CABO ELEITORAL
Embora não estejam em campanha pessoal para as eleições deste ano,
alguns ministros têm se aproveitado de agendas de trabalho para atuar em
favor de seus candidatos. Em algumas situações, aproveitam o horário em
que deveriam estar trabalhando para promover ações em seu reduto
eleitoral. Eles negam, no entanto, que estejam praticando alguma
irregularidade e argumentam que ministro não tem horário definido de
trabalho.
O ministro da Previdência Social, Garibaldi Alves Filho (PMDB-RN), é
um dos mais ativos cabos eleitorais de seu primo, o presidente da
Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), que concorre ao governo do
Estado. Mas ele não se dedica apenas a Henrique. Entre suas preocupações
imediatas está também eleger seu filho, Walter Pereira Alves (PMDB),
para a Câmara. O jovem é deputado estadual no Rio Grande do Norte.
Garibaldi não costuma dar muita publicidade à sua agenda, embora a
Comissão de Ética da Presidência da República exija essa prática. É
comum ver anotada a expressão quase padronizada de “sem agenda
informada” ou “agenda institucional” ou, ainda, “agenda externa”, sem
especificar o que realmente o ministro está fazendo.
Mas, uma olhada nos blogs de política do Rio Grande do Norte dá uma
ideia dos afazeres de Garibaldi. No dia 24 de julho, por exemplo, uma
quinta-feira pela manhã, ele estava em Caicó (268 km de Natal). Um blog
local fez questão de registrar a foto do todo sorridente ministro, com
camisa de manga e cheio de adesivos, pedindo votos ao lado do filho. Um
dia depois, ainda em Caicó, participou de um almoço de confraternização
com a família Macacos, tradicional no município.
Antes disso, numa outra sexta-feira, dia 11 de julho, ele
encontrou-se, por acaso, com o ex-presidenciável Eduardo Campos, na
saída do elevador do edifício onde mora um deputado ligado ao ministro.
Tudo registrado pelos blogs. E, em 16 de julho, uma quarta-feira, estava
em São Miguel do Gostoso (100 km de Natal) para participar de uma missa
pela emancipação do município.
Em agosto, Garibaldi continuou na ativa em defesa dos seus. Dia 15,
outra sexta-feira, registrou que estava em Natal para participar “a
convite do ministro das Cidades, de assinatura de contrato de
infraestrutura entre Natal, Mossoró e Paramirim e o governo do Rio
Grande do Norte”. Ou seja: nada vinculado à Pasta da qual é o titular.
Depois, emendou outras atividades no estado. Dia 21 fez uma “visita
técnica à agência da Previdência Social em Natal”; dia 22 cumpriu uma
“agenda institucional”, dia 25, uma segunda-feira, participou da
abertura de um seminário internacional para debater a seguridade social –
em Natal.
A assessoria de imprensa do ministro informou que a Controladoria
Geral da União e o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) definiram que
ministro de Estado é um agente público e não está submetido à jornada de
trabalho de oito horas. “Ao contrário, permanece ministro durante as 24
horas do dia, inclusive aos sábados, domingos e feriados, podendo ser
acionado a qualquer momento”, afirma nota enviada ao GLOBO.
Garibaldi não é o único a voar para seu Estado para apoiar seus
candidatos. O ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, cuja mulher, a
senadora Gleisi Hoffmann (PT), concorre ao governo do Paraná e amarga o
terceiro lugar nas pesquisas, esteve em três ocasiões, em julho, em
Curitiba. A agenda para essas datas não foi divulgada — consta apenas o
destino onde o ministro estaria. Paulo Bernardo passou o dia 3 de julho,
uma quinta-feira, na capital paranaense. Naquela data, à noite, ocorreu
a convenção estadual do PT, que contou com a participação da presidente
Dilma Rousseff, do ministro-chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante, e
de outras lideranças locais – além dele mesmo. No dia 11 do mesmo mês,
uma sexta-feira, Paulo Bernardo também permaneceu na cidade e, no dia
21, uma segunda-feira, esticou a estada na capital. Em todos esses
casos, não há informação pública sobre o que fez.
A assessoria do Ministério das Comunicações informou que Paulo
Bernardo tem residência em Curitiba e é natural que viaje para lá com
frequência onde, “algumas vezes, despacha assuntos do ministério e
também pessoais”. Ainda segundo a assessoria, no dia 11, em Curitiba,
ele acompanhou o filho a uma consulta médica. Sobre a atuação de Paulo
Bernardo na campanha da mulher, a assessoria afirma que “o ministério
não trata/cuida da agenda de campanha eleitoral”.
O ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante, cuja atribuição da
Pasta é cuidar de ações de governo, também utiliza parte de seu dia para
atuação política. Mercadante recebeu, em 22 de julho, o presidente
nacional do PROS, Eurípedes Júnior, e, no dia seguinte, o presidente
nacional do PCdoB, Renato Rabelo.
A assessoria de imprensa da Casa Civil informou que, na função que
exerce, é comum Mercadante manter conversas com vários segmentos da
sociedade, incluindo partidos políticos.
Em campanha pelo governo do Rio Grande do Norte, o presidente da
Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), utilizou uma aeronave da FAB,
no dia 7 de julho, para, juntamente com outras sete pessoas, ir ao Rio
de Janeiro – embora a Câmara fique em Brasília e ele more em Natal. Foi
um bate-e-volta. De acordo com a FAB, o avião pousou às 9h55 no
aeroporto Santos Dumont, e decolou às 13h40 do Galeão, no outro extremo
da cidade.
A assessoria de imprensa do presidente da Câmara informou que ele
teve duas atividades no Rio: encontro político com o governador Pezão e
almoço com o prefeito Eduardo Paes. A assessoria não informou quem
estava com ele no voo. Como o avião saiu do Galeão às 13h40, no Galeão, o
almoço com Eduardo deve ter ocorrido no máximo ao meio-dia. A
assessoria informou, ainda, que Henrique foi discutir a conjuntura
política com os dois peemedebistas.
Fonte: O Globo
Nenhum comentário:
Postar um comentário