O deputado federal Rafael Motta já fala como pré-candidato a
prefeito de Natal. Apesar de afirmar que a validação de seu nome ainda
depende das bases do Partido Socialista Brasileiro (PSB), o
recém-empossado presidente da legenda no Rio Grande do Norte diz que a
orientação nacional é ter candidatura nas capitais, especialmente no
Nordeste, e que seu nome está à disposição para disputar a majoritária
na capital potiguar. “Não tenho medo de desafio, mas isso tem que ser
feito com muito pé no chão”, afirma.
Filiado no
final do ano passado a convite da executiva nacional da sigla, o
parlamentar de 29 anos recebeu a liderança estadual há quase três
semanas, a contragosto da vice-prefeita de Natal, Wilma de Faria, e seu
grupo político. Ela perdeu o comando de mais de 20 anos do PSB no RN.
Ex-governadora do estado, ela anunciou a saída do partido e partiu para o
ataque, declarando-se alvo de um complô dos novos donos da legenda.
Apesar disso, Motta nega que o ingresso no
quadro socialista tenha sido condicionado à sua nomeação como
presidente. Afirma que a saída da ex-governadora foi precipitada, e
ainda declara que não espera uma debandada do partido. Ele conta com o
apoio do deputado estadual Tomba Farias, que assumiu a vice-presidência
do PSB; do seu pai, deputado estadual Ricardo Motta, que vai deixar o
Pros dentro da atual janela de troca de partido (informação confirmada
por ambos); do presidente da Câmara Municipal de Natal, Franklin
Capistrano; e das ex-deputadas federal e estadual Sandra e Larissa
Rosado, de Mossoró.
Motta também refutou as
informações que circulavam entre seus próprios partidários de que seu
nome havia sido imposto pela executiva nacional. “O que se buscou foi um
perfil de fora, uma pessoa que pudesse agregar, que tivesse um perfil
mais diplomático e pudesse realmente gerenciar a legenda aqui no estado.
O PSB sempre foi um partido muito grande e estava numa descendente”,
defende.
Apesar de pleitear uma candidatura
própria, o partido terá que lutar para conseguir receber participação do
Fundo Partidário. Sem a aprovação das contas da gestão de Wilma, o PSB
deverá passar um ano sem receber esse recurso. Como o financiamento
privado de campanha agora é proibido, essa é um das principais fontes de
dinheiro para as campanhas de 2016. O setor jurídico do partido busca
uma solução para o problema. Questionado se faria uma auditoria nas
contas, Motta confirmou apenas que já constatou atraso no pagamento de
funcionários do partido e que agora busca arrumar a casa. O objetivo,
por enquanto, é atualizar a situação dos diretórios municipais.
Prefeito
Apesar
de evitar falar na quebra de apoio do partido à gestão do prefeito de
Natal, Carlos Eduardo Alves (PDT), Rafael Motta já dispara criticas à
administração de Alves e diz que “o natalense pode mais”. Pautas
polêmicas compõem os debates da Câmara Federal neste início de 2016.
Entre os temas, estão as investigações que envolvem o nome do presidente
do Congresso, Eduardo Cunha, e o processo de impeachment da presidente
Dilma Rousseff. Rafael Motta nega que o partido já tenha fechado uma
posição quanto a este último assunto e diz que correntes internas tem
posições diferentes quando o assunto é o impedimento de Dilma.
“Algumas (correntes) acham que o
impeachment deve partir das ruas para dentro do Congresso e outras
correntes já afirmam que deve ser apreciada a admissibilidade da
investigação, assim como eu tenho defendido internamente. Sou favorável
que se investigue e que se dê esse fato para que se esclareça à
sociedade”, argumenta.
