quinta-feira, 2 de maio de 2019

Com Maduro na mira, bolivarianismo caminha para fim melancólico na região. Em 2010, encontro de líderes da Unasul na Argentina reunia Lula, Kirchner, Mujica, Chávez, Evo e Correa e estampava o domínio esquerdista na América do Sul

EM QUEDA
 Alan García, Cristina Kirchner, Evo Morales, Fernando Lugo, Hugo Chávez, José Mujica, Lula, Néstor Kirchner e Rafael Correa
 Do alto à esquerda, no sentido horário: Alan García, Cristina Kirchner, Evo Morales, Fernando Lugo, Hugo Chávez, José Mujica, Lula, Néstor Kirchner e Rafael Correa (Folhapress; Getty Images; AFP/Divulgação)

No dia 4 de maio de 2010, em Los Cardales, na Argentina (foto abaixo), um encontro de cúpula da Unasul (União das Nações Sul-Americanas) reuniu a maioria dos presidentes do subcontinente que chegaram ao poder na onda de esquerda que varreu a região.

A onda popularizou a expressão bolivarianismo, uma referência a Simón Bolívar (1783-1830), um dos principais lutadores pela independência da América espanhola, popularizada pelo venezuelano Hugo Chávez, que abriu a série de vitórias de esquerda na região ao chegar ao poder em 1999.

O bolivarianismo é uma ideologia política baseada principalmente no discurso anti-imperialista, na busca da união dos países sul-americanos e de um programa de fundo marxista que buscava o que se chamava de “socialismo do século XXI”.

A reunião em Los Cardales era para dar posse ao primeiro secretário-geral da Unasul, o ex-presidente argentino Néstor Kirchner, ele também um dos pioneiros no movimento de esquerda que tomou a região entre o fim dos anos 1990 e o início dos anos 2000.

Dos dez maiores países da América do Sul, apenas a Colômbia, com Álvaro Uribe, e o Chile, com Sebástian Piñera (que havia acabado de suceder à também esquerdista Michelle Bachelet), eram dirigidos por um presidente de outro espectro político – ambos eram considerados neoliberais e alinhados aos interesses dos Estados Unidos na região.

Na foto abaixo, estão o brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva, o paraguaio Fernando Lugo, o boliviano Evo Morales, o equatoriano Rafael Correa, a argentina Cristina Kirchner (que sucedeu o marido, Néstor) e o uruguaio José Mujica.

 Líderes em encontro da União das Nações Sul-Americanas (Unasul)
 Líderes em encontro da União das Nações Sul-Americanas (Unasul) em Los Cardales, na Argentina – 4/5/2010 (Natacha Pisarenko/AP)

Não aparece na foto, mas também estava no encontro o peruano Alan García, que era presidente de honra da Internacional Socialista e havia chegado ao poder em 2006 pelo partido Aprista, de centro-esquerda – alvejado por acusações de corrupção, em esquema envolvendo a brasileira Odebrecht, ele se matou no dia 17 de abril deste ano ao receber um mandado de prisão.

A situação política da América do Sul, no entanto, mudou radicalmente nos últimos anos, tanto que, em abril deste ano, os novos governantes de direita na região (Jair Bolsonaro, entre eles), enterram a Unasul, considerada de viés esquerdista, e a substituíram pela Prosul.

O fato é que, da derrocada petista no Brasil – com a cassação de Dilma Rousseff e a prisão de Lula – à ofensiva liderada atualmente pela oposição na Venezuela ao sucessor de Chávez, Nicolás Maduro, a esquerda retrocedeu na região.

Hoje, além da Venezuela, apenas a Bolívia – com o longevo Evo Morales, presidente do país desde 2006 – e o Uruguai, com a volta de Tabaré Vázquez ao poder (após cinco anos de José Mujica), ostentam presidentes mais alinhados à esquerda e ao discurso bolivariano. Não à toa, só Uruguai e Bolívia, entre os dez maiores países da região, não reconheceram Juan Guaidó como presidente constitucional da Venezuela.


(Por José Benedito da Silva, André Siqueira/Veja.com.br)

Nenhum comentário:

Postar um comentário