quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016

Wilma sai do PSB mas correligionários ficam

POLÍTICA
 
A ex-governadora e atual vice-prefeita de Natal, Wilma de Faria, anunciou ontem sua saída do Partido Socialista Brasileiro (PSB). O anúncio, por meio de seus perfis nas redes sociais, destacou que o PSB está “acéfalo”, pautado por práticas antidemocráticas e que está sendo tirado dela de forma desrespeitosa. Wilma convocou seus liderados a também deixarem a sigla e disse que estará definindo novos rumos nos próximos dias. Contudo, seus correligionários detentores de mandatos ainda pretendem analisar o quadro antes de tomar decisão. 
 
Ao revelar o que era especulado há meses, a vice-prefeita de Natal criticou o comportamento que o PSB tem adotado. Disse que a morte de Eduardo Campos, em 2014, deixou o PSB acéfalo, sem direção, porque os lideres nacionais da sigla não têm conseguido manter a estatura a que o partido tinha chegado. “Deu lugar a uma sigla pautada por práticas antidemocráticas com as quais não me identifico e em que não vejo respeitadas suas próprias afirmações programáticas”, escreveu.
 
Mas foi a recomposição do partido no estado que mais intrigou Wilma, até ontem dirigente estadual da legenda. Ela sinalizou que a chegada do deputado federal Rafael Motta à legenda teve o objetivo de desbancá-la de forma impositiva, fato confirmado por outros membros do partido.
 
 “O que não se pode aceitar é a forma `kafkiana’, desrespeitosa, sem diálogo, com atropelos e com imposições inimagináveis com que um grupo local armou, com inexplicável respaldo da presidência nacional, para apropriar-se do partido no nosso estado”, disse.
 
Segundo Wilma, pessoas sem qualquer identidade programática nem compromisso com as bases do PSB agiram de forma oportunista, aproveitando o exato momento em que ela foi submetida a um tratamento de saúde. “Diante dessa situação, não me resta alternativa a não ser retirar-me do partido e conclamar meus companheiros a fazerem o mesmo”. 
 
A ex-governadora ajudou a construir o PSB com quatro mandatos de prefeito em Natal e dois de governador do estado. Ela vai se reunir nos próximos dias com seus liderados e com os partidos com quem tem conversado paralelamente a essas indefinições do PSB. “Após isso, anunciarei o caminho que vamos seguir (...) Estou tranquila e convicta de que estamos tomando a melhor decisão para meus correligionários, meus companheiros e para o povo do Rio Grande do Norte”.
 
A decisão de Wilma ocorre após o presidente nacional do PSB, Carlos Siqueira, vir a Natal e reunir-se com ela e lideranças do partido, na semana passada, quando avisou sobre as mudanças que iria promover no diretório estadual. Procurada há dois dias, a Executiva Nacional da legenda não se pronunciou sobre o assunto.
 
Novo dirigente
 
Em reunião com os vereadores do PSB em Natal no último fim de semana, o presidente do diretório nacional, Carlos Siqueira, avisou que o deputado Rafael Motta, que deixou o PROS para integrar o PSB, seria o novo presidente da legenda no lugar de Wilma. 
 
O vereador Júlio Protásio conta que sugeriu a Siqueira outra forma de realizar as mudanças no comando do partido, mas não foi atendido. “Sugeri que não agisse de forma antidemocrática, porque o PSB é de um partido de centro-esquerda com tradição democrática, assim, entregasse o diretório municipal ao deputado Rafael Motta e deixasse o estadual com Wilma”, relata.
 
A ideia de Júlio era de que na convenção do próximo ano, em votação, Rafael assumisse a liderança do partido no estado. “Mas ele (Carlos Siqueira) deixou claro que qualquer proposta passaria pelo aval de Rafael, que só não seria presidente do partido se não quisesse”, completa.
 
Para justificar a decisão, Carlos Siqueira teria dito que faria intervenção no diretório a pedido de militantes e dirigentes partidários. Rafael Motta também atende a um desejo da legenda de ter representatividade na Câmara Federal. “Caberá a Rafael reunir a bancada e dizer o que vai fazer com o partido”, diz.
 
 O deputado Rafael Motta disse que não se pronunciaria sobre o assunto, visto que não houve nenhum comunicado da parte da Executiva nacional sobre as especulações em torno do seu nome.
 
Correligionários indecisos
 
Aceitar a convocação de Wilma de Faria para também deixar PSB ainda passará por uma boa discussão interna dos seus ex-correligionários dentro da legenda. Vereadores e deputados ainda querem saber como o novo presidente, que ainda será anunciado pelo partido, pretende conduzir a sigla. Júlio Protásio, que já recebeu convite do PSDC e mantém diálogo com o PTB e PDT, ainda não sabe o que fazer. 
 
O deputado Tomba Faria, disse que deve se reunir hoje com o deputado Ricardo Motta, pai de Rafael Motta e que também vai ajudar a comandar a legenda, para saber as pretensões do novo grupo. “Estou há muito tempo no PSB e preciso ver o que é melhor para mim e para meu partido. Não estou pensando em sair. Tenho história no partido”, conta 
 
A deputada Márcia Maia deve seguir a mãe nos novos rumos, mas ainda não confirmou sua saída do PSB. Disse apenas que no momento oportuno irá se pronunciar sobre o assunto. Ela e Wilma também receberam convites para integrar outras legendas.
 
O presidente da Câmara Municipal, vereador Franklin Capistrano também não sabe se vai seguir Wilma. “Foi uma decisão pessoal dela (Wilma). Não tenho a pretensão de sair, a ideia é continuar no PSB, mas vamos avaliar o quadro político”, avalia Capistrano.
 
O vereador bispo Francisco de Assis esteve fora de Natal durante todos os fatos ocorridos dentro do partido, mas disse que não concorda com a forma que as decisões foram conduzidas. “Fiquei triste com o acontecido, mas política é isso e tem suas surpresas. A verdade é que não posso dizer se vou seguir o caminho dela. Por enquanto estou somente aguardando. Vou conversar com todos antes”, planeja.
 

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