Motta também defende a
saída de Eduardo Cunha da presidência da Casa para que as investigações
possam ser concluídas. Ele afirma que Cunha executa manobras para se
manter o cargo, o que causa constrangimento. “Os partidos têm
encaminhado as votações muitas vezes em obstrução, justamente pelo fato
de o presidente continuar à frente do Legislativo e a gente acha que não
é uma forma legítima ele estar à frente da presidência com tantas
situações que precisam ser explicadas. Acho que a melhor maneira de
manter os trabalhos de forma harmônica é que o presidente se afaste da
presidência e possa fazer a sua defesa num foro mais apropriado para
isso”.
Presidente do PSB no RN, o deputado
Rafael Motta, nesta entrevista, fala da possibilidade de se candidatar a
prefeito de Natal e das rusgas com a vice-prefeita da capital, Wilma de
Faria. Motta acha que a cidade sofre uma maquiagem nas mãos do prefeito
Carlos Eduardo a quem atrubui “prioridade” administrativa, o
carnaval. Abaixo, a entrevista.
Rafael Motta
Deputado federal (PSB-RN)
O senhor considera que foi uma chegada tumultuada ao PSB?
Se
houve algum tipo de tumulto, não foi gerado por mim. Acho que é
importante mostrar o que aconteceu realmente. Eu pertencia a um partido –
o Pros – onde eu já havia criticado a forma de gerenciamento, pela
centralização das decisões na presidência do partido. O presidente
tomava as decisões, em especial em relação ao Fundo Partidário, que é um
dinheiro proveniente dos cofres públicos, e que era muito mal
gerenciado. Houve a compra, primeiro de um avião com o Fundo
Partidário; houve a compra de uma produtora de televisão; houve a compra
de uma gráfica e de uma casa no lago Paranoá, na zona mais nobre de
Brasília, onde seria a sede do partido. E a gota d’água foi a compra de
um helicóptero. Eu critiquei publicamente essa compra, por não
concordar, e o partido achou por bem me expulsar. Naquele momento eu
estava sem partido e tinha uma amizade muito grande com os deputados
federais e os senadores do PSB. Tinha já o contato com o presidente da
sigla e tive um contato com Eduardo Campos (ex-presidente nacional do
partido e morto em acidente aeronáutico em 2014 na campanha eleitoral
para a presidência da República), quando ele veio a Santa Cruz. E eu
achei por bem, pela minha questão ideológica e pelo meu comportamento na
Câmara, muito parecido com as indicações de voto do PSB, me filiar ao
partido. O presidente pediu que eu me filiasse durante um evento que já
tinha sido marcado há meses em Brasília, com a executiva nacional, então
foi uma oportunidade de estar me apresentando a quadros do PSB e fazer
essa filiação testemunhada por quadros históricos do partido.
Como ficou a questão local?
O
presidente pediu que eu agisse com discrição aqui no estado, porque no
momento oportuno haveria de se conversar com as lideranças locais. Mas
nem por isso me furtei do dever de comunicar aos meus colegas vereadores
que eu estaria me filiando, vindo para somar ao partido, e de comunicar
aos deputados estaduais e de buscar também contato com a presidente do
diretório estadual, a ex-governadora Wilma (de Faria, atual
vice-prefeita da capital). Só que não obtive êxito em ter esse contato.
Estive em São Paulo e busquei uma visita a ela no hospital, mas não
consegui falar com ela, nem Márcia Maia e suas outras filhas. Também
percebi que seria invasivo naquele momento. Esperei para ter uma
conversa no momento oportuno.
Alguns vereadores disseram que o
próprio presidente nacional afirmou que sua filiação era condicionada à
presidência estadual. O senhor confirma isso?
Nunca
condicionei nenhum tipo de atitude em relação a troca de favor
partidário ou de troca de cargo político. Por exemplo, eu era da base da
presidente Dilma e nunca tive indicação de nenhum cargo federal. Não é
do nosso perfil agir de forma intransigente, exigindo uma coisa em troca
de outra. Me filiei porque eu tenho uma ideologia partidária muito afim
do PSB.
Como o senhor recebeu as críticas de Wilma e de outros integrantes do partido?
Natural.
