A população do bairro de Emaús, em Parnamirim, Região
Metropolitana de Natal, reclama da falta de segurança na localidade. De
acordo com os moradores, os assaltos são diários e ninguém se sente bem
para sair na rua nem à luz do dia.
“A gente vê uma
moto e já fica com medo”, disse um morador da comunidade, que não quis
se identificar. Isso porque a maior parte dos crimes é praticada por
homens em motocicletas, que se valem dos capacetes, obrigatórios para
guiar os veículos, para esconder a identidade.
A delegacia que atende ao bairro de Emaús,
1ª DP de Parnamirim, informou que neste primeiro mês de 2016, até o dia 2
de fevereiro, foram registrados 77 roubos na região sob jurisdição da
distrital.
De acordo com os dados da DP, foram
três arrastões e 27 furtos a residências no mesmo período. Os
indicadores específicos de Emaús não puderam ser precisados pelos
agentes da DP, em virtude da falta de efetivo para dar contas do
trabalho do registro de Boletins de Ocorrência BOs), investigar os
crimes e analisar as estatísticas.
Os números também não incluem os casos subnotificados, quando os crimes deixam de ser registrados pelas vítimas na delegacia.
Fato
é que quem mora no bairro diz temer sair de casa por conta da onda de
violência. O NOVO esteve lá ontem (2) e conversou com vários moradores.
A
empresária Carmen Virginia de Araújo, de 57 anos de idade, foi a única
que concedeu entrevista permitindo ser identificada. “Se a gente quer
uma delegacia tem que ir até o Centro de Parnamirim. Muita gente não vai
porque é longe”, diz.
Há 1 ano e meio a empresária tem um
restaurante em Emaús, e há 18 anos vive no bairro. “Nunca passamos por
uma situação dessas”, reclama. A empresária conta que, na segunda-feira
da semana passada, dia 25 de janeiro, ocorreu uma série de assaltos que
teve entre as vítimas a sua filha. “Vi na câmera de segurança que eram
8h43 da manhã quando o homem abordou o pessoal. Ele estava em uma moto”,
relata.
O primeiro crime aconteceu na Rua Luiz
Jerônimo Bezerra. Um homem, que preferiu ter a identidade preservada,
estava sentado na frente de um ponto comercial e assistiu à ação.
“Ele
chegou numa moto e abordou uma mulher com a filha, pedindo os celulares
delas. Elas jogaram na direção da moto e ele recusou um dos aparelhos,
dizendo que era uma porcaria. Depois virou para mim e eu disse que não
tinha celular. Sorte que tinha deixado em casa”, conta o morador.
A
rua é bastante movimentada e o trecho em que aconteceu o crime tem
algumas lojas instaladas, mas todas estavam fechadas no momento do
assalto.
Em seguida, o mesmo suspeito partiu na
motocicleta para uma rua perpendicular, a Rua Padre João Maria. Por lá
assaltou mais gente, inclusive a filha de Dona Carmen. A moça fechava o
portão depois de colocar o lixo na calçada quando chegou o assaltante.
“Ela foi abordada quando já estava entrando em casa”, complementa.
Num
ponto de ônibus próximo dali, na Rua São Caetano, mais moradores foram
assaltados. “Levou o celular de todo mundo que estava esperando o
coletivo”, afirma Dona Carmen.
O homem, que não
foi identificado pelas pessoas da comunidade, fugiu e não foi mais
visto. Dona Carmen diz que entrou em contato com o Centro Integrado de
Operações de Segurança Pública (Ciosp), mas a polícia não deu pronto
retorno. “Estamos esperando a viatura até agora”, ironizou a empresária.
Violência chega às residências
Três
dias mais tarde dos arrastões em série registrados no bairro, mais um
crime deixou a comunidade de Emaús com medo. “Assaltaram a casa do
professor e levaram tudo”, adiantou Dona Carmen Virginia.
Foi
no mesmo quarteirão dos roubos a transeuntes. Criminosos armados
invadiram a residência do professor universitário Francisco Ivan e o
renderam dentro do imóvel, segundo informaram os vizinhos. Em seguida o
bando iniciou o arrastão na residência.
A
reportagem tentou falar com o professor, entretanto ele não estava em
casa e não havia ninguém que soubesse informar o seu número de
telefone.
Quando o carro da reportagem do NOVO
chegou às ruas do bairro, muita gente se aproximou para fazer
reclamações, todos sem se identificar por temerem represálias dos
assaltantes. “Não diga nem meu nome, mas Emaús está um caso sério.
Antigamente não era assim”, afirmou uma senhora que trabalha em um
mercadinho na região.
Dona Carmen, a única que se
identificou, lembra que, anos atrás, havia menos infraestrutura de
pavimentação e menos casas construídas no bairro, porém a violência
também estava distante de Emaús. “Nós ficávamos conversando nas calçadas
até tarde da noite e não tinha problema algum”, conta.
O
restaurante do qual ela é proprietária está sempre de portas trancadas e
é vigiado por câmeras, assim como a casa onde mora, que fica no terreno
ao lado. “Quando chega um cliente, a gente só abre depois que ele se
identifica. Não tem hora do dia para acontecer, agora mesmo nós corremos
perigo aqui do lado de fora”, alardeou.
Um dos
funcionários dela, o cozinheiro do estabelecimento, que mora em Morro
Branco, em Natal, precisa sair acompanhado de um vigilante quando larga
do trabalho depois das 20h. “Não dá para ele ir para a parada de ônibus
sozinho”, reforça.
Segurança paga
A
vigilância privada, inclusive, é uma prática comum, de acordo com Dona
Carmen. “Nós só vemos viaturas aqui em casos muito graves, como
assassinatos, então precisamos recorrer a essas empresas”. Os vigias
trabalham das 21h às 6h, todos os dias. “Mas, como eu disse, não tem
hora certa para o assalto”. Em quase todas as ruas há imóveis com placas
de “vende-se” e “aluga-se”, junto a telefones para contato. “Quem vai
querer morar aqui, como essa violência que está?”, questiona Dona
Carmen. Um casal de vizinhos da empresária contou que sempre que chegam
na residência onde moram, telefonam para quem estiver em casa abrir o
portão, antes mesmo de chegar, na tentativa de evitar o roubo. “Mas não
tem jeito; eles abordam de todo jeito”.
por: Rafael Babosa/NOVO
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