ECONOMIA
Por Josias de Souza
Ninguém deve se meter na formação do novo ministério. Escolha de
ministro é atribuição exclusiva da presidente. Mas já que Dilma Rousseff
hesita em optar por um dos nomes que Lula indicou para a pasta da
Fazenda, por que não sugerir alguém sem vínculos com o petismo para
ocupar a poltrona de Guido Mantega, com grande chance de encantar o
empresariado e o mercado financeiro? Eis o nome: Armínio Fraga.
Pegou mal. Não foi ninguém da oposição ou da mídia golpista. Foi o
próprio governo quem revelou que a futura presidente herdará da
antecessora uma enrascada econômica. Que se agravou porque a atual
presidente preocupou-se mais com a própria reeleição do que em fazer o
que precisava ser feito. Acabou produzindo uma situação surreal.
No Brasil, a administração que começa sempre culpa a administração
anterior pelas suas dificuldades. Nos últimos 12 anos, o culpado foi
sempre Fernando Henrique Cardoso. Em janeiro de 2015, toma posse Dilma
2. Se ela não der certo, ficará em apuros. Continuar chutando FHC não
faria nexo. Espancar Lula pareceria ingratidão.
Dilma poderia dizer que, no seu primeiro mandato, criou uma situação
insanável, na qual nem ela mesma daria jeito. Mas isso não soaria bem.
Nomeando Armínio Fraga, ela daria uma prova de sua disposição para o
diálogo com a oposição. E, no futuro, poderia culpar pelo fracasso o
ministro da Fazenda de Aécio Neves.
Três dias depois da abertura das urnas, o Banco Central informou que
aquela inflação sob controle do horário eleitoral de fato não existia.
Para tentar deter a carestia, elevou de 11% para 11,25% a taxa de juros.
A diretoria do BC foi mais realista do que o Armínio.
Decorridos cinco dias da vitória de Dilma, a Fazenda exibiu uma
cratera que não aparecia no Brasil da propaganda eleitoral. Sem
marketing, o Tesouro fechará a conta de 2014 com um rombo orçado, por
ora, em R$ 15,7 bilhões. Na surdina, auxiliares de Dilma já esboçam um
ajuste fiscal à Armínio. Combina cortes profundos nos gastos e elevação
das receitas, via aumentos de tributos como IPI e Cide.
Hoje, o maior receio de Dilma é o de que as agências de classificação
de risco de crédito dêem uma nota vermelha para o Brasil, impondo ao
país a perda do chamado grau de investimento, obtido em 2008, sob Lula.
Se isso acontecer, os investidores, já um tanto amedrontados, vão se
trancar no cofre.
Supremo paradoxo: para atenuar a ruína que produziu, Dilma terá de
adotar as medidas impopulares que, ao longo de toda a campanha, acusou
Aécio de tramar. Considerando-se os últimos indicadores divulgados pelo
governo, o brasileiro tem todo o direito de supor que Armínio Fraga
merece um voto de confiança. Afinal, escondida atrás de Mantega, Dilma
já teve seus quatro anos como ministra da Fazenda.
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