EM NATAL: FANTASIA POLÊMICA
Na postagem, mãe afirmou: 'Quando seu filho absorve o personagem! Vamos abrasileirar esse negócio! #Escravo' - Reprodução/ Facebook
São Paulo - Uma mãe pediu desculpas após mandar o filho
para uma festa de Halloween na escola fantasiado de escravo, em Natal.
Ela pediu desculpas, excluiu seguidores, fechou sua conta no Instagram e
apagou posts. "Queria somente pedir desculpas pelo fato! Jamais foi
minha intenção ofender alguém, estou extremamente arrependida por tudo
que aconteceu e me sentindo MUITO mal com os xingamentos e ameaças
horríveis que estão me mandando. Desculpa a todos, do fundo do meu
coração! #paz", escreveu a mulher na rede social Instagram nesta
terça-feira.
Mais cedo, a Promotoria de Justiça de Defesa da Criança
e do Adolescente do Ministério Público do Rio Grande do Norte instaurou
um procedimento para acompanhar o caso. Em nota, o MP afirmou que o
acompanhamento do caso transcorrerá em segredo de Justiça por envolver
uma criança, conforme previsto no Estatuto da Criança e do Adolescente
(ECA).
O Colégio CEI, onde a criança estuda, emitiu nota.
"Lamentavelmente, a escolha do traje para a participação do Halloween,
feita pela família do aluno, tocou numa ferida histórica do nosso país.
Amargamos as sequelas do trágico período da escravidão até os dias de
hoje. O Colégio CEI não incentiva nem compactua com qualquer tipo de
expressão de racismo ou preconceito, tendo os princípios da inclusão e
convivência com a diversidade como norte da nossa prática pedagógica". A
escola não impediu a participação do aluno na festa.
A mulher foi procurada pela reportagem, mas não respondeu às tentativas de contato telefônico.
Menino aparece pintado, com maquiagem que imita as escaras provocadas por chicotadas e tem as mãos acorrentadas - Reprodução/ Instagram
O caso ganhou repercussão nacional com a replicação em
massa da postagem feita pela mãe. Na postagem, ela afirmou: "Quando seu
filho absorve o personagem! Vamos abrasileirar esse negócio! #Escravo". O
menino aparece pintado, com maquiagem que imita as escaras provocadas
por chicotadas e tem as mãos acorrentadas.
Os comentários que se seguiram à publicação enalteciam a
criatividade da mãe. Quando as imagens começaram a circular nas redes
sociais, centenas de pessoas comentaram a postagem chamando-a de
"racista e preconceituosa". O cantor Marcelo D2 republicou as imagens e
entrou na discussão online. "Quando você pensa que já viu de tudo na
vida", escreveu o cantor.
Depois que a postagem do cantor ultrapassou os 2 mil
retweets no Instagram, a mãe se manifestou pela mesma rede social. "Não
leiam livros de história do Brasil. Eles dizem que existiu escravidão de
negros no país, mas isso é mentira. Não discuta com essa afirmação,
pois você estará sendo racista, A PIOR PESSOA, um lixo. Só não entendi
ainda se o problema foi o a fantasia ou o "17" na foto", escreveu.
O professor de História da África da Pontíficia
Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), Amailton Magno de Azevedo,
avaliou como desnecessária a postura da mãe em fantasiar o filho de
escravo. Segundo Azevedo, trata-se de uma "abordagem ultrapassada,
falida e deslocada e que faz reavivar uma mentalidade escravocrata". "O
passado histórico ainda persiste no imaginário brasileiro. Temos que
combater este tipo de postura, mirar na pluralidade e ter outra
narrativa. O negro tem que ser inserido na sociedade de maneira mais
digna."
(por: Estadão Conteúdo)
Nenhum comentário:
Postar um comentário