Escolhido pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para se
juntar à equipe de advogados responsável por sua defesa, o criminalista
Nilo Batista diz estar certo de que não haverá denúncia criminal ao
principal líder do PT. Alertou, porém, para o "sentido político" das
acusações que têm vindo a público com o avanço das Operações Lava Jato e
Zelotes, da Polícia Federal. "No fim, quando não pesar nenhuma acusação
sobre o Lula, haverá um prejuízo político dramático", afirmou Batista.
Ele foi governador do Rio de Janeiro entre abril e dezembro de 1994,
quando o titular Leonel Brizola (PDT) se afastou para disputar a
Presidência da República.
Para a defesa do
ex-presidente, Nilo se associou aos advogados Roberto Teixeira e
Cristiano Zanin em meados de dezembro e, desde então, disse ter se
reunido "três ou quatro vezes" com Lula, principal aposta do PT para as
eleições presidenciais de 2018. Em delação premiada na Operação Lava
Jato, o ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró disse ter sido indicado
por Lula para a diretoria financeira da BR Distribuidora, subsidiária da
petroleira, em agradecimento pela contratação da Schahin Engenharia
para operar no navio-sonda Vitória 10.000. A suspeita é que o contrato
com a empreiteira foi uma compensação pelo fato de o Banco Schahin ter
feito empréstimo de R$ 12 milhões ao pecuarista José Carlos Bumlai,
amigo de Lula. O dinheiro, segundo Bumlai, serviu para saldar dívidas do
PT.
Outro motivo de preocupação para Lula é a
Operação Zelotes, que investiga esquema de compra de medidas provisórias
para favorecer montadoras de veículos. Um dos filhos do petista, Luís
Cláudio Lula da Silva, é dono da empresa LFT Marketing Esportivo, que
recebeu R$ 2,4 milhões do escritório Marcondes e Mautoni
Empreendimentos.
O empresário Mauro Marcondes é
acusado de negociar a edição de uma medida provisória que prorrogou
incentivos para montadoras. Luís Cláudio diz que o pagamento foi feito
por serviços prestados na área de marketing esportivo. Em outubro, a LFT
foi alvo de operação de busca e apreensão da Polícia Federal.
Nilo
diz que Luís Cláudio tem atuação conhecida na área de marketing
esportivo e reclama do que chama de "leviandade acusatória" contra Lula e
sua família. O criminalista afirmou ter se juntado a Teixeira e Zanin
para "ajudá-los a enfrentar esse tsunami, esse esforço artificial para
tentar criminalizar o presidente Lula".
"Acho que
é uma causa muito importante para além do pouco que há nela de
jurídico-penal. O principal é o sentido político de (tentativa de)
neutralizar uma liderança política", afirmou.
Segundo
Nilo, "não há perspectiva de ação criminal concreta, o que existem são
coisas imaginativas, tentativas fantasiosas e até ridículas de
relacionar fatos". Nilo diz que cabia aos partidos indicar postos
importantes como as diretorias da Petrobras. "Quando se convida um
aliado a participar, ele tem justa expectativa de exercer poder e os
partidos decidem soberanamente. Querem transformar o Executivo em fiador
das indicações, e isso não existe", declarou.
Para
o advogado, as informações de delações premiadas devem ser tratadas com
"cuidado redobrado", pois "vêm de pessoas que terão penas muitíssimo
diminuídas em troca de informações que fazem". "O delator é
recompensado. A tendência é falar o que os ouvidos de quem está
inquirindo querem ouvir", afirmou.
O criminalista
reclamou do tratamento dado pela mídia às acusações feitas pelos
acusados e do vazamento de informações sigilosas. "Há uma colisão séria
entre a liberdade de comunicação, com a qual todos estamos de acordo, e a
presunção de inocência e o direito a julgamento justo", declarou.
Nilo
explicou por que decidiu não cobrar honorários de Lula. "Levo em conta a
natureza da causa e do cliente. Integro o mesmo campo político do
presidente Lula", afirma. Segundo ele, seu escritório não cobra
honorários de cerca de 50 causas em andamento.
Questionado
se a defesa de Lula pretende tomar alguma medida preventiva em relação
ao ex-presidente, o criminalista repetiu que não há nada de concreto
contra Lula. "Como em Pirandello, a defesa do presidente Lula é uma
defesa à espera de uma acusação", brinca, referindo-se à peça "Seis
personagens à procura de um autor", do italiano Luigi Pirandello.
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