quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Protestos em Ferguson e outros casos de revolta contra a polícia americana. Nesta semana, a Justiça decidiu não indiciar o policial Darren Wilson, que em agosto matou o jovem negro Michael Brown. A decisão gerou revolta e protestos na cidade. Mas esse não foi o único caso

REVOLTA

Manifestante pede o fim do racismo durante protestos contra a morte do jovem negro Michael Brown, em abordagem policial na cidade de Ferguson, Missouri (Foto: David Goldman/AP)
Na tarde de 9 de agosto de 2014, após ser chamado para atender uma ocorrência de furto em uma loja, o oficial norte-americano Darren Wilson abordou o jovem negro Michael Brown, de 18 anos, que caminhava ao lado de um amigo. Dois minutos depois, após pouco diálogo, luta corporal e seis disparos, Brown estava morto. O episódio trouxe revolta e protestos à suburbana cidade de Ferguson, no estado do Missouri, e, nos Estados Unidos em geral, levantou a discussão sobre os deliberados assassinatos pelas mãos das forças policiais americanas, principalmente de jovens negros.

Nesta semana, novamente o município de pouco mais de 20 mil habitantes entrou em ebulição. Motivada pela decisão de um grande júri, que optou por não indiciar o agente Wilson pelo crime, a população de Ferguson voltou às ruas exigindo justiça e um tratamento igualitário aos negros do estado. O preconceito inerente às abordagens policiais não pode ser constatado por levantamentos sobre mortes em ações oficiais, simplesmente porque tais dados não existem. O máximo que se dispõe publicamente, em divulgação do FBI, são os "homicídios justificáveis", que crescem desde o início dos anos 2000 – em 2013 foram 461 mortes. Sem uma base de dados nacional, que possa coletar números pelas diversas entidades que atuam na segurança do país, a comprovação dos ocorridos é feita no dia a dia, em casos como o de Michael Brown.
O nova-iorquino Eric Garner morreu após truculenta abordagem da polícia. "Não consigo respirar" foram suas últimas palavras (Foto: Reprodução/New York Daily News)
Ferguson não foi a primeira cidade a se rebelar contra a polícia após o assassinato de um homem negro e desarmado. Um mês antes da morte de Brown, Nova York testemunhou um caso de abuso policial. Eric Garner fora abordado por um policial à paisana, em suspeita de vender cigarros ilegalmente. No momento em que seria algemado, seis oficiais utilizaram de força excessiva para conter Garner, ignorando suas súplicas por não conseguir respirar. Imobilizado pelos agentes, o homem de 43 anos e que sofria de asma, morreu no próprio local. Protestos pacíficos foram organizados na Times Square e em Staten Island, local do ocorrido. A família de Garner processa a cidade de Nova York, sua polícia e os seis agentes envolvidos na ação. O caso ainda não foi julgado. 

Do outro lado do país, na Califórnia, episódios similares não são raridade. No início de 2009, a segurança do BART (sistema de trens rápidos da baía de São Francisco) foi chamada para averiguar uma aglomeração na estação de Fruitvale, na região de Oakland. Vários jovens foram detidos e permaneceram na plataforma. Dada a truculência da polícia, muitas pessoas começaram a filmar a ação com seus celulares. Entre insultos e agressões, Oscar Grant, 22 anos e negro, foi deitado de bruços, algemado e alvejado nas costas pelo agente Johannes Mehserle. Grant morreu na manhã seguinte.
Deitado de costas e já imobilizado, Oscar Grant morreu após levar um tiro do policial Johannes Mehserle (Foto: Reprodução/Youtube)
A população local foi às ruas nas semanas seguintes e realizou manifestações, tanto pacíficas quanto violentas. O caso ganhou o noticiário e, apesar de defesas incosistentes – como a alegação de que houve confusão na hora de sacar a arma (o objetivo, segundo a defesa, era imobilizar o já imobilizado jovem com uma pistola 

de eletrochoque) –, Mehserle foi para a cadeia. Onze meses depois Johannes estava em liberdade e sua dívida com a sociedade, paga.

Um dos pontos reclamados pela população negra de regiões suburbanas dos Estados Unidos, durante esses protestos, é o teor racista das abordagens da polícia norte-americana, prioritariamente branca. Levantamento feito pelo jornal Washington Post, utilizando dados do censo do efetivo policial de 2010, mostra que, mesmo em cidades com população minoritariamente branca, as forças policiais são formadas, em sua maioria, por oficiais brancos. Na Flórida, por exemplo, a cidade-satélite Miami Gardens, a quarenta minutos de Miami, tem apenas 3% de população branca. Já na polícia, esse número sobe para 70% do efetivo. Tal realidade não necessariamente explica as mortes dos jovens negros. Mas evidencia a falta de representatividade da população em sua polícia local.
Manifestante é detido, em Ferguson, durante protesto contra as ações policias que ocasionaram mortes de jovens negros (Foto: John Minchillo/AP)

Nenhum comentário:

Postar um comentário