.
A
referida lei manda ao poder público que assegure ao “movimento” do funk
a realização de seus bailes e festas "sem quaisquer regras
discriminatórias nem diferentes das que regem outras manifestações da
mesma natureza".
O que é engraçado, porque eu jamais vi exigirem
AVCB, Certificado de Classificação, Alvará de Funcionamento, equipe de
socorristas, Plano de Evacuação em Caso de Incêndio e outros documentos
que qualquer dono de casa de eventos que promova festa de grande porte
deve apresentar, sob pena de ser multado. Aliás, já viram fiscal da
prefeitura fazendo blitz surpresa em baile funk?
Vai ser preso o
empresário que vender álcool a menores de 18 anos, mas o traficante dono
do pancadão está liberado para vender maconha, cocaína e crack a
crianças de 14 anos.
Vai ser preso o empresário que permita o
abuso sexual de adultos em seu estabelecimento, mas o traficante de
Paraisópolis pode promover orgias com menores no meio da rua.
E,
segundo a extrema-imprensa, baile funk ainda é pix de bandido, que se
entrar no baile enquanto confronta a polícia não pode ser perseguido
jamais.
Curiosamente, a lei ainda proíbe "qualquer tipo de (...)
preconceito cultural (...) contra o movimento funk ou seus integrantes".
Ou seja, esse texto, que insinua que funk não é cultura, morasse eu
no Estado do Rio de Janeiro, seria ilegal. Eu posso dizer que os filmes
da Marvel não são cultura, que o K-pop não é cultura, ou que os livros
do Paulo Coelho não são cultura, mas ai de qualquer um que diga que "Vai
me enterrar na areia / Não, não, vou atolar / Tô ficando atoladinha /
Calma, calma, foguentinha" não ocupa o mesmo patamar civilizacional que
"Ode à Alegria" de Schiller.
Nesses tempos em que tribunais
legislam e criam novos tipos penais por analogia, capaz até de vocês,
que não gostam de funk, irem em cana por "racismo".
Cuidado!
(Por:Rafael Rosset/Jornal da Cidade Online)
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