quarta-feira, 31 de outubro de 2018

Após derrota, PT quer reforçar movimento pela soltura de Lula. Sigla pretende criar 'rede de solidariedade pela liberdade' do ex-presidente, condenado e preso na PF em Curitiba

OPOSIÇÃO
 
 O ex-presidente Lula discursa no bairro Santa Marta, na cidade de Santa Maria (RS), em março de 2018 - Marlene Bergamo - 20.mar.2018/Folhapress

Dois dias após a eleição de Jair Bolsonaro (PSL), com 55,13% dos votos válidos, o PT decidiu intensificar, ainda este ano, uma campanha internacional pela libertação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, sob a justificativa de que sua integridade física está ameaçada. O ex-mandatário está preso na superintendência da Polícia Federal de Curitiba desde abril. 

Um dos argumentos para a criação de uma rede de solidariedade pela liberdade de Lula, como foi batizada, é a recente declaração de Bolsonaro de que, por ele, o ex-presidente apodrecerá na cadeia.

Nesta segunda-feira (30), após reunião com a cúpula petista, a presidente do partido, senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR), afirmou que será feito um pedido de proteção a Lula

"Tememos  pela vida do presidente. Precisamos deixar um alerta à sociedade. Lula tem direto a um julgamento justo. Não tem ninguém que possa definir o que fazer com ele, sem antes seu processo ser julgado de forma justa”, alegou Gleisi.

Chefe de gabinete da presidência do PT, o ex-ministro Gilberto Carvalho afirma que, como presidente, Bolsonaro teria prerrogativa para piorar muito as condições carcerárias garantidas a Lula. 

"Não estou dizendo que ele vá fazer. Mas uma coisa é o comportamento formal [de Bolsonaro, como presidente]. Outra coisa é a energia que ele libera [a seus apoiadores]”, disse Carvalho.

A campanha não se restringirá a Lula. O partido  vai propor uma instalação de um observatório internacional para proteção de militantes de esquerda, indígenas, negros e jornalistas durante o governo Bolsonaro.

Durante a reunião, o ex-prefeito Fernando Haddad, que perdeu a eleição para Bolsonaro, foi reverenciado como porta-voz da oposição ao futuro governo. Atendendo à recomendação de Lula, Gleisi afirmou que o PT vai dar todas as condições para que Haddad exerça papel de articulador para consolidação de uma frente de resistência.

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Segundo Gleisi, Haddad terá papel maior que PT, "porque ele sai depositário da esperança e da luta do povo pela democracia".

Apontada como rival do ex-prefeito nas disputas dentro do partido, Gleisi chegou a dizer que "depois de Lula, Haddad é hoje uma grande liderança do PT".

Haddad falou ao partido no início da manhã, deixando o local da reunião ao meio-dia. Segundo participantes, o ex-prefeito se emocionou ao falar de sua família e dos ataques sofridos com a divulgação de fake news via WhatsApp durante a corrida presidencial.

Com voz embargada, o ex-prefeito pediu desculpas caso tenha cometido erros na condução da campanha. Disse que deu o seu melhor. E foi muito aplaudido quando, como olhos marejados, disse que gostaria de vencer a eleição pelo legado petista, pelo perigo que Bolsonaro representa e  pela injustiça contra Lula. 

Em respeito a outra sugestão de Lula —para que o partido espere a poeira baixar antes de levar a cabo qualquer ofensiva oposicionista- o partido preferiu não fazer um balanço do futuro governo nem traçar uma estratégia agora.

Mas definiu medidas emergenciais, como uma ação contra a a aprovação da reforma da Previdência ainda no governo de Michel Temer (MDB).

Nas palavras de petistas, o presidente Temer e Bolsonaro fizeram um conluio para que o atual governo aprove medidas impopulares antes da posse do capitão reformado, no dia primeiro de janeiro.

Questionado sobre o que Temer ganharia com esse "consórcio" com Bolsonaro, o líder do PT na Câmara, Paulo Pimenta (PT-RS), limitou-se a afirmar: "o salvo-conduto".

Essa é uma referência à possibilidade de Bolsonaro conceder liberdade a Temer caso ele seja condenado pela Operação Lava Jato após o fim de seu mandato.

Em troca, Temer trabalharia pela aprovação de medidas antipáticas, como a reforma da Previdência, a criminalização de movimentos sociais e a cessão onerosa do pré-sal.



 (por:Catia Seabra/Folha.Uol.com.br)

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