sábado, 28 de março de 2015

Superlotação compromete serviços e funcionamento do Hospital Santa Catarina. Equipe não está preparada para atender pacientes extras e alta demanda de pacientes de outros municípios contribui para a superlotação

TRANSTORNOS


Fonte: José Aldenir
Fonte: José Aldenir
Roberto Campello
Roberto_campello1@yahoo.com.br

Corredores transformados em enfermarias. Setor de animação funcionando, de forma improvisada, como uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Centro Obstétrico lotado, com gestantes aguardando a hora do parto em pé. Essa é a realidade do Hospital Doutor José Pedro Bezerra (HJPB), mais conhecido como Hospital Santa Catarina, segunda maior unidade hospitalar da rede estadual de urgência e emergência, localizado na zona Norte. O Hospital é referência estadual na assistência materno-infantil, com partos de média e alta complexidade. Por dia, o Hospital atende uma média de 300 pacientes, totalizando nove mil atendimentos por mês.

Nem mesmo a abertura da Maternidade Professor Leide Morais (Hospital Municipal da Mulher) conseguiu desafogar o setor de Obstetrícia do Hospital Santa Catarina. Na manhã desta sexta-feira (27), a situação estava crítica. Além da lotação da enfermaria, com os 51 leitos ocupados, os 32 leitos – 16 da mãe-canguru e 16 leitos da casa da mãe cidadã- também estavam ocupados.

Diante desse cenário, as salas de partos estão ocupadas por pacientes e não há mais leitos disponíveis para as parturientes. Na manhã de hoje, cerca de 20 mulheres aguardavam o momento do parto, sentadas em cadeiras e outras em pé. Eram 37 mulheres disputando local no espaço que comporta, no limite, 22 mulheres. As que saiam das salas de parto ficavam em macas nos corredores. O Centro Obstétrico conta com quatro salas de parto e quatro obstetras de plantão. Muitas vezes, com todas as salas ocupadas, os obstetras são obrigados a realizarem partos onde for possível. Além disso, a sala de observação de pacientes com gravidez de alto risco estava na sua capacidade máxima, com seis pacientes internadas.
O diretor administrativo do Hospital Santa Catarina, Antônio Alves, explica que a superlotação do hospital é decorrente, na maioria dos casos, do grande número de encaminhamentos de baixo risco (parto de risco habitual) oriundos do interior do Estado que não tem ofertado a suas munícipes o acesso ao serviço de assistência ao parto de baixo risco.

A obstetra Andressa Karla Jordão trabalha no Hospital Santa Catarina e na Maternidade Leide Morais. Ela conta que a situação das duas unidades hospitalares são semelhantes, com um quadro fixo de superlotação e mulheres esperando a hora do parto sentadas em cadeiras ou pé. A médica conta que chegou a transferir algumas pacientes para a Maternidade das Quintas, mas reforça a crítica de que boa parte das parturientes é oriunda de municípios vizinhos, com partos de risco habitual, que poderiam ser atendidas em seus municípios de origem. “Enquanto não conseguirmos resolver essa questão dos municípios, ficaremos nessa situação de superlotação, causando transtornos para todos”, afirma a obstetra. Na manhã de hoje, quatro mulheres aguardavam para fazer o parto cesáreo.

Corredor de clínica médica vira enfermaria
No setor do Pronto Socorro Adulto do Hospital Santa Catarina a situação não é diferente. Há alguns meses, o setor de observação médica já havia se tornado em leitos de enfermarias. Agora, são corredores que funcionam como leitos de enfermaria. É comum passar pelo corredor e encontrar pacientes em macas. Na segunda-feira passada, dia 23 de março, tinham 32 pacientes em macas. Hoje, esse número era de 15.
“Mas não era pra ter nenhum. Não estamos preparados para atender esses 15 pacientes extras, pois temos apenas três auxiliares para atender a todos. Infelizmente ter 15 pacientes internados é dizer que estamos tranqüilos, pois tem dias bem piores”, afirma Reinaldo Carlos de Lima, chefe da clínica médica do Pronto Socorro do Hospital Santa Catarina.

Hoje, são três clínicos atendendo no plantão do Pronto Socorro, no entanto apenas um fica no consultório, pois um fica responsável por dar assistência a sala de reanimação, que funciona como uma UTI improvisada, que tem capacidade para três pessoas, mas normalmente há oito pessoas internadas. O outro médico fica responsável por atender os pacientes que estão internados na enfermaria da observação médica e aos pacientes que estão nos corredores.

“Ultimamente, essa tem sido a realidade do Hospital Santa Catarina e agora com essa virose que ninguém sabe realmente o que é, está superlotando ainda mais o Hospital. A demanda está muito grande. A rede dos municípios não funciona, pois cerca de 80% desses pacientes são de Ceará-Mirim, Extremoz, São Gonçalo do Amarante, de municípios vizinhos, que poderiam estar dando assistência a esses pacientes de baixa complexidade. Eles não fazem e somos obrigados a atender esses pacientes”, destaca o chefe da Clínica Médica do Hospital Santa Catarina.

O resultado desse cenário não é outro. Segundo Reinaldo Carlos de Lima, a cada mês aumenta o número de atestado médico dos servidores, que tem trabalhado além da capacidade, diante da superlotação. “Os profissionais estão adoecendo, pois a demanda é muito grande. Tudo isso aumenta o risco de erro, pois a sobrecarga é grande. Além disso, há falta pontuais de medicamentos e insumos”, afirma.

Problema de infraestrutura

Uma denúncia de um paciente mostra graves problemas na infraestrutura do Hospital Santa Catarina. Em uma das enfermarias do Hospital, um problema no aparelho de ar condicionado tem causado transtorno aos pacientes, pois têm escorrido água pela parede, bem próximo às macas dos pacientes. O diretor administrativo do Hospital, Antônio Alves, reconheceu o problema e disse que desde ontem uma empresa terceirizada que presta serviço ao Hospital foi acionada para resolver a situação. A direção afirmou que ainda hoje o problema será solucionado.

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