sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

“Multas não cobradas confirmam promiscuidade da STTU com Seturn.” STTU afirma que cobrança de execução de Termos de Ajustamento de Conduta cabe ao Ministério Público

CRÍTICA

yjuetut
Marcelo Lima
Repórter

“Se a STTU não existisse seria muito bom para o povo de Natal”, declarou o vereador Fernando Lucena em entrevista concedida ao JORNAL DE HOJE. Ele também é o presidente da Comissão Especial de Inquérito (CEI) que investiga a relação entre Secretaria de Mobilidade Urbana de Natal (STTU) e o Sindicato das Empresas de Transporte Urbano de Passageiros de Natal (Seturn). A motivação para as declarações vem das investigações promovidas pela comissão.

De acordo com Lucena, o descumprimento do decreto municipal 8.519/2008 teria gerado multas no valor de R$ 19 milhões a serem pagas pelas empresas de ônibus da cidade. O conteúdo do decreto foi baseado em um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) firmado em julho de 2008 entre as empresas, a Prefeitura de Natal e o Ministério Público Estadual.

Toda a questão diz respeito à acessibilidade no sistema de transporte coletivo da cidade. Nesse TAC, que posteriormente (em setembro de 2008) virou decreto, as empresas teriam que disponibilizar 20 micro-ônibus para o Programa de Acessibilidade Especial (Prae). O objetivo do programa é levar pessoas com deficiência física para realizar tratamentos e exames, buscando e deixando de volta esses cidadãos em casa.
Posteriormente, ainda segundo Lucena, a promotoria de Defesa do Consumidor realizou uma alteração no TAC. As empresas poderiam substituir metade dessa frota por veículos do modelo Dobló (Fiat). Mas atualmente outros tipos de carros, Gol e Voyage, fazem esse serviço. Paralelamente ao Prae, outro TAC estabelece a aquisição de 200 ônibus adaptados na frota de Natal. Segundo o presidente da CEI, isso ainda não ocorreu.

Todos esses problemas gerariam as multas no valor de R$ 19 milhões. Além disso, os serviços cumpridos de forma inadequada e os não fornecidos são contabilizados na tarifa de ônibus urbano. “Até hoje o povo de Natal paga por um serviço que não existe”, disse o vereador do PT.

O vereador afirma também que a STTU nunca cobrou as multas nem o cumprimento das cláusulas dos TACs.  “Se a STTU tivesse cumprido a obrigação dela que é fiscalizar, cobrar, inclusive remeter para ao ministério público para cobranças judiciais, mas ela nunca fez”, declarou.

Por esse motivo, ele classifica a relação da STTU e Seturn como “promíscua, de submissão. Se a STTU não existisse, seria muito bom para o povo de Natal, porque não teria esse instrumento que o Seturn tem para usar para aumentar a passagem. Quem legaliza a ilegalidade é a STTU; é um instrumento da ilegalidade”, acentuou.

Ainda segundo Lucena, os demais TACs que alteraram o funcionamento do Prae não possuem validade, visto que um decreto se sobrepõe ao TAC no ordenamento jurídico brasileiro. “O Prefeito pegou essa TAC e transformou em um decreto regulamentando o Prae. Portanto, todos os ajustamentos de conduta feitos depois do decreto não têm validade nenhuma”, concluiu. Mesmo assim, uma audiência com o promotor de Defesa do Consumidor também está marcada para saber o motivo da troca dos veículos.

A CEI também mantém outras frentes de investigação, por exemplo, a origem dos ônibus que circulam na cidade. “Também estamos pedindo que o registro de multas de transporte de 2009 para cá, que não estão colocadas no sistema e vão prescrever”, disse o presidente.

STTU responde
De acordo com secretário adjunto de Transportes, Clodoaldo Trindade, a prerrogativa de cobrar a execução de TACs é do Ministério Público. Ele informou também que a frota de Natal possui 232 veículos adaptados com elevadores que possibilitam o acesso de pessoas com cadeiras de rodas. “Acho que primeiramente para divulgar essa informação, deveriam consultar a secretaria”, acrescentou.

Sobre o Prae, o secretário afirmou que quando iniciou a atual gestão, no início de 2013, havia somente dez veículos no programa (dez doblós e dez micro-ônibus). A STTU cobrou mais ônibus e só então as empresas de ônibus disponibilizaram mais dez, sendo do modelo Voyage e Gol. “Mas toda essa situação foi repassada para os vereadores pela secretaria. Até passamos mais informação do que o que foi solicitado. E essa questão do modelo dos veículos já foi passada para o Ministério Público”, explicou Trindade.

“Engraçado é que passou 2009, 2010, 2011 e 2012 e nunca ninguém falou sobre o descumprimento desse TAC”, destacou o secretário adjunto. O período corresponde exatamente à gestão Micarla de Sousa.

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