
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (Theo Marques/FramePhoto/.)
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A força-tarefa da Lava Jato em São Paulo denunciou nesta segunda-feira 9 o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e seu irmão José Ferreira da Silva – conhecido como Frei Chico – por corrupção passiva continuada. Também foram denunciados, mas por corrupção ativa continuada, os empresários Emílio Odebrecht, seu filho, Marcelo Odebrecht, e o ex-diretor da companhia Alexandrino Alencar.
De acordo com a denúncia, entre 2003 e
2015, Frei Chico recebeu R$ 1.131.333,12, por meio de pagamento pela
Odebrecht de “mesada” que variou de R$ 3.000 a R$ 5.000 e que era parte
de um “pacote” de vantagens indevidas oferecidas a Lula, em troca de
benefícios diversos obtidos pela Odebrecht junto ao governo federal.
Frei Chico – que é sindicalista e teria
sido responsável por levar Lula ao movimento sindical – iniciou, segundo
os procuradores, uma relação com a Odebrecht ainda nos anos 1990,
quando estava em curso o Programa Nacional de Desestatização, que sofreu
forte resistência dos trabalhadores do setor petroleiro, ao qual o
irmão de Lula é ligado. No total, segundo o MPF, 27 químicas e
petroquímicas estatais federais foram vendidas.
Ainda de acordo com a denúncia, a Odebrecht
vinha tendo problemas com os sindicatos e Emilio Odebrecht, então
presidente da companhia, buscou uma aproximação com Lula, que teria
sugerido a contratação do irmão como consultor para intermediar um
diálogo entre a Odebrecht e os trabalhadores.
Frei Chico, neste contexto, foi contratado e passou a ser remunerado por
uma consultoria efetivamente prestada para a Odebrecht junto ao meio
sindical. Em 2002, com a eleição de Lula, a Odebrecht entendeu por bem
rescindir o contrato da consultoria prestada por Frei Chico, até porque,
na época, a privatização do setor petroquímico já havia se consolidado e
os serviços que ele prestava não eram mais necessários. Contudo,
decidiu manter uma “mesada” ao irmão do presidente eleito, visando
manter uma relação favorável aos interesses da companhia. Os pagamentos
começaram em janeiro de 2003, no valor de R$ 3.000, em junho de 2007
passaram a ser feitos de R$ 15.000 a cada três meses (R$ 5.000 por mês),
e cessaram somente em meados de 2015, com a prisão de Alexandrino pela
Lava Jato.

Frei Chico, irmão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que foi
denunciado por corrupção passiva pela Lava Jato (Evandro Éboli/VEJA)
O MPF aponta que, ao contrário do que acontecia com a remuneração pela
consultoria prestada por Frei Chico até 2001, a “mesada” que começou a
receber em 2002 era feita de forma oculta, por meio do Setor de
Operações Estruturadas da Odebrecht, responsável por processar os
pagamentos de propina feitos pela companhia. Ainda de acordo com a
denúncia, os pagamentos eram feitos em dinheiro pessoalmente por
Alexandrino para não haver risco de exposição de Lula.
Em seu interrogatório, Frei Chico admitiu
que recebeu pagamentos da Odebrecht, alegando, em sua defesa, que as
consultorias que prestava continuaram depois de 2003. Porém, mesmo dada
oportunidade, segundo o MPF, não apresentou quaisquer provas nesse
sentido. Os crimes de corrupção passiva e corrupção ativa têm pena de 2 a
12 anos de prisão e multa. Na modalidade continuada, as penas podem ser
aumentadas de um sexto a dois terços. Ou seja, se condenados, Lula e
Frei Chico poderão receber sentenças de 2 anos e 4 meses a 20 anos de
prisão.
Leia aqui a íntegra da denúncia.Defesa
A defesa de Lula afirmou que a nova denúncia “repete as mesmas e descabidas acusações já apresentadas em outras ações penais”, como a que trata da doação de um terreno para o Instituto Lula – que nunca se concretizou – e que tramita na 13ª. Vara Federal Criminal de Curitiba.“Lula jamais ofereceu ao Grupo Odebrecht qualquer ‘pacote de vantagens indevidas’, tanto é que a denúncia não descreve e muito menos comprova qualquer ato ilegal praticado pelo ex-presidente. Mais uma vez o Ministério Público recorreu ao subterfúgio do ‘ato indeterminado’, numa espécie de curinga usado para multiplicar acusações descabidas contra Lula”, afirma o advogado Cristiano Zanin Martins. “O ex-presidente também jamais pediu qualquer vantagem indevida para si ou para qualquer de seus familiares”, completou.
A defesa lembra ainda que a denúncia foi divulgada no dia seguinte a “graves revelações pelo jornal Folha de S. Paulo de atuação ilegal da Lava Jato contra Lula, mostrando a ocultação de provas de inocência e ação indevida e ilegal voltada a romper a democracia no país”. A reportagem mostra que os grampos feitos contra o petista em 2016 – entre os quais o que ele falava com a então presidente Dilma Rousseff sobre sua posse como ministro da Casa Civil – mostravam o ex-presidente mais preocupado em articulações para salvar o mandato da petista do que em ganhar proteção contra a Lava Jato, como alegou à época Moro e os procuradores de Curitiba.
“O uso de processos criminais e a repetição das mesmas e descabidas acusações em processos diferentes comprova que Lula é vítima de lawfare, que consiste no abuso das leis e dos procedimentos jurídicos para promover perseguições políticas”, afirma Zanin.
(Por:Veja.com.br)
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