ACIDENTE
Equipes trabalham no resgate de passageiros do barco 'Capitão Ribeiro', no Rio Xingu (MÁRCIO FLEXA / SECOM/Fotos Públicas)
O proprietário do barco Capitão Ribeiro, que afundou com 52 pessoas na terça-feira no Rio Xingu,
deixando 23 mortos e dois desaparecidos, não tinha licença para
transportar passageiros, mentiu sobre o número de pessoas a bordo, fez
um trajeto para o qual não estava autorizado e levou um automóvel na
embarcação, o que também não estava autorizado.
Por esses motivos, Alcimar Almeida da Silva
será indiciado pela Polícia Civil pelo acidente. “O proprietário
incorreu no crime de ter colocado em risco a vida das pessoas”, afirmou o
delegado Élcio de Deus, de Porto de Moz, onde morava a maioria das
vítimas.
Na quarta-feira, a Agência Estadual de Regulação e Controle
de Serviços Públicos (Arcon-PA) revelou que o barco já havia sido
autuado em junho passado por não ter autorização para fazer o transporte
de passageiros. Ele não havia comparecido até esta sexta no órgão para
se regularizar – mesmo assim, continuava a fazer normalmente viagens uma
vez por semana no trajeto entre Santarém e Vitória do Xingu.
Silva disse em seu depoimento que há cerca de três anos
viaja com autorização da Marinha até o município de Prainha, a uma
distância de 170 km. Ocorre que, no dia em que o barco afundou, a rota
era outra, para Vitória do Xingu, um percurso de 380 km, mais do que o
dobro do autorizado pela Marinha.
De acordo com a Marinha, toda vez que uma embarcação se
desloca deve ser feito um “despacho de saída” comunicando o percurso,
sendo que, quando a rota é feita com frequência, pode ser emitido um
“despacho por período”, com prazo máximo de 90 dias. No caso da
embarcação “Capitão Ribeiro”, foi emitido um despacho com prazo até 20
de outubro deste ano, mas apenas para o trajeto Santarém – Prainha.
Antes da viagem que redundou no naufrágio, Silva mentiu para
a Capitania dos Portos ao declarar que transportava apenas 2
passageiros e não os 52 que embarcaram em Santarém. Além disso, após
içarem o barco naufragado do fundo do Rio Xingu, na manhã desta sexta,
os bombeiros ficaram surpresos ao encontrar um automóvel dentro da
embarcação. “Não é adequado transportar um carro nesse tipo de
embarcação, porque ele pesa toneladas e o centro de gravidade do barco
sobe, sujeitando-o a ficar com menor estabilidade e a emborcamento”,
explicou o engenheiro naval Hito Moraes.
Pelos rios do Pará navegam diariamente cerca de 30 mil
embarcações autorizadas pela Marinha do Brasil, mas a Arcon liberou até
hoje apenas 128 para o transporte de passageiros em todo o Estado.
“Quando nós detectamos alguma irregularidade sobre o transporte de
passageiros comunicamos o fato à Arcon para as devidas providências”,
disse o comandante dos Portos, José Alexandre Santiago.
Bruno Guedes, diretor-geral da Arcon, ressalta que o
proprietário é sabedor dos deveres que tem e que para transportar
passageiros “precisa ter autorização do órgão público”. Infelizmente,
completou, “ainda há gente que prefere fazer isso de forma clandestina”.
O proprietário do barco ainda não se manifestou sobre o episódio.
(Veja.Abril.com.br)
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