BRASIL, POLÍTICA
O ex-ministro vive com ajuda financeira da família. Seu irmão, Pedro, é
um grande empresário da área da saúde em Ribeirão Preto (SP) (TV
Globo/Reprodução)
O ex-ministro da Fazenda e da Casa Civil Antonio Palocci quer voltar ao ramo da consultoria. Condenado pela Lava Jato
a 9 anos e 10 dias de prisão em regime domiciliar por corrupção passiva
e lavagem de dinheiro, Palocci confessou ter usado a empresa Projeto
Consultoria, da qual era dono, para camuflar milhões de reais
provenientes de propinas.
Agora, espera autorização da Justiça para voltar a trabalhar. Segundo amigos, Palocci pretende auxiliar empresas na área de compliance,
termo que define a adoção de boas práticas de gestão empresarial, entre
as quais o não envolvimento em casos de corrupção, e que virou termo da
moda depois das prisões de grandes empresários pela força-tarefa de
Curitiba.
No dia 29 de novembro, pouco depois de deixar a prisão em
Curitiba para cumprir pena em regime domiciliar, em São Paulo, Palocci
pediu autorização ao juiz Danilo Pereira Júnior, da 12.ª Vara Federal de
Curitiba, para poder trabalhar enquanto cumpre a sentença.
“O trabalho não é negativo. Tenho certeza que o senhor pensa
assim também”, argumentou Palocci. “Não quero passear, não quero nada”,
completou o ex-ministro, em tom de brincadeira.
O juiz negou o pedido sob a alegação de que ele ainda não está no regime aberto.
Enquanto isso, o ex-ministro vive com ajuda financeira da
família. Seu irmão, Pedro, é um grande empresário da área da saúde em
Ribeirão Preto (SP), chegou a ser investigado pela Lava Jato mas não foi
indiciado.
No apartamento de 500 m2 em São Paulo, avaliado em 12 milhões
de reais – e bloqueado pela Justiça -, Palocci mantém alguns hábitos
adquiridos nos mais de 800 dias de prisão. Entre eles o de cultivar
mudas de frutas. Na cadeia, o ex-ministro plantava as sementes das
frutas que consumia e presenteava os parentes dos colegas de cárcere com
as mudas. Foram mais de 400.
Outro é a leitura. Palocci está lendo Macunaíma – O herói sem nenhum caráter, de Mário de Andrade, e Tipos Psicológicos, de Carl G. Jung.
A carga horária de exercícios físicos caiu de três horas diárias na cadeia para uma hora e meia.
Na prisão domiciliar, o ex-ministro pode receber visitas, desde
que não tenham ligação com os processos da Lava Jato, mas não pode sair
de casa sem autorização judicial. Ele é monitorado durante 24 horas por
dia por meio de uma tornozeleira eletrônica.
Na audiência do dia 29 de novembro, Palocci foi advertido pelo
juiz sobre a importância de manter o equipamento sempre com a bateria
carregada. “O não carregamento do equipamento nos impede de monitorá-lo.
Para nós, isso é uma fuga eletrônica, é a mesma coisa que o senhor
tivesse pulado a grade da penitenciaria e fugido”, disse o magistrado.
Na manhã de 25 de dezembro, dia de Natal, um plantonista em
Curitiba percebeu que a tornozeleira estava descarregada e procurou em
vão os advogados de Palocci. A situação só foi resolvida às 8h40, quando
o sistema de monitoramento mostrou que o dispositivo foi recarregado.
Pernoite
Na semana passada, Palocci recebeu autorização para pernoitar
na casa na qual morou em Ribeirão Preto na volta de Brasília, onde
prestou depoimentos durante três dias e fechou mais um acordo de delação
– o terceiro.
Desde o início de dezembro o ex-ministro pede autorizações para
visitar a mãe, Toninha, de 84 anos. Sua defesa entregou os comprovantes
de endereço e o plano de viagem à Justiça. “Por oportuno, esclarece-se
que os comprovantes estão em nome do requerente pois, em que pese sua
genitora lá resida temporariamente, o imóvel pertence a Antônio
Palocci.”
Toninha não viu a chegada do filho, na quarta-feira à noite,
mas foi preparar o café da manhã para ele no dia seguinte. Depois voltou
para o apartamento onde mora, no Jardim Paulista, dirigindo um Polo
prata.
A passagem de Palocci pela cidade que o elegeu prefeito três
vezes foi cercada de segredo. No PT de Ribeirão Preto, ninguém ficou
sabendo.
“Não tinha a menor ideia disso. Ninguém comentou nada em nenhum
dos grupos (de WhatsApp) do PT”, disse o presidente do diretório
municipal do partido, Fernando Tremura.
O jornalista Galeno Amorim tomou um susto quando viu a
reportagem do Estado na porta da casa, por volta das 23h. Desorientado,
tentou despistar fingindo tocar a campainha da casa vizinha.
Amorim, que presidiu a Fundação Biblioteca Nacional nos
governos petistas, foi encontrar Palocci, com quem tem uma relação
próxima há mais de 20 anos, para falar sobre a publicação do livro que o
ex-ministro escreveu na prisão.
Segundo quem tem conversado com o ex-ministro, Palocci
registrou reflexões sobre os mais de dois anos que passou na carceragem
da Polícia Federal em Curitiba, os erros do PT e os dele próprio “de
forma franca”, além de revelações sobre os anos em que foi um dos homens
mais poderosos do Brasil e seus principais personagens.
Palocci encara o livro como uma “obrigação” de abordar em
profundidade as três delações que já firmou com a Polícia Federal e o
Ministério Público Federal. A amigos, confidenciou que as colaborações
revelam 40 fatos relevantes, a maior parte ainda inédita, e disse que a
Lava Jato, enquanto instrumento de mudança da Justiça, “está só
começando”.
Entre as revelações está uma conversa com o ex-presidente Luiz
Inácio Lula da Silva na qual teria orientado o correligionário a comprar
o triplex do Guarujá que motivou sua prisão. Lula teria recusado.
(Por
Estadão Conteúdo)
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