O ex-chefe da Casa Civil José Dirceu "admitiu suas culpas" em
depoimento na tarde desta sexta-feira, 29, ao juiz federal Sérgio Moro,
afirmou o advogado dele, Roberto Podval, após o testemunho. Réu em ação
penal por corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa, Dirceu
está preso desde 3 de agosto.
Nesta sexta-feira,
ficou frente a frente com o juiz que mandou prendê-lo. Respondeu a todas
as perguntas na audiência, segundo o defensor. "Esclareceu tudo, disse
que é verdade que o Milton Pascowitch (lobista e delator) pagou a
reforma do seu apartamento e da sua casa", contou Podval.
"Os
seus pecados, o Zé Dirceu admitiu", afirmou o criminalista,
referindo-se ao relato do ex-ministro a Moro. "Tentou ser o mais claro
possível, o mais correto possível. É só olhar as propriedades, o
dinheiro que ele (Dirceu) tem para saber qual é a verdade disso. Muitos
delatores devolveram muito dinheiro, R$ 80 milhões, ficaram com R$ 40
(milhões), estão soltos e dando risada por aí. O Zé está preso."
Podval
disse: "O Zé Dirceu admitiu que fez negócio, que permitiu que o Milton
Pascowitch pagasse a reforma do apartamento e da casa. Ele disse. 'Isso
era uma coisa minha com Milton, eu iria pagar o Milton.' Imagino que o
Pascowitch se aproveitou da situação e 'vendeu' o Zé. O Zé sempre
permitiu ser usado por terceiros que ganharam milhões às custas do Zé.
Estão rindo aí, andando por aí, e o Zé Dirceu preso. É ridículo."
Dirceu
negou ter indicado o engenheiro Renato Duque para a Diretoria de
Serviços da Petrobras, disse o advogado. Duque, apontado como cota do PT
na estatal, também é réu da Lava Jato porque sob seu controle teria
operado um dos principais focos de corrupção na petrolífera.
José
Dirceu disse, segundo seu advogado: "Não indiquei Renato Duque, eu não o
conhecia, não o conhecia antes desses fatos (investigação da Lava
Jato). Havia um pedido do PSDB (para uma diretoria da estatal), uma
indicação absolutamente legítima. Eu já tinha uma indicação do PSDB por
conta de Furnas e havia uma outra pessoa indicada pelo PT. Eu preferi
indicar porque já tinha PSDB para Furnas. Eu não tinha nenhum interesse
pessoal com Renato Duque. Como ministro da Casa Civil, assinei. A última
palavra era minha para todas as pessoas, todos os ministérios. Eu não
tiro a minha responsabilidade."
O ex-ministro
declarou na audiência, segundo o relato de seu advogado: "O que me
chegou é que havia uma disputa entre duas pessoas, uma apoiada
legitimamente pelo PSDB e a outra pelo PT. Minha escolha foi a indicada
pelo PT. Tinha duas pessoas. Eu vou optar por escolher o do PT porque
alguém já havia sido indicado pelo PSDB. A demanda chegou para mim e eu
decidi assim. Renato Duque não era amigo meu, eu nunca tinha visto, não
sabia quem era."
Dirceu admitiu também ter usado
um jatinho de outro lobista e delator, Julio Camargo, afirmou Podval.
Segundo o advogado, o ex-chefe a Casa Civil falou: "Os aviões me foram
cedidos. A vida inteira me foram cedidos. Foram cedidos por ele (Júlio
Camargo), foram cedidos por outros. Eu sempre voei e sempre me deram."
Podval
disse: "Ou seja, nunca ninguém escondeu isso. Até então era bacana ser
amigo do Zé Dirceu. Era bacana oferecer o avião para o Zé Dirceu. Claro,
nas costas dele estavam ganhando dinheiro em cima disso."
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