O Ministério Público realizou ontem uma operação para combater a
atuação do Sindicato do RN, facção criminal que age dentro e fora das
penitenciárias do Estado. A organização foi alvo de matéria do NOVO
publicada no dia 24 de janeiro passado, em que contou como os apenados
se articulavam para manter a facção atuante do lado de fora dos muros
dos presídios.
De acordo com o MP, foram expedidos
39 mandados de prisão e 20 mandados de busca e apreensão pelos Juízes
de Direito das Varas Criminais das Comarcas de Apodi, Caicó e São
Gonçalo do Amarante.
Dos trinta e nove mandados,
27 dizem respeito a investigados já presos e que de dentro dos presídios
atuam emitindo ordens para a prática dos mais diversos ilícitos em
várias Comarcas do Estado.
O Ministério Público
garante que líderes e braços operacionais dessa facção foram
identificados e são investigados por crimes de organização criminosa,
homicídios, roubos, tráfico ilícito de entorpecentes, dentre outros.
A
investigação tem origem a partir de informes coletados nas Operações
Alcatraz e Citronela, deflagradas respectivamente em dezembro de 2014 e
setembro de 2015, observando-se que as atividades do “Sindicato do RN”
avançaram ao longo do ano de 2015, mesmo com isolamento de alguns de
seus líderes no sistema penitenciário federal, ocorrendo uma sucessão de
lideranças.
O MP destacou os mandados de prisões
das seguintes lideranças: Francisco das Chagas Rosa da Silva, conhecido
como “Chaguinha”, um dos fundadores e membro da Linha Final; Jamerson
César da Silva, conhecido como “Passarinho” ou “Voador”, membro da Linha
Final; Gilmar da Cruz Silva, conhecido como “Curau”, membro do
Conselho.
Teve a prisão decretada também Evan
Ferreira Machado, conhecido como “Gordo Evan”, atacadista do tráfico de
drogas; Wiliam Ferreira da Cunha, conhecido como “Oião” ou “Brahma”,
membro do Conselho; Bruno Pierre Araujo Falcão da Silva, conhecido como
“Pierre” ou “Wolverine”, membro do Conselho.
A
Justiça também expediu mandado para Tarcísio Oliveira da Silva,
conhecido como “Macaco” ou “Gorila”, membro do Conselho; João Maria
Silva de Oliveira, também conhecido por “Seba”, “Cego” ou “Pirata“,
membro do Conselho; Estevam Sales da Silva, o “My Friend”, membro do
Conselho; Gabriel Matheus Costa Torres, vulgo “Lacoste” ou “Jacaré”,
membro do Conselho; Gabriel Morais, conhecido como “Pesadão”, liderança
em Caicó.
A lista de mandados também inclui
Orlando Vasco dos Santos, membro do Conselho; Neemias de Lima
Figueiredo, conhecido como “Miau”, membro do Conselho; e Severino dos
Ramos Feliciano Simão, conhecido como “Tirinete”, membro do Conselho.
No
entanto, nem todos foram encontrados. Ontem, cinco pessoas foram presas
em flagrantes por crimes de tráfico ilícito de entorpecentes e porte
ilegal de arma de fogo.
A Justiça determinou ainda
o bloqueio de 79 contas bancárias usadas pela facção, pertencentes a
titulares que estão sendo investigados quanto à colaboração com a
organização criminosa.
Sindicato nasceu do PCC
Do
estudo das peças investigativas que abordam o histórico do “Sindicato
do RN”, ou “Sindicato do Crime” ou ainda “SDC” observa-se que a sua
fundação se deu no dia 27 de março de 2003 por dissidência de detentos
que tiveram participação nas atividades do Primeiro Comando da Capital
(PCC) no Rio Grande do Norte, os quais compreenderam a sistemática de
funcionamento da organização e romperam com por discordarem do grande
rigor das regras do estatuto do grupo.
Segundo o
MP, os apenados discordavam da forma de tratamento com inadimplentes com
a contribuição mensal e do valor desta mensalidade, além da
insatisfação com a obrigação de prestar contas a detentos de outros
estados brasileiros.
A organização paulista acabou
compartilhando a expertise de métodos de atuação criminosa, capacitando
os presos potiguares quanto ao funcionamento desse tipo de organização,
para assim atuarem de forma mais eficiente.
O MP
afirma que esses homens ganharam autonomia e buscaram formar uma
organização autônoma, inicialmente rudimentar, mas que, subestimada pelo
Estado, foi progressivamente se aperfeiçoando, tendo como metas o
controle do interior dos presídios e de territórios fora deles para o
tráfico, o que denominam “quebradas”.
A relação
dessa história com a Operação Citronela, segundo o MP, se dá em razão de
histórico de “sangrenta” disputa pelo monopólio do comércio do tráfico
de drogas na região da Ponte de Igapó.
As
apurações dão conta de que ocorreu uma competição entre o grupo do
traficante Joel Rodrigues da Silva, que detinha o domínio da comunidade
do “Mosquito” com traficantes que atuavam na comunidade Beira Rio, zona
norte de Natal, e na “Baixa da Coruja”, no Jardim Lola, em São Gonçalo
do Amarante.
A partir disto, se observou a necessidade de investigar também esses outros traficantes.
De
acordo com o Ministério Público, quando Joel Rodrigues, o Joel do
Mosquito, conseguiu avançar e se impor na comunidade Beira Rio houve uma
reação dos primos Diego da Silva Alves, conhecido como Diego Branco, e
Francisco das Chagas Rosa da Silva, conhecido como Chaguinha, que
detinham e, segundo o MP, ainda detêm o monopólio do tráfico na “Baixa
da Coruja”. O grupo buscava defender desse território e outros em São
Gonçalo do Amarante, sendo ambos fundadores do “Sindicato do RN”.
Caso Anxo
Também
ontem, foi preso em São Gonçalo do Amarante o investigado William
Carlos Souza de Oliveira, conhecido como “Lobo”, que, segundo as
investigações, é apontado como autor de diversos assassinatos a serviço
da facção. Dentre essas mortes, ainda de acordo com o MP, está a do
espanhol Anxo Anton Valiño Gonzalez, assassinado no dia 6 de agosto de
2015. A justificativa para o homicídio por ter se estabelecido no Jardim
Lola, em razão da mera suspeita de que o estrangeiro estaria
articulando traficar na localidade.
Guerra nos presídios
O
MP afirma que foi constatado ainda que os membros do “Sindicato do RN”
buscaram incessantemente desestabilizar o interior das grandes unidades
prisionais para conseguir o fim das denominadas “trancas”, ou seja, da
prisão em unidade separada dos demais detentos no interior dos
pavilhões. Paulatinamente, os membros da organização aproveitaram-se do
vácuo causado pela ação ineficiente do Estado, segundo o MP, e foram
ocupando espaços, promovendo o domínio das ações do portão do pavilhão
para dentro, consumando o fim das “trancas” com reiteradas depredações
das unidades, sobretudo entre os meses de março a agosto de 2015,
arrancando as grades e impedindo o acesso regular dos agentes
penitenciários.
No dia 21 de janeiro de 2016
fugiram da Penitenciária de Alcaçuz duas das principais lideranças da
facção, que seguem foragidos e passaram a atuar fortemente em crimes de
roubo. São eles Gilmar da Cruz Silva, conhecido como “Curau”, que tem
atuação no Agreste do Estado e Francisco das Chagas Rosa da Silva, o
“Chaguinha”, que comanda o tráfico de drogas nas comunidades Jardim Lola
e Padre João Maria.
por:NOVO
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