domingo, 2 de novembro de 2014

Para major da PM, batalhão da zona Norte é insuficiente para atender a demanda na região. Segundo dados de um estudo sobre segurança, ZN já registrou mais de 170 homicídios em 2014

INSEGURANÇA

Foto: José Aldenir
Foto: José Aldenir
Diego Hervani
Repórter

Um estudo apresentado por Ivênio Hermes, especialista em Políticas e Gestão em Segurança Pública e pesquisador nas áreas de Criminologia, Direitos Humanos, Direito e Ensino Policial, a zona Norte aparece na liderança do número de Crimes Violentos Letais Intencionais (CVLIs) registrados em Natal no ano de 2014.

Das 465 ocorrências que aconteceram na capital potiguar, 176 foram na zona Norte. Para o major Manoel Kaneddy, comandante do 4º Batalhão da Polícia Militar, o maior problema é que o atual contingente de PMs que atuam na área não é suficiente para atender toda a população. “Para você ter uma ideia, a zona Norte é maior do que Mossoró. A população da ZN é maior do que a de Mossoró. Porém, em Mossoró existem dois batalhões da PM e na ZN nós temos apenas um. A zona Norte cresceu muito nos últimos anos e o policiamento não acompanhou esse crescimento. Uma das soluções para acabar com esses crimes é fixar um outro batalhão para atender a região, que é a maior da capital”.

A opinião do major também é compartilhada por Victor Hugo, que é morador da zona Norte. “Quem mora na zona Norte percebe que o número de policiais não é suficiente. Os criminosos também sabem disso e por isso agem muito aqui na região. Se uma viatura passar por você em algum momento do dia é quase impossível que essa viatura passe por você novamente naquele dia”.

Ainda de acordo com o major, outro fator que “complica” a situação da zona Norte são os municípios vizinhos. “A zona Norte faz divisa com os municípios de Extremoz e de São Gonçalo do Amarante. Muitos crimes que acontecem nesses municípios acabam sendo atribuídos para a zona Norte, tanto que as estatísticas que temos aqui apresentam cerca de 100 homicídios na ZN em 2014. Esses dois municípios são de responsabilidade do batalhão de Macaíba, mas muitas vezes apoiamos o batalhão de lá. Também sabemos que muitos criminosos vêm desses municípios e acabam agindo aqui na zona Norte”.
Questionado sobre as motivações para esses crimes, o major Kennedy explicou que a maioria das ocorrências estão ligadas ao tráfico de drogas e brigas entre torcidas organizadas. “De cada 10 homicídios registrados, de oito e nove são causados por acerto de contas por causa de drogas ou torcidas organizadas. A zona Norte concentra uma boa quantidade de integrantes dessas organizadas, como no bairro da de Parque dos Coqueiros, onde já registramos muitos casos”.

O bairro com maior número de homicídios em Natal é o de Nossa Senhora da Apresentação, com 57 mortes. O integrante de uma associação do local, que preferiu não se identificar, reclamou da insegurança do bairro. “Aqui é complicado. O tráfico de drogas age muito nessa região e muitas mortes que acontecem são por acertos de conta. Sair no período da noite é sempre um risco, mesmo para quem é morador daqui. Além dos assassinatos, os assaltos também são constantes. Infelizmente a insegurança já virou uma rotina no nosso bairro e não vemos nenhum sinal de que essa situação irá melhorar”.
“O bairro de Nossa Senhora da Apresentação é o mais populoso da cidade e ele também é afetado por aquela situação de toda a zona Norte, que é o fato de termos apenas um batalhão para toda a região. Sabemos da necessidade que todos os bairros aqui da zona Norte têm e estamos fazendo o possível dentro das nossas condições”, finalizou o major Kennedy.

Assaltos a ônibus também são problemas na Zona Norte
Além das CVLIs, a zona Norte também é conhecida por ser a região que registra constantes assaltos a transportes coletivos. De acordo com o major Manoel Kennedy, o fato da região ser “grande”, proporcionar várias rotas de fuga e a falta de imagens para se identificar os bandidos, tornam o trabalho da PM mais complicado. “As pessoas ainda têm aquele raciocínio de que o assaltante é uma pessoa pobre, que não se veste bem. Mas isso mudou há muito tempo. Hoje os assaltantes andam bem vestidos. Muitos entram no ônibus, pagam passagem e só depois anunciam o assalto. Além de agirem em casais também. Também não temos como rastrear as armas”, frisou o major, que ainda completou.

“Na Zona Norte nós tínhamos uma situação com a empresa Reunidas, que todos os dias tinha um ônibus assaltado. O pessoal da empresa veio até nós, com imagens de câmeras de segurança. Fizemos um trabalho de inteligência, colocamos policiais à paisana nos locais e conseguimos prender os cinco criminosos que estavam assaltando”.

Sobre os roubos no decorrer da Ponte de Igapó, o major afirmou que atualmente apenas agentes da Semob (Secretaria Municipal de Mobilidade Urbana) estão fazendo fiscalizações, o que tem facilitado as ações dos criminosos. “Aquela região já é de responsabilidade do batalhão de São Gonçalo do Amarante, mas sempre estamos por lá. Antes o posto que fica logo depois de quem está vindo da zona Norte era composto pela CPRE (Comando de Polícia Rodoviária Estadual), que fazia a fiscalização. Como eles não estão mais lá, os assaltantes estão se aproveitando. Eles entram na parada antes da ponte e vão fazendo o assalto. Quando chegam no final, eles descem e se escondem na região”.

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