
Estudantes trocaram faixa contra o fascismo por uma com os dizeres 'censurado' - Arquivo Pessoal
Rio - Atendendo à determinação da Justiça Eleitoral, estudantes da Faculdade de Direito da Universidade Federal Fluminense (UFF) retiraram, na noite desta quinta-feira, a bandeira com os dizeres "Direito UFF Antifascista" da fachada do prédio da faculdade. No lugar dela, foram colocados dois panos pretos e uma outra faixa onde se lê "censurado".
O diretor da faculdade, Wilson Madeira Filho, explicou a
mudança. "Decisão judicial do TRE nesta data (25/10) entendeu ser a
bandeira e os eventos promovidos na Faculdade de Direito sob a expressão
Anti-Fascismo alusivas enquanto campanha negativa ao presidenciável
Jair Bolsonaro. Nesse sentido, determinei a retirada da bandeira e a
ausência de novas manifestações", o professor escreveu, em seu perfil no
Facebook.
A polêmica envolvendo a bandeira na UFF começou na noite de terça quando fiscais do TRE-RJ estiveram na universidade para checar denúncias de crime eleitoral dentro da Faculdade de Direito.
Na ocasião, em ato considerado arbitrário pelos estudantes, sob a
alegação de "mandado verbal" da juíza titular da 199ª Zona Eleitoral
(Niterói), Maria Aparecida da Costa Bastos, os agentes retiraram a faixa
da fachada do prédio.
Na quarta, professores
e estudantes da universidade fizeram, no entorno da faculdade, um ato
de desagravo contra o que chamaram de "invasão" da instituição. A
faixa voltou ao topo do prédio, fazendo com que a juíza determinasse
novamente sua retirada, nesta quinta, sob pena de "adoção de
providências legais" contra o diretor do curso.

A manifestação realizada na quarta diante da faixa polêmica - Arquivo Pessoal
Bandeira de torcida
O estudante conta que a bandeira surgiu no episódio que
aconteceu em junho passado, durante os Jogos Jurídicos, campeonato
esportivo estudantil realizado em Petrópolis, quando uma atleta de handebol da UFF foi chamada de macaca por estudantes da PUC-Rio. Ele alega que a faixa foi feita com as cores semelhantes às da associação atlética.
"Essa faixa é bem clara! Ela originalmente foi feita
como uma bandeira de torcida. Resolveram fundar uma torcida contra
qualquer forma de opressão. É uma bandeira antifascista. Agora, ela
ganhou outro significado", João reforça.

Algumas faixas penduradas em outras faculdades da UFF - Reprodução / Facebook
Manifestação nesta sexta
Por acharem as decisões do TRE contraditórias, os
estudantes marcaram uma nova manifestação para esta sexta-feira. Com o
nome de "Ato Unificado em Repúdio à Censura nas Universidades", ela vai
acontecer a partir das 15h em frente à sede do TRE, no Centro do Rio.
Até o fim da madrugada desta sexta, o evento do protesto no Facebook já
contava com mais de 15 mil adesões, dentre confirmados e interessados.
Após a determinação da juíza nesta quinta, a OAB-RJ se
manifestou sobre o caso, repudiando as decisões da Justiça Eleitoral, no
que, nas palavras do presidente em exercício da entidade, Ronaldo
Cramer, seriam para "censurar a liberdade de expressão de estudantes e
professores das faculdades de Direito". "Todos os cidadãos têm o direito
constitucional de se manifestar politicamente. A manifestação livre,
não alinhada a candidatos e partidos, não pode ser confundida com
propaganda eleitoral".

Bandeira pendurada pelos alunos na UFF que é alvo da polêmica envolvendo o TRE e os estudantes da universidade - Arquivo Pessoal
Antifacista x Antifacismo
O DIA teve acesso à decisão desta
quinta da juíza Maria Aparecida da Costa Bastos para que a bandeira
fosse retirada sob risco de penalidade ao diretor da Faculdade de
Direito. No processo de número 120.715/2018, ela baseia sua argumentação
na ida dos fiscais do TRE à universidade na terça. Ao analisar o
relatório dos agentes (protocolo 120.418/2018), ela conclui que há
indícios de "conteúdo de propaganda eleitoral negativa contra o
candidato à Presidência da República Jair Bolsonaro".
Uma das conclusões foi feita a partir de uma declaração
dos fiscais de que a bandeira "Direito UFF Antifascista possuía
conteúdo político-eleitoral, na medida em que se voltava contra o
'fascista' e não contra o 'fascismo'".
Em seu despacho, a juíza relata ainda que o TRE recebeu 12 denúncias de propaganda eleitoral irregular na faculdade.
(Por
Raimundo Aquino/O Dia)
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