quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

Sesap vai investigar se o Zika causou morte de jovem no RN

INVESTIGAÇÃO
A Secretaria de Saúde Pública do Rio Grande do Norte (Sesap) ainda não consegue determinar se a morte de uma jovem com zika, ocorrida em abril do ano passado, aconteceu em decorrência da doença ou se outros fatores também foram decisivos para que a vítima viesse a óbito. 
 
A presença do vírus no corpo da garota, que não teve a identidade revelada pelos representantes da pasta, porém, foi confirmada e uma investigação deve indicar os antecedentes clínicos da paciente para precisar a causa do falecimento.
 
Em uma entrevista coletiva convocada para explicar o caso, a secretaria estadual anunciou que manterá em sigilo, pelo menos nesse primeiro momento, informações sobre a vítima. A intenção é não prejudicar a apuração dos dados necessários à investigação.
 
De acordo com a coordenadora de promoção à saúde da Sesap, Cláudia Frederico, a família pode sentir-se constrangida por revelar detalhes da paciente e acabar impedindo o processo de análise do caso. 
 
“E também por uma questão de respeito ao luto dos familiares, que perderam um parente há menos de um ano”, disse no encontro realizado com a imprensa na Sala de Situação – espaço no prédio da Sesap dedicado ao monitoramento de doenças epidêmicas, como dengue, zika e chykungunya, além dos casos de microcefalia em bebês nascidos no RN.
 
Também não foi dito o hospital em que a jovem foi acolhida ou se ela recebeu o devido atendimento no local. Entretanto, apesar de não entrar em maiores detalhes, a coordenadora antecipou que a vítima residia em um município do interior potiguar, mais precisamente na região Agreste.
 
O vírus do zika foi identificado após uma série de exames feitos em amostras colhidas logo após o falecimento da garota e enviadas para o Instituto Evandro Chagas (IEC), no Pará. Inicialmente, a secretaria esperava a confirmação da morte por dengue, mas essa possibilidade acabou descartada depois que o vírus dessa doença não foi encontrado no corpo.
 
Com a negativa para dengue (erroneamente acusada no atestado de óbito da moça como causa da morte), a Sesap pediu ao IEC que fosse realizado o exame para detectar a presença do zika vírus, constatado no resultado final.
 
O próximo passo, a partir de agora, será determinar se a vítima tinha outras doenças mais delicadas que podiam ter sido agravadas pela enfermidade, transmitida pelo mosquito Aedes aegypti, ou se a Zika, de fato, foi o fator que a levou ao óbito.
 
Com o resultado dessa investigação, diz Cláudia Frederico, será possível traçar novas orientações à população sobre como lidar com a doença. “Cada achado contribui. Nós tínhamos a ideia, no começo, de que o zika era uma doença de sintomatologia leve, mas estamos vendo que não é tão leve assim”, afirma.
 
Ainda de acordo com dados fornecidos pela coordenadora, somente em 2015 foram 48 mortes notificadas como causadas pela dengue. No entanto, desse total, apenas 10 foram confirmados e outros 15 ainda aguardam o resultado dos exames feitos no Instituto Evandro Chagas.
 
Nos 23 restantes, o vírus da dengue não foi encontrado, o que aumenta a possibilidade de que novos casos de óbitos com zika sejam constatados em breve. Não há previsão para que sejam revelados os resultados desses exames.
 
Apenas nos primeiros 26 dias deste ano, a Sesap já contabilizava 158 casos notificados de zika em pacientes de todo o Estado. “Esse número é só o que chega pra gente, mas deve ser bem maior. Existe dificuldade dos municípios em darem um diagnóstico mais preciso e também no combate ao mosquito”, aponta Cláudia Frederico.
 
Dengue atingiu mais de cinco pessoas 
por dia na primeira quinzena do ano
 
Somente na primeira quinzena do ano, oitenta pacientes já haviam procurado as unidades de saúde da capital, apresentando sintomas de dengue. Em média, isso significa que 5,3 pessoas ficaram doentes por dia em Natal (ainda que sem a confirmação de ser dengue ou não). 
 
A informação está contida no último boletim epidemiológico da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), datado do dia 16 de janeiro, que mais uma vez apontou a Zona Norte como a região com mais casos notificados da doença.
 
O bairro de Nossa Senhora da Apresentação, onde há algumas semanas foi realizado um mutirão de combate ao mosquito Aedes aegypti com presença massiva dos agentes de endemias da cidade, continua liderando o ranking de pessoas com dengue, assinalando 26 casos sob suspeita desde o início deste mês.
 
Em seguida, aparecem os bairros de Potengi, também na Zona Norte, e Mãe Luiza, na Zona Leste. Juntos, porém, os dois ainda não são capazes de ultrapassar os números de Nossa Senhora da Apresentação, uma vez que registram 10 e 12 notificações da enfermidade, respectivamente.
 
Subdividida em dois distritos pelo Centro de Controle de Zoonoses (Norte I e Norte II), a região mais populosa de Natal registra mais da metade dos surgimentos da doença em 2016. 
 
De 3 de janeiro até o último dia 16 (período avaliado pelo boletim da SMS), 44 moradores da Zona Norte alegaram febre alta, dor na cabeça e nas articulações, ardência nos olhos e vermelhidão no corpo, sintomas clássicos da dengue, mas que também podem se confundir com os da febre chykungunya e da zika.
 
As ações de combate ao mosquito vetor continuam e está prevista  para a próxima semana (nos dias 3 e 4 de fevereiro), uma caminhada com distribuição de material informativo para a população nos bairros de Mãe Luiza e Potengi, Zona Leste da cidade. A intenção é angariar o maior número de cidadãos possível no trabalho de eliminação dos criadouros do Aedes aegypti.
 
Brasil tem 270 casos de microcefalia confirmados
 
Boletim divulgado hoje (27) pelo Ministério da Saúde confirma que 270 crianças nasceram com microcefalia por infecção congênita, mas não necessariamente pelo vírus Zika. A pasta ainda investiga 3.448 casos suspeitos de microcefalia.
 
Os números são referentes a registros feitos de outubro de 2015 a 20 de janeiro deste ano. A microcefalia pode ter como causa diversos agentes infecciosos, além do Zika, como sífilis, toxoplasmose, rubéola, citomegalovírus e herpes viral.
 
Em dezembro, o Ministério da Saúde chegou a confirmar 134 casos de microcefalia relacionada ao vírus Zika. Porém, a pasta voltou atrás e agora só reconhece seis casos de bebês que tiveram exame laboratorial positivo para Zika.
 
No ano de 2014, quando o registro da malformação não era obrigatório, foram notificados 147 casos. Em outubro de 2015, após o aumento do número de casos, o registro passou a ser obrigatório.
 
Ao todo, 4.180 casos suspeitos de microcefalia foram notificados, no período, em 830 cidades de 24 unidades da Federação. Desses, 462 foram descartados. Foram notificadas ainda 68 mortes por malformação congênita após o parto (natimorto) ou durante a gestação (aborto espontâneo). Destes, 12 foram confirmados para a relação com infecção congênita, todos na Região Nordeste, sendo dez no Rio Grande do Norte, um no Ceará e um no Piauí. Continuam em investigação 51 mortes e outras cinco já foram descartadas.
 
A Região Nordeste concentra 86% dos casos notificados, sendo que Pernambuco continua com o maior número de casos que permanecem em investigação (1.125), seguido dos estados da Paraíba (497), Bahia (471), Ceará (218), Sergipe (172), Alagoas (158), Rio Grande do Norte (133), Rio de Janeiro (122) e Maranhão (119).
 

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