sábado, 27 de setembro de 2014

Conheça a "sexônia", distúrbio que leva a pessoa a fazer sexo dormindo. Álcool, privação de sono e medicamentos são causas possíveis do transtorno

SEXÔNIA

Conheça a "sexônia", distúrbio que leva a pessoa a fazer sexo dormindo Divulgação/Inmagine Royalty Free
Caso não seja encontrada nenhuma patologia, é possível que o uso de medicamentos para dormir possam estar desencadeando a sexônia Foto: Divulgação / Inmagine Royalty Free
 
Em março do ano passado, um tribunal da Dinamarca absolveu um homem de 31 anos da acusação de abuso sexual contra duas adolescentes por entender que ele sofria de sexônia, espécie de sonambulismo voluptuoso. Adormecidas após uma festa, as vítimas, ambas com 17 anos, acordaram recebendo carícias do dono da casa. Tornado réu, ele alegou não lembrar de nada e, diagnosticado com sexônia, acabou liberado. 

Em 2004, a revista New Scientist relatou o caso de uma australiana que foi flagrada pelo marido enquanto fazia sexo fora de casa com um estranho. Toda noite ela saía de casa inconsciente e se lançava aos braços de outros alguéns. Como álibi certeiro para o adultério, a sexônia parece mais perturbadora enquanto brecha para inocentar estupradores.

— A pessoa precisa mostrar que tem histórico compatível com esse comportamento, de quem não está consciente. Assim, pode ser certificado. Se surge do nada, não. Ainda há poucas evidências sobre isso, a ciência ainda é muito pobre. Trata-se de um distúrbio sugerido como novo, que está começando a participar das classificações científicas — explica o especialista Denis Martinez, da Clínica do Sono.
Martinez lembra de precedentes como homicídios supostamente cometidos durante estados de sonambulismo. Um levantamento com 18 desses casos, publicado no mês passado, mostrou que 14 terminaram com decisão favorável aos acusados, resultado que ensaia se repetir em acusações de abuso sexual. Uma delas, que tramita atualmente no Canadá, julga o ataque de um homem contra a própria filha. Espera-se que a sentença saia em novembro e possa ser influenciada pelo reconhecimento oficial da sexônia na Classificação Internacional de Distúrbios do Sono 3, publicada em maio.

— Essa situação começou a ser descrita de 10 anos para cá. O diagnóstico, como qualquer outra patologia, depende de histórico e comprovação. O paciente passa a noite no hospital, monitorado, e uma série de funções com vídeo costuma deixar bem claro se se trata de sexônia — afirma o neurologista Geraldo Rizzo, especialista em distúrbios do sono que já auxiliou no esclarecimento de processos judiciais semelhantes no Brasil.

O tratamento começa procurando uma causa provável para o distúrbio. Se o paciente não sofria de sonambulismo na infância, procede-se à investigação neurológica. Caso não seja encontrada nenhuma patologia, é possível que o uso de medicamentos para dormir possam estar desencadeando a sexônia.
— A terceira causa é bastante simples: privação do sono. Indivíduos que vêm dormindo pouco podem desenvolver sonambulismo. Já se ele era sonâmbulo quando criança, o problema tende a ser mais benigno. O que procuramos fazer é proteger o indivíduo e a família, depois eliminar fatores de risco — diz Rizzo, apontando que é recomendável evitar ficar sozinho, tomar medicamentos e consumir álcool.

Se nada disso surtir efeito, o médico deve prescrever drogas dedicadas a abolir a fase profunda do sono, que, oscilando neurologicamente entre o adormecer e o despertar,  dá ensejo aos episódios de sonambolismo. De acordo com Rizzo, a sexônia é um fenômeno orgânico, sem relação com fatores psíquicos como uma eventual vazão de desejos culturalmente reprimidos. Enquanto nos homens o distúrbio costuma se projetar ao corpo alheio, em mulheres prevaleceria o comportamento masturbatório.

* Zero Hora

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