sábado, 9 de janeiro de 2016

Cunha e Henrique Alves cobraram doações de R$ 5 mi à OAS, diz PGR

LAVA JATO
 
O presidente da Câmara Federal, Eduardo Cunha (PMDB/RJ) e o ministro do Turismo, Henrique Alves (PMDB/RN), cobraram "insistentemente" pagamentos que somaram R$ 5 milhões em forma de doação eleitoral a empresários da OAS, na campanha eleitoral de 2014. Na ocasião, Henrique era candidato a governador do Rio Grande do Norte. Somando-se outros pedidos de Cunha, os executivos também teriam feito doações, em 2012, à campanha do prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes. De acordo com reportagem do Estado de São Paulo, a Procuradoria-Geral da República (PGR) sustenta que o Cunha negociou as doações eleitorais em troca de defesa dos interesses da empreiteira no Congresso Nacional.

As informações foram obtidas através de centenas de mensagens trocadas entre os celulares de Eduardo Cunha e Léo Pinheiro, executivo da OAS que aderiu à delação premiada nas investigações da operação Lava Jato. O próprio Henrique chegou a cobrar os repasse para sua campanha. As mensagens embasam inquérito sobre a suposta venda, por Cunha, de medidas provisórias. Conforme levantado pelo periódico nacional, as investigações indicam que as contribuições eram uma compensação ao deputado por incluir ou negociar regras de interesse da OAS nas medidas legislativas. “Em contraprestação aos diversos serviços prestados por Cunha, houve o pagamento de vantagens indevidas para Cunha ou pessoas a ele ligadas, a título de doações de campanha”, afirma a PGR num dos relatórios da investigação, obtido pelo Estado de São Paulo.

Os repasses a Henrique Alves teriam somado R$ 5 milhões. Em uma mensagem do dia 13 de outubro de 2014, já no segundo turno, Cunha teria fez um dos pedidos: “Amigo, a eleição é semana que vem. Preciso que veja urgente”, apelou a Leo Pinheiro. Três dias depois, o próprio Henrique Alves reforçou a solicitação: “Amigo, como Cunha falou, na expectativa aqui”. Léo Pinheiro, em outras mensagens executivos da empresa, reclamou das insistentes cobranças de Cunha durante a campanha.

As mensagens também mostrariam que, a pedido de Cunha, as empreiteiras envolvidas na operação Lava Jato fizeram contribuições cruzadas, compensando uma o caixa de campanha da outra. De acordo com o jornal, as conversas demonstrariam que dessa forma as declarações ao TSE ocultavam quais eram os verdadeiros doadores. "Conforme as mensagens, para receber logo, Cunha acertou com Benedicto Barbosa Silva Júnior, executivo da Odebrecht, que fizesse doações para Henrique e, depois, acertasse com a OAS. 'Tive com Júnior e pedi para ele doar por vc ao Henrique', escreveu Cunha em seu celular. Após receber um 'OK' de Leo Pinheiro, o deputado acrescentou: 'Tocando com Júnior aqui, na pressão. Ele vai resolver e se entende com vc'. As conversas são do dia 21 de outubro. Entre 23 e 27 daquele mês, a Odebrecht repassou R$ 4 milhões à campanha de Henrique".

Em 2012, ainda de acordo com as mensagens, a OAS teria enviado R$ 500 mil, através do Diretório Nacional do PMDB e a pedido de Eduardo Cunha, para a campanha de Eduardo Paes, prefeito do Rio de Janeiro. Depois disso, o diretório transferiu R$ 1,2 milhão para a campanha do prefeito. No mesmo ano, conforme a reportagem, o deputado também tratou de pagamento de R$ 900 mil para o PSC. A Direção Nacional do partido recebeu R$ 1,2 milhão da OAS, conforme registro do Tribunal Superior Eleitoral.

Respostas
Em resposta à reportagem do diário nacional, Cunha negou ter recebido vantagens indevidas de quaisquer empresas. O deputado alegou também que não teve conversas atribuídas a ele pela PGR e diz achar estranho que não vazem diálogos de outras pessoas. 

Em nota, Henrique Alves disse que “todas as doações” foram legais e estão disponíveis no TSE. “O ministro refuta qualquer ilação baseada em premissas equivocadas ou interpretações absurdas. Vale destacar que as empresas citadas fizeram doações para campanhas de diversos partidos Brasil afora”, apontou.

Henrique explicou, também na nota, que “todas as doações” foram legais e estão disponíveis no TSE. “O ministro refuta qualquer ilação baseada em premissas equivocadas ou interpretações absurdas. Vale destacar que as empresas citadas fizeram doações para campanhas de diversos partidos Brasil afora”, acrescentou.

Eduardo Paes informou, em nota, que recebeu diretamente do Diretório Nacional. “Tudo feito de maneira oficial e declarado de forma transparente à Justiça Eleitoral. Como o próprio diálogo apresentado pelas investigações revela, não há qualquer relação entre essa doação do Diretório Nacional e os recursos supostamente acertados entre os senhores Eduardo Cunha e Leo Pinheiro”, declarou.

O Estado não conseguiu contato com a assessoria de imprensa do PSC.

A OAS não comentou.
A Construtora Norberto Odebrecht não respondeu a questionamentos do Estado. Em nota para o jornal, lamentou “que se repita o vazamento seletivo de informações” e alegou que “não comenta diálogos realizados por terceiros”. “A Odebrecht realiza doações para campanhas e partidos políticos respeitando a legislação. No Brasil, as doações são devidamente registradas nos cartórios eleitorais. O financiamento de campanha é uma iniciativa legal de apoio aos candidatos e partidos políticos”, sustentou.

A reportagem do Estado é assinada por Fábio Fabrini e Adriano Ceolin.

por Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/ Agência Brasil

Nenhum comentário:

Postar um comentário