SÃO PAULO
O executivo Cássio Chebabi, alvo da Operação Alba Branca - investigação
sobre fraudes na merenda escolar -, declarou à polícia que o lobista
Marcel Ferreira Júlio lhe contou que o ex-secretário estadual da
Educação (gestão Geraldo Alckmin, do PSDB) Herman Voorwald "recebeu R$
100 mil" para não contratar a Cooperativa Orgânica Agrícola Familiar
(Coaf) e manter negócio com uma antiga fornecedora da pasta.
A
Coaf é apontada como centro do esquema de venda superfaturada de
produtos agrícolas e suco de laranja destinados à merenda. Ao menos 22
prefeituras e contratos da Secretaria da Educação estão sob
investigação.
Chebabi diz que um vendedor da Coaf, César
Bertholino, também lhe disse sobre a suposta propina ao ex-secretário.
Voorwald caiu do comando da Educação em dezembro, em meio ao projeto de
reorganização escolar que provocou protestos de estudantes. Ele voltou a
dar aulas de na Faculdade de Engenharia de Guaratinguetá, no Vale do
Paraíba, onde reside. Voorwald desafia os acusadores a provar o que
dizem.
Chebabi é presidente da Coaf. Ele depôs no dia 21, 48
horas depois que a Alba Branca foi deflagrada pela Polícia Civil e pelo
Ministério Público estadual em Bebedouro. Em seu relato, ao mencionar
Voorwald, Chebabi faz menção ao presidente da União dos Vereadores do
Estado de São Paulo, Sebastião Misiara - outros investigados disseram
que Misiara seria uma espécie de "intermediador" da Coaf, abrindo espaço
para a cooperativa em prefeituras e no Estado. Misiara nega exercer tal
papel.
"No final de 2013, Sebastião Misiara intermediou junto à
Secretaria de Educação do governo do Estado de São Paulo a contratação
da Coaf para fornecimento de suco de laranja no valor de R$ 8 milhões e,
muito embora tenha sido feito empenho pelo governo federal naquele
valor, justamente pela falta de acerto de propina o pagamento não foi
realizado nem o produto fornecido", disse Chebabi.
Segundo ele, a
Coaf acabou arcando com um estoque superior a R$ 50 mil mensais do
produto "que já estavam produzindo para tal finalidade". "Isso porque a
empresa que fornecia anteriormente à Secretaria de Estado da Educação,
ou seja, há mais de 20 anos, chamada Citro Cardilli, já tinha acerto com
aquele ente público, de sorte que seus vendedores César (Bertholino) e o
lobista Marcel disseram que a mesma pagou R$ 100 mil para o então
secretário de Educação Herman não assinar o contrato com a Coaf e
realizar novo procedimento para contratação desta empresa, o que de fato
se deu", relatou Chebabi.
Investigação
Marcel é filho do
ex-deputado Leonel Júlio, do antigo MDB, cassado em 1976 no "escândalo
das calcinhas" - o então presidente da Assembleia paulista fizera uma
compra alentada de peças de lingerie em viagem ao exterior e teve seus
direitos políticos retirados.
Segundo a Alba Branca, Marcel agia
em gestões municipais e autarquias. O lobista mantinha contatos na
Assembleia Legislativa, cujo presidente, deputado Fernando Capez (PSDB),
é citado como suposto beneficiário de propinas do esquema da merenda.
Capez nega ligação com o esquema.
por: Fausto Macedo/Estadão Conteúdo
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