Quando existe algum tipo de mudança, quando as pessoas estão em algum
lugar e existe uma mudança, mesmo que seja para melhor é normal que
critiquem. Mas já existia há muito tempo, a intenção de mudança do
diretório estadual.
Uma intenção de Brasília?
Intenção
de Brasília e uma intenção local, pelo que me constou. Não pertencia
aos quadros, mas o que me constava é que muitas lideranças locais haviam
reclamado já da forma como era gerenciado o partido aqui no Rio Grande
do Norte. O que se buscou foi um perfil de fora, uma pessoa que pudesse
agregar, que tivesse um perfil mais diplomático e pudesse realmente
gerenciar a legenda aqui no estado. O PSB sempre foi um partido muito
grande e estava numa descendente. Agora, volta a ter um deputado federal
e mantém deputados estaduais na Assembleia Legislativa. Quando entrei
no PSB não condicionei minha ida como presidente, pelo contrário. A
forma como Wilma saiu foi precipitada. Tava sendo construído um diálogo.
Tanto que quando ela fez o chamamento do presidente, ele esteve aqui
disponível para conversar. Conversou com todas as lideranças locais, com
todos os deputados estaduais, conosco, com os vereadores, para que
pudéssemos convergir para um nome para gerenciar o partido. Foi nos dada
essa missão e estamos buscando aglutinar cada vez mais pessoas ao PSB.
Alguns vereadores e outras lideranças afirmam que também deixarão o partido. O senhor não teme um esvaziamento?
O
que eu vejo hoje é a intenção de sair da ex-governadora Wilma de Faria,
que na minha opinião agiu precipitadamente, porque estava sendo
construído um diálogo com o diretório nacional; da sua filha Márcia
Maia, deputada estadual, e algumas lideranças que votam nas duas. O que é
natural. Mas eu não vejo esvaziamento da sigla. Pelo contrário, nós
iremos agregar cada vez mais lideranças que são ligadas a nós. O
deputado Tomba (Farias) tem muitos vereadores e prefeitos que são
ligados a ele e ele já demonstrou interesse em ficar. Nós temos uma
conversa com as ex-deputadas federal e estadual Sandra e Larissa Rosado,
então eu vejo que o partido tem cada vez mais atratividade.
Quais são as perspectivas para 2016? O senhor é candidato?
O
PSB tem demonstrado interesse em lançar diversos candidatos em diversas
cidades estratégicas do Brasil, em especial nas capitais... E é isso
que estamos buscando aqui em Natal. Natal é uma cidade que enfrenta
muitas dificuldades. Temos uma cidade que é abençoada por Deus, mas
infelizmente tem sido mal administrada. A gente vê que a administração
atual tem como única bandeira o carnaval. Uma administração que tem como
único e exclusivo projeto político, como grande obra pública, um
carnaval, é porque tem alguma inversão de prioridades. Nós temos sentido
isso. O próprio prefeito admite que tem feito uma grande maquiagem na
cidade. O natalense pode muito mais, tem que ter consciência do seu voto
e vai ter uma grande gama de opções de candidatos em 2016.
O senhor vai ser uma dessas opções?
O
partido tem questionado isso a nós, mas uma candidatura não pode ser
feita de si próprio. Tem que convergir das ruas para um nome. Isso a
gente tem buscado, a gente tem visto que as pessoas têm muita aceitação
ao nosso nome. Onde a gente circula vê que as pessoas estão alimentando
esse sentimento, há muitas lideranças políticas também. O presidente da
Câmara Municipal, o vereador Franklin Capistrano tem lembrado o nosso
nome, o que me deixa feliz. O deputado José Dias, também, que é político
hoje com maior credibilidade no estado vem alimentado isso. Não tenho
medo de desafio, mas tem que ser feito com muito pé no chão, tem que se
ter um projeto político. Campanha não pode ser exclusivamente no
sentimento e no amor. Campanha tem que ser na base da técnica, com
propostas que convençam o eleitor.
por: Igor Jácome / NOVO
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