MORRE CHAVES
Criador de um fenômeno televisivo que, a partir do México, se espalhou
pelo continente e conquistou legiões de fãs em toda a América Latina, o
humorista mexicano Roberto Gomez Bolaños, autor e intérprete dos
personagens Chaves e Chapolin, morreu nesta sexta-feira, aos 85 anos.
Com a saúde fragilizada há mais de uma década, Bolaños passou os seus
últimos anos em uma cadeira de rodas, lutando contra problemas
respiratórios e complicações de diabetes. Nesta sexta-feira, ele sofreu
uma parada cardíaca.
A morte de Bolaños deixa órfã uma geração de fãs brasileiros que cresceu assistindo aos episódios de Chaves, a sua principal criação, reprisados exaustivamente pelo SBT ao longo das últimas três décadas. Um grupo de admiradores fiel que, ignorando todas as limitações técnicas da produção, sempre garantiu ótimos resultados de audiência ao programa mexicano – e sempre mostrou um impressionante poder de mobilização a cada ameaça de cancelamento das exibições do seriado, com campanhas fora e dentro das redes sociais. Nesta sexta, com a notícia da morte do humorista, a direção do SBT estuda levar ao ar um especial para homenageá-lo.
A morte de Bolaños deixa órfã uma geração de fãs brasileiros que cresceu assistindo aos episódios de Chaves, a sua principal criação, reprisados exaustivamente pelo SBT ao longo das últimas três décadas. Um grupo de admiradores fiel que, ignorando todas as limitações técnicas da produção, sempre garantiu ótimos resultados de audiência ao programa mexicano – e sempre mostrou um impressionante poder de mobilização a cada ameaça de cancelamento das exibições do seriado, com campanhas fora e dentro das redes sociais. Nesta sexta, com a notícia da morte do humorista, a direção do SBT estuda levar ao ar um especial para homenageá-lo.
Razão de tanto carinho, a história do garoto orfão que "sem querer
querendo" inferniza a vida da vizinhança caiu nas graças do público
apostando em piadas ingênuas e sem apelação: um exemplo claro do tipo de
humor que Bolaños pregava. "Quando sobram piadas chulas, é porque falta
talento", afirmou o mexicano em entrevista a VEJA em
1999. Mesmo não sendo um adepto do politicamente correto – como as
pancadas de Seu Madruga em Chaves deixam claro –, Bolanõs fugia do humor
preconceituoso nos seus roteiros. "Sempre evitei fazer piadas com
raças, religiões, opções sexuais e mulheres. Aliás, nos meus programas
as meninas sempre são mais inteligentes. No Chaves, era a Chiquinha quem arquitetava os planos mirabolantes", comentou.
Debilitado, Roberto Bolaños usava cadeira de rodas
Pequeno Shakespeare - Antes de se tornar o criador –
e o rosto – de Chaves, porém, Bolaños já havia construído uma sólida
trajetória artística em seu país. Versátil, o mexicano trabalhou desde
jovem nas mais diversas mídias: foi roteirista de programas de rádio,
peças de teatro, esquetes de televisão e filmes no cinema – muitas vezes
assumindo também o papel de ator. Tal habilidade rendeu ao
multifacetado artista o apelido de Chespirito – "pequeno Shakespeare" –,
alcunha pela qual ficaria conhecido no México até o fim da carreira,
encerrada hoje.
A fama internacional, no entanto, só chegaria mesmo a partir dos anos 1970, com a criação de seus dois personagens mais famosos: o presunçoso herói Chapolin Colorado e o ingênuo Chaves. Dono de uma marreta biônica de plástico e de "anteninhas de vinil" sensitivas, Chapolin é uma divertida sátira dos infalíveis super-heróis dos quadrinhos americanos. A série colecionou um enorme número de fãs e conquistou o seu próprio status cult – camisetas com o emblema do personagem são um ícone pop até hoje –, mas seu alcance jamais superou o da outra criação de Bolaños.
A fama internacional, no entanto, só chegaria mesmo a partir dos anos 1970, com a criação de seus dois personagens mais famosos: o presunçoso herói Chapolin Colorado e o ingênuo Chaves. Dono de uma marreta biônica de plástico e de "anteninhas de vinil" sensitivas, Chapolin é uma divertida sátira dos infalíveis super-heróis dos quadrinhos americanos. A série colecionou um enorme número de fãs e conquistou o seu próprio status cult – camisetas com o emblema do personagem são um ícone pop até hoje –, mas seu alcance jamais superou o da outra criação de Bolaños.
Fenômeno latino - Exibido em mais de cem países ao longo de quatro décadas, Chaves
desembarcou no Brasil quase por acaso. A série era parte de um pacotão
de programas do canal mexicano Televisa comprado por Silvio Santos para
turbinar a programação do ainda jovem SBT. Foi o início de uma bem
sucedida parceria. Por quase trinta anos ininterruptos, Chaves foi uma das principais atrações – e curingas – da emissora, cobrindo qualquer buraco que surgisse na grade, e invariavelmente dobrando a audiência
da faixa. No auge do sucesso, o humorístico cansou de dar surras na
Globo, roubando o primeiro lugar no Ibope e deixando diretores do canal
carioca temerosos por seus empregos.
