SEXÔNIA
Caso
não seja encontrada nenhuma patologia, é possível que o uso de
medicamentos para dormir possam estar desencadeando a sexônia
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Divulgação / Inmagine Royalty Free
Em março do ano passado, um tribunal da Dinamarca absolveu um homem
de 31 anos da acusação de abuso sexual contra duas adolescentes por
entender que ele sofria de sexônia, espécie de
sonambulismo voluptuoso. Adormecidas após uma festa, as vítimas, ambas
com 17 anos, acordaram recebendo carícias do dono da casa. Tornado réu,
ele alegou não lembrar de nada e, diagnosticado com sexônia, acabou
liberado.
Em 2004, a revista New Scientist relatou o caso de uma australiana
que foi flagrada pelo marido enquanto fazia sexo fora de casa com um
estranho. Toda noite ela saía de casa inconsciente e se lançava aos
braços de outros alguéns. Como álibi certeiro para o adultério, a
sexônia parece mais perturbadora enquanto brecha para inocentar
estupradores.
— A pessoa precisa mostrar que tem histórico compatível com esse
comportamento, de quem não está consciente. Assim, pode ser certificado.
Se surge do nada, não. Ainda há poucas evidências sobre isso, a ciência
ainda é muito pobre. Trata-se de um distúrbio sugerido como novo, que
está começando a participar das classificações científicas — explica o
especialista Denis Martinez, da Clínica do Sono.
Martinez lembra de precedentes como homicídios supostamente cometidos
durante estados de sonambulismo. Um levantamento com 18 desses casos, publicado no mês passado,
mostrou que 14 terminaram com decisão favorável aos acusados, resultado
que ensaia se repetir em acusações de abuso sexual. Uma delas,
que tramita atualmente no Canadá, julga o ataque de um homem contra a
própria filha. Espera-se que a sentença saia em novembro e possa ser
influenciada pelo reconhecimento oficial da sexônia na Classificação Internacional de Distúrbios do Sono 3, publicada em maio.
— Essa situação começou a ser descrita de 10 anos para cá. O
diagnóstico, como qualquer outra patologia, depende de histórico
e comprovação. O paciente passa a noite no hospital, monitorado, e uma
série de funções com vídeo costuma deixar bem claro se se trata de
sexônia — afirma o neurologista Geraldo Rizzo, especialista em
distúrbios do sono que já auxiliou no esclarecimento de processos
judiciais semelhantes no Brasil.
O tratamento começa procurando uma causa provável para o distúrbio.
Se o paciente não sofria de sonambulismo na infância, procede-se à
investigação neurológica. Caso não seja encontrada nenhuma patologia, é
possível que o uso de medicamentos para dormir possam estar
desencadeando a sexônia.
— A terceira causa é bastante simples: privação do sono. Indivíduos
que vêm dormindo pouco podem desenvolver sonambulismo. Já se ele era
sonâmbulo quando criança, o problema tende a ser mais benigno. O que
procuramos fazer é proteger o indivíduo e a família, depois eliminar
fatores de risco — diz Rizzo, apontando que é recomendável evitar ficar
sozinho, tomar medicamentos e consumir álcool.
Se nada disso surtir efeito, o médico deve prescrever drogas
dedicadas a abolir a fase profunda do sono, que, oscilando
neurologicamente entre o adormecer e o despertar, dá ensejo aos
episódios de sonambolismo. De acordo com Rizzo, a sexônia é um fenômeno
orgânico, sem relação com fatores psíquicos como uma eventual vazão de
desejos culturalmente reprimidos. Enquanto nos homens o distúrbio
costuma se projetar ao corpo alheio, em mulheres prevaleceria o
comportamento masturbatório.
* Zero Hora
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