RIO DE JANEIRO
O ex-governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral (Fábio Motta/Estadão Conteúdo)
O pastor Carlos Serejo, responsável pela doação de um “cinema particular” à cadeia José Frederico Marques, em Benfica, Zona Norte do Rio de Janeiro, onde está preso o ex-governador do Rio Sérgio Cabral (PMDB), declarou nesta sexta-feira que foi induzido por Cabral a assinar o documento. A doação de um home theater,
uma TV de LED de 65 polegadas, um aparelho de Blu-ray e 160 CDs com
filmes havia sido feita em nome da Igreja Batista do Méier, à qual
Cerejo pertence, e da Comunidade Cristã Novo Dia. As duas instituições
negaram ter doado o equipamento, avaliado em cerca de 23.000 reais.
Conforme nota publicada pelo advogado Heckel Garcez, que
defende Serejo, Sérgio Cabral chamou o pastor e a missionária Clotildes
de Moraes à biblioteca da cadeia, na tarde da sexta-feira da semana
passada, enquanto um culto acontecia na prisão. No encontro, Cabral
teria dito a ambos que era necessário que representantes de alguma
instituição religiosa ou filantrópica assinassem a doação dos
eletrônicos, que já estavam no presídio, “a fim de legitimar o uso
destes pelos presos”.
“Segundo a fala de Sérgio Cabral, o diretor da entidade
prisional teria alegado que o uso de todos os equipamentos só poderia
ser oficializado caso houvesse o documento de doação”, diz o texto da
defesa do pastor. “O preso solicitou ajuda e falou que era só assinar o
papel, e esse favor foi feito”, completa Garcez, que afirma que o
religioso agiu com “extrema boa fé e no claro intento de ajudar o
próximo”.
A nota também classifica Cabral como “um homem ardiloso” e
diz que o pastor foi “enganado”, “usado” e “manipulado” pelo
peemedebista, preso desde novembro de 2016 na Operação Lava Jato e já condenado a 72 anos de prisão em três processos.
“É fato que o Sr. Carlos Serejo e os outros agentes
religiosos foram induzidos (enganados) a cometer o equívoco de assinar a
doação (se é que tal documento possui validade para tanto, posto que
somente a presidência e a diretoria das instituições têm legitimidade
para isso), sendo usados e manipulados por um homem ardiloso cuja vida
traduz a sua astúcia e o poder de manobra para conseguir o que almeja”,
ataca o defensor.
Além de Serejo, figuram como signatários do documento que
oficializa a doação a missionária Clotildes e o pastor Cesar Dias de
Carvalho. Ainda segundo o texto do advogado Heckel Garcez, os religiosos
pretendiam “colaborar com a ressocialização dos presos” e não
“beneficiar exclusivamente o preso Sérgio Cabral”.
Por meio de um vídeo publicado no Facebook, o pastor João
Reinaldo Purin Jr., presidente da Igreja Batista do Méier, ressaltou que
os pastores envolvidos no episódio foram suspensos por tempo
indeterminado. Ele reafirma que as doações não foram feitas pela
instituição e que seus subalternos, ao assinarem a doação,
“ultrapassaram suas atribuições e limites”.
Diante da repercussão da notícia da doação, a Secretaria de Administração Penitenciária do Rio (Seap) suspendeu a instalação de cinemateca,
que foi doada ao orfanato Casa do Menor São Miguel Arcanjo, em Nova
Iguaçu, na Baixada Fluminense. Por meio de nota, a Seap declarou que
“recebe sempre doações de entidades religiosas cadastradas previamente”.
“Tais doações somente são recebidas mediante termo de doação assinado
pelos doadores e com as referidas notas fiscais dos produtos doados”.
(Por
João Pedroso de Campos/Veja.Abril.com.br)
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