Embora também tenha conquistado fãs em outras partes do mundo, foi na América Latina que a principal obra de Bolanõs ganhou contornos de fenômeno cultural – a ponto de ser comparada pela revista Forbes ao revolucionário Simon Bolivar por seu poder unificador no continente. Para o humorista, os índices de pobreza da região ajudavam a explicar o grande apelo do personagem entre os latino-americanos. "O Chaves é uma criança que não cresce porque não come. O personagem faz sucesso em qualquer lugar do planeta onde haja fome", disse ele na entrevista a VEJA.
Embora também tenha conquistado fãs em outras partes do mundo, foi na América Latina que a principal obra de Bolanõs ganhou contornos de fenômeno cultural – a ponto de ser comparada pela revista Forbes ao revolucionário Simon Bolivar por seu poder unificador no continente. Para o humorista, os índices de pobreza da região ajudavam a explicar o grande apelo do personagem entre os latino-americanos. "O Chaves é uma criança que não cresce porque não come. O personagem faz sucesso em qualquer lugar do planeta onde haja fome", disse ele na entrevista a VEJA.
Bolanõs abraça Maria Antonieta de las Nieves, a Chiquinha: disputas judiciais abalaram amizade com ex-colegas
Triângulo amoroso - A exibição original de Chaves no México durou de 1971 a 1980 – terminou, portanto, anos antes de o programa sequer começar a ser veiculado no Brasil. Após esse período, o seriado sobreviveu até 1992 como esquete dentro do programa de Chespirito na Televisa, chegando ao fim por causa da idade avançada de Bolaños, então com 63 anos. Muito antes disso, no entanto, o humorístico já havia sofrido baixas em seu elenco – a primeira delas por causa de um inesperado triângulo amoroso entre Chaves, Dona Florinda e Quico. Ou melhor, entre Bolaños, a atriz Florinda Meza e o ator Carlos Villagrán.
Namorada de Villagrán durante anos, Meza trocou o parceiro pelo intérprete de Chaves em 1977. Logo depois, Villagrán anunciou sua saída do programa para seguir carreira-solo. A rusga entre os ex-colegas, porém, não terminou por aí e acabou se desdobrando em uma disputa judicial pelo personagem de Quico. Por causa da briga, Villagrán passou a se apresentar alterando a grafia do nome para "Kiko". Mostrando que o tempo não aplacou a animosidade entre eles, o ator acusou Bolaños em 2011 de não lhe pagar os direitos devidos pelo faturamento do programa. "Tudo quem leva é o Roberto, que é multimilionário", alfinetou.
Conflito semelhante envolveu a intérprete de Chiquinha, Maria Antonieta
de Las Nieves, que se desentendeu com Bolaños em 1994 e travou por mais
de uma década uma batalha pelos direitos de uso da personagem. As
disputas nos tribunais desgastaram a relação entre Bolaños e os
ex-colegas e o criador de Chaves nunca mais retomou a amizade
com a dupla. "Ele não atende meus telefonemas nem meus convites. Se não
quer, não posso obrigá-lo a ser meu amigo", lamentou Maria Antonieta em entrevista ao site de VEJA em 2013.
O relacionamento com Florinda Meza, porém, rendeu frutos duradouros. Descrita por Bolaños como "uma dessas mulheres que passam de uma em uma e os homens seguem de três em três", a atriz, vinte anos mais nova do que ele, foi sua companheira por mais de trinta anos – nos últimos deles fazendo também o papel de assessora e enfermeira do marido já debilitado.
Perguntado muitas vezes sobre a razão do estrondoso êxito de sua principal obra, Bolaños tinha uma explicação simples – e surpreendentemente satisfatória – na ponta da língua: "Chaves sempre defendeu valores familiares como honestidade e compaixão, e as pessoas se identificam com ele por causa disso".
O relacionamento com Florinda Meza, porém, rendeu frutos duradouros. Descrita por Bolaños como "uma dessas mulheres que passam de uma em uma e os homens seguem de três em três", a atriz, vinte anos mais nova do que ele, foi sua companheira por mais de trinta anos – nos últimos deles fazendo também o papel de assessora e enfermeira do marido já debilitado.
Perguntado muitas vezes sobre a razão do estrondoso êxito de sua principal obra, Bolaños tinha uma explicação simples – e surpreendentemente satisfatória – na ponta da língua: "Chaves sempre defendeu valores familiares como honestidade e compaixão, e as pessoas se identificam com ele por causa disso".
Edgar Vivar (o Seu Barriga de 'Chaves')
“Roberto, você não se foi, permanece em meu coração e no coração de muitos que você fez felizes. Adeus, Chavinho, até sempre.”
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