A ex-governadora e atual vice-prefeita de Natal, Wilma de Faria,
anunciou ontem sua saída do Partido Socialista Brasileiro (PSB). O
anúncio, por meio de seus perfis nas redes sociais, destacou que o PSB
está “acéfalo”, pautado por práticas antidemocráticas e que está sendo
tirado dela de forma desrespeitosa. Wilma convocou seus liderados a
também deixarem a sigla e disse que estará definindo novos rumos nos
próximos dias. Contudo, seus correligionários detentores de mandatos
ainda pretendem analisar o quadro antes de tomar decisão.
Ao
revelar o que era especulado há meses, a vice-prefeita de Natal
criticou o comportamento que o PSB tem adotado. Disse que a morte de
Eduardo Campos, em 2014, deixou o PSB acéfalo, sem direção, porque os
lideres nacionais da sigla não têm conseguido manter a estatura a que o
partido tinha chegado. “Deu lugar a uma sigla pautada por práticas
antidemocráticas com as quais não me identifico e em que não vejo
respeitadas suas próprias afirmações programáticas”, escreveu.
Mas
foi a recomposição do partido no estado que mais intrigou Wilma, até
ontem dirigente estadual da legenda. Ela sinalizou que a chegada do
deputado federal Rafael Motta à legenda teve o objetivo de desbancá-la
de forma impositiva, fato confirmado por outros membros do partido.
“O
que não se pode aceitar é a forma `kafkiana’, desrespeitosa, sem
diálogo, com atropelos e com imposições inimagináveis com que um grupo
local armou, com inexplicável respaldo da presidência nacional, para
apropriar-se do partido no nosso estado”, disse.
Segundo
Wilma, pessoas sem qualquer identidade programática nem compromisso com
as bases do PSB agiram de forma oportunista, aproveitando o exato
momento em que ela foi submetida a um tratamento de saúde. “Diante dessa
situação, não me resta alternativa a não ser retirar-me do partido e
conclamar meus companheiros a fazerem o mesmo”.
A
ex-governadora ajudou a construir o PSB com quatro mandatos de prefeito
em Natal e dois de governador do estado. Ela vai se reunir nos próximos
dias com seus liderados e com os partidos com quem tem conversado
paralelamente a essas indefinições do PSB. “Após isso, anunciarei o
caminho que vamos seguir (...) Estou tranquila e convicta de que estamos
tomando a melhor decisão para meus correligionários, meus companheiros e
para o povo do Rio Grande do Norte”.
A decisão de
Wilma ocorre após o presidente nacional do PSB, Carlos Siqueira, vir a
Natal e reunir-se com ela e lideranças do partido, na semana passada,
quando avisou sobre as mudanças que iria promover no diretório estadual.
Procurada há dois dias, a Executiva Nacional da legenda não se
pronunciou sobre o assunto.
Novo dirigente
Em
reunião com os vereadores do PSB em Natal no último fim de semana, o
presidente do diretório nacional, Carlos Siqueira, avisou que o deputado
Rafael Motta, que deixou o PROS para integrar o PSB, seria o novo
presidente da legenda no lugar de Wilma.
O
vereador Júlio Protásio conta que sugeriu a Siqueira outra forma de
realizar as mudanças no comando do partido, mas não foi atendido.
“Sugeri que não agisse de forma antidemocrática, porque o PSB é de um
partido de centro-esquerda com tradição democrática, assim, entregasse o
diretório municipal ao deputado Rafael Motta e deixasse o estadual com
Wilma”, relata.
A ideia de Júlio era de que na convenção do
próximo ano, em votação, Rafael assumisse a liderança do partido no
estado. “Mas ele (Carlos Siqueira) deixou claro que qualquer proposta
passaria pelo aval de Rafael, que só não seria presidente do partido se
não quisesse”, completa.
Para justificar a
decisão, Carlos Siqueira teria dito que faria intervenção no diretório a
pedido de militantes e dirigentes partidários. Rafael Motta também
atende a um desejo da legenda de ter representatividade na Câmara
Federal. “Caberá a Rafael reunir a bancada e dizer o que vai fazer com o
partido”, diz.
O deputado Rafael Motta disse que
não se pronunciaria sobre o assunto, visto que não houve nenhum
comunicado da parte da Executiva nacional sobre as especulações em torno
do seu nome.
Correligionários indecisos
Aceitar
a convocação de Wilma de Faria para também deixar PSB ainda passará por
uma boa discussão interna dos seus ex-correligionários dentro da
legenda. Vereadores e deputados ainda querem saber como o novo
presidente, que ainda será anunciado pelo partido, pretende conduzir a
sigla. Júlio Protásio, que já recebeu convite do PSDC e mantém diálogo
com o PTB e PDT, ainda não sabe o que fazer.
O
deputado Tomba Faria, disse que deve se reunir hoje com o deputado
Ricardo Motta, pai de Rafael Motta e que também vai ajudar a comandar a
legenda, para saber as pretensões do novo grupo. “Estou há muito tempo
no PSB e preciso ver o que é melhor para mim e para meu partido. Não
estou pensando em sair. Tenho história no partido”, conta
A
deputada Márcia Maia deve seguir a mãe nos novos rumos, mas ainda não
confirmou sua saída do PSB. Disse apenas que no momento oportuno irá se
pronunciar sobre o assunto. Ela e Wilma também receberam convites para
integrar outras legendas.
O presidente da Câmara
Municipal, vereador Franklin Capistrano também não sabe se vai seguir
Wilma. “Foi uma decisão pessoal dela (Wilma). Não tenho a pretensão de
sair, a ideia é continuar no PSB, mas vamos avaliar o quadro político”,
avalia Capistrano.
O vereador bispo Francisco de
Assis esteve fora de Natal durante todos os fatos ocorridos dentro do
partido, mas disse que não concorda com a forma que as decisões foram
conduzidas. “Fiquei triste com o acontecido, mas política é isso e tem
suas surpresas. A verdade é que não posso dizer se vou seguir o caminho
dela. Por enquanto estou somente aguardando. Vou conversar com todos
antes”, planeja.
Nenhum comentário:
Postar um comentário