BRASIL, POLÍTICA
Luís Roberto Barroso, ministro do Supremo Tribunal Federal, tomou posse ontem no TSE - AFP PHOTO / EVARISTO SA
Brasília - Em entrevista coletiva na manhã desta terça-feira, o ministro
do Supremo Tribunal Federal (STF), Luiz Roberto Barroso, falou pela
primeira vez à imprensa após assumir o cargo de presidente do Tribunal
Superior Eleitoral (TSE). O ministro tomou posse nesta segunda, em
cerimônia virtual, e cumprirá mandato até fevereiro de 2022.
Apesar
da animosidade do governo em relação ao Supremo Tribunal Federal,
escancarada após a divulgação do vídeo na reunião ministerial de 22 de
abril, o ministro disse não acreditar que estejamos diante de um momento
de instabilidade institucional.
Barroso, no entanto, defendeu
atenção em relação às manifestações anti-democráticas em escalada no
país e lembrou o ato contra o Congresso e o STF em frente ao Quartel
General do Exército, em Brasília, no dia 19 de abril. Para o ministro, a
manifestação, que contou com presença do presidente Jair Bolsonaro,
acendeu 'sinal de alerta'.
"Evitar a contaminação das Forças
Armadas no varejo da política é uma missão de todos os democratas. O
fato de haver militares no governo não faz do governo um governo das
Forças Armadas, porque as Forças Amadas não pertencem a governo. E quem
quer que seja das Forças Armadas e esteja no governo desempenha uma
função civil", disse o ministro em recado à parcela de apoiadores
bolsonaristas que defende a volta do AI-5, medida do governo militar
durante a ditadura responsável pelo fechamento do Congresso e por
limitações aos direitos individuais.
Os ataques ao Supremo
partiram também da cúpula governista. Na reunião ministerial de 22 de
abril, cuja gravação foi tornada pública no âmbito do inquérito que
corre no Supremo para apurar se houve tentativa de interferência
política de Bolsonaro na Polícia Federal, o ministro da Educação,
Abraham Weintraub, chama os integrantes da Corte de 'vagabundos' e pede
sua prisão
Na segunda, o ministro Celso de Mello, encaminhou para
os colegas da Corte a cópia do inquérito e deixou a cargo dos ministros
as medidas que 'que julgarem pertinentes' em relação à declaração. O
decano do STF já havia apontado 'aparente prática criminosa' na conduta
de Weintraub durante a reunião. O ex-advogado geral da União, André
Mendonça, busca uma interlocução com os ministros do Supremo para evitar
uma judicialização das declarações do ministro.
"Do ponto de
vista institucional, eu considero mais grave que o ataque ao Supremo, o
país que não tem projeto para a educação", disparou o ministro em
retribuição aos ataques do ministro Abraham Weintraub.
Perguntado
sobre ações que pedem a cassação dos mandatos do presidente Jair
Bolsonaro e do vice, Hamilton Mourão, Barroso afirmou que deve pautar os
pedidos nas próximas semanas. "Hoje terei uma reunião com os ministros,
uma reunião preparatória, mas a regra geral é seguirmos a ordem
cronológica dos pedidos de liberação pelos relatores. Uma que já teve
início, por um pedido de vista do ministro Luiz Edson Fachin,
provavelmente nas próximas semanas, uma, duas, três, essa ação deve
estar voltando", informou.
Apresentadas por Marina Silva (Rede) e
Guilherme Boulos (PSOL) após o episódio de invasão de um grupo de
mulheres no Facebook que eram contrárias à candidatura bolsonarista ao
Planalto, as ações pedem a cassação dos registros de candidatura, dos
diplomas ou dos mandatos da chapa vitoriosa nas eleições de 2018, além
da declaração de inelegibilidade.
Eleições 2020
Barroso
voltou a defender, como no discurso de posse, o mínimo adiamento das
eleições diante da epidemia de Covi-19 no país. "Eu acho que o limite
será as autoridades sanitárias relevantes, nos dizerem, ao TSE e ao
Congresso, que há um risco grave à saúde da população. Se for inevitável
a prorrogação, que ela se dê também pelo prazo mínimo".
Para o
ministro, prorrogar os mandatos vigentes esbarra em um impasse
constitucional e democrático. "O mandato desses vereadores e prefeitos é
um mandato de quatro anos. Não há como, legitimamente, você prorrogar
eleições sem um motivo de força maior. A periodicidade das eleições e a
possibilidade de alternância do poder são fundamentais para a
democracia", declarou.
A posição de Barroso endossa o projeto
estudado no Congresso Nacional, que prevê adiar o primeiro turno deste
ano para 15 de novembro ou 6 de dezembro, de modo a permitir que o
pleito ocorra com segurança, sem riscos relacionados à pandemia, mas
evitar que os atuais mandatos de prefeitos e vereadores sejam
prorrogados.
O ministro também afirmou que não cabe ao TSE o
protagonismo no combate à disseminação de notícias falsas nas eleições.
"O protagonista do combate às fake news precisará ser as plataformas
tecnológicas, com participação da imprensa, das empresas de checagem de
fatos, e da própria população. O papel do TSE é meramente subsidiário",
disse.
Ele admitiu, no entanto, que o Tribunal Superior Eleitoral
poderá solicitar o compartilhamento de informações do chamado
'inquérito das fake news', que corre em sigilo no STF para apurar
ofensas, ameaças e notícias falsas contra os ministros da Corte e seus
familiares.
Barroso também adiantou que sua gestão à frente do
Tribunal Superior Eleitoral, em sucessão à ministra Rosa Weber, buscará
aprimorar o sistema de prestação de contas eleitorais. O ministro
afirmou que a equipe já está discutindo propostas para levar ao
Congresso. Entre elas, um modelo semelhante ao imposto de renda, cuja
avaliação das contas é feita por programas de inteligência artificial.
Independente do mecanismo escolhido, a mudança abrangerá a prestação de
contas de partidos, candidatos e dos fundos partidário e eleitoral,
segundo o ministro.
(Por:Estadão Conteúdo)
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