quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Usuários sofrem com falta constante de medicação de alto custo na Unicat. O drama parece interminável para que não tem condições financeiras de pagar pelo remédio

DRAMA

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Alessandra Bernardo
alessabsl@mail.com

A continuidade da crise da saúde no Rio Grande do Norte, que atinge diretamente a distribuição de medicamentos e insumos para usuários atendidos pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e hospitais da rede pública estadual, tem gerado situações de desespero para quem não está recebendo os remédios pela Unidade Central de Agentes Terapêuticos (Unicat). No órgão, a lista dos itens em falta já ultrapassa a marca de 272 substâncias, incluindo 30 de alto custo, como Triptorrelina, usado para o tratamento de câncer de próstata.

O aposentado Arnaldo Amaro tem viajado pelo menos duas vezes ao mês desde agosto passado, vindo do município de Lagoa Salgada, no Agreste potiguar, em busca do Alenia, que ele precisa usar para seu tratamento respiratório. A última vez que recebeu o medicamento foi em julho passado. Cansado, ele explicou que não tem condições financeiras para comprar uma caixa sequer na farmácia e que, como alternativa para que sua asma não piore, tem feito nebulização três vezes ao dia, no mínimo.

“Não resolve como o remédio, mas é a única coisa que posso fazer para conseguir ter uma vida o mais próxima possível do normal, porque sem isso, não sairia de casa com o cansaço. Ainda tive sorte que consegui esse aparelho emprestado. Venho duas vezes ao mês e, na última, pediram para eu retornar nesta semana para fazer o recadastramento. Mas, quando cheguei aqui, me disseram que não iria fazer porque o Alenia está em falta e não tem data para distribuí-lo. Vou voltar de mãos vazias mais uma vez”, desabafou.
Além deste medicamento, também estão em falta itens bastante procurados, como o Evista, indicado para o tratamento de osteoporose; Zoladex, para doenças hormonais e câncer de mama; Galantamina, nas três dosagens comercializadas e indicadas para Mal de Alzheimer; Topiramato, anticonvulsivo e Triptorrelina, substância usada para tratamento de câncer de próstata.

Indicado para tratamento de osteoporose, o Evista também consta na lista dos faltosos já há bastante tempo, sem previsão de chegada. Para quem convive com o problema e enfrenta dores severas nos ossos, a única coisa que resta é rezar, como faz a aposentada Maria Pereira. Relatando limitações nas atividades do dia-a-dia por causa da doença e dos incômodos, mais uma vez ela saiu sem receber a substância e sem saber quanto voltará.

“Me disseram para ligar daqui a umas duas semanas, para saber se já chegou ou não as caixas dele, mas já faz tempo que venho aqui e nada. Infelizmente, vivo com uma aposentadoria de um salário e não tenho condição para comprar o remédio nas farmácias. Só faço tomar algo para ver se passam as dores, que são muitas e que muitas vezes me impede de sair ou fazer alguma coisa simples dentro de casa”, afirmou.

Dívidas com fornecedores se aproximam de R$ 100 mi
Ciente da situação calamitosa vivida pela área, a Secretaria de Estado da Saúde Pública (Sesap) vem explicando há vários meses que as dificuldades na aquisição dos medicamentos estão diretamente relacionadas às dívidas milionárias do Governo do Estado com as indústrias farmacêuticas fornecedoras de itens como Galantamina 8, 16 e 24mg; Topiramato 25 e 50mg; Tobramicina (antibiótico para infecções dos olhos) e Riluzol, usado no tratamento de pacientes com esclerose lateral amiotrófica (Ela).

Na última quarta-feira (19), o secretário Luiz Roberto Fonseca reconheceu o problema, disse que o débito está hoje em R$ 90 milhões e que a situação ocorre porque as empresas temem sofrer um calote, já que a partir do próximo ano será um novo governador. Diante disso, elas só aceitam entregar os medicamentos mediante o pagamento da dívida anterior e que isso tem contribuído para o desabastecimento das unidades em todo o Rio Grande do Norte.

“Eles temem sofrer um novo calote, como o que ocorreu no final do governo Wilma de Faria em dezembro de 2010, quando a Secretaria de Planejamento cancelou o empenho de mais de R$ 70 milhões em medicamentos que já haviam sido entregues. No início do mês, foi feito o repasse de R$ 4,5 milhões para as farmacêuticas, para liberação dos itens licitados, mas, ainda assim, o nível de descrédito do Rio Grande do Norte é alto, afirmou.

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