CATÁSTROFE HUMANITÁRIA
Profissionais de saúde vêm enfrentando uma rotina das mais desgastantes e dolorosas
Na angustiante e cotidiana contagem dos mortos pela
covid-19, chegamos a 300.685 óbitos. O Ministério da Saúde impôs novas
regras para o registro de mortes, o que dificultou muito a
contabilização dos dados, mas recuou horas depois. Em São Paulo, por
exemplo, foram 281 óbitos nesta quarta-feira, contra 1.021 no dia
anterior. No Brasil, nas últimas 24 horas, as mortes somaram 2.009.
Nos últimos 76 dias no país, mais 100 mil vidas foram
perdidas. Em um ano de pandemia, nos vemos no momento mais cruel:
hospitais públicos e particulares superlotados, profissionais de saúde
exaustos e abalados, familiares desesperados por uma vaga para o avô, o
pai, a mãe, o filho... E a perspectiva é que em abril a situação se
agrave. Ao menos três estados não têm mais UTI para pacientes infectados
pelo coronavírus: Acre, Rondônia e Mato Grosso do Sul. Mais 13, além do
Distrito Federal, estão com o índice acima de 90%: Amapá, Ceará,
Espírito Santo, Goiás, Mato Grosso, Minas Gerais, Paraná, Pernambuco,
Piauí, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e São
Paulo.
O negacionismo e a irresponsabilidade racharam o
país. Caímos no enorme buraco do medo e da incerteza, não fazemos ideia
do quanto ainda despencaremos, nem se sairemos. A doença não dá trégua, o
vírus se reinventa, a vacina chega a conta-gotas e milhões de
brasileiros parecem anestesiados, preferem ignorar a realidade, viver
(ou morrer) num mundo paralelo. Não usam máscaras, não evitam
aglomerações, não deixam de frequentar festas clandestinas. Fazem como
ninguém o papel de voluntárias 'bombas humanas', prestes a explodir em
contaminações.
Em meio à crise sanitária, estamos no quarto ministro
da Saúde, transformamos a pandemia em pandemônio diário, com falta de
leitos e de insumos. Há um ano, o ex-ministro Luiz Henrique Mandetta
alertava que, "se fizéssemos tudo errado", chegaríamos a 180 mil mortos
em 2020. E como erramos! Temos 10% dos óbitos de todo o mundo. Jamais
foi uma 'gripezinha'. Até para os negacionistas é bem difícil fugir do
mundo real. Afinal, quem de nós não perdeu um parente, não tem um amigo
que chorou a morte de alguém próximo?
Mas o que são 300 mil vidas? Muito difícil dar a
exata medida desse trágico número em palavras. É como se desaparecessem
de uma só vez todos os moradores dos bairros de Copacabana, Ipanema,
Leblon, Leme e Flamengo. Somente nove municípios do Estado do Rio têm
mais de 300 mil habitantes. Os outros 83 sumiriam. É como se numa guerra
nossas Forças Armadas fossem dizimadas, com 90% dos homens tombando no
campo de batalha. Você se emocionou com os garotos que morreram no
incêndio no Ninho do Urubu e tiveram interrompido o sonho no Flamengo?
Pois é: 300 mil são a repetição daquela tragédia por 30 mil dias, ou 82
anos. Mas, e daí? Hoje, o Brasil vai continuar contando os seus mortos,
numa rotina fúnebre e cruel demais. Você quer mesmo ser cúmplice dessa
catástrofe?
LUIZ HENRIQUE MANDETTA, ex-ministro da Saúde
"Trezentas mil vezes a não decisão pela vida, o
boicote ao SUS e a negação da Ciência deram nesse número. E,
infelizmente, ainda não chegamos ao fim. Mas, se a gente economizar uma
vida, já terá valido a pena".
ELENA LANDAU, economista
"É difícil encontrar palavras para tamanha tragédia. E
o pior de tudo uma tragédia previsível. Não foi por falta de aviso. Os
cientistas, a população, a sociedade pedindo políticas de governo de
combate à pandemia. Vacinação em massa, distribuição de máscaras, uma
coordenação do governo na área da Saúde, da Educação... o que está
acontecendo é duplamente trágico porque era previsível, era evitável em
boa parte, e o governo, não só não criou condições para evitar, como vem
sabotando toda e qualquer medida para evitar mais tragédias como essa.
Vai ao Supremo contra medidas de governadores e prefeitos, retarda o
auxílio emergencial. É trágico, é uma banalização da palavra tragédia
porque é muito mais do que isso"
RODRIGO MAIA, ex-presidente da Câmara dos Deputados
“Chegamos ao inaceitável número de 300 mil mortos
pela covid-19 no Brasil. Infelizmente, o negacionismo e o desprezo pela
Ciência do governo Bolsonaro vêm gerando graves consequências aos
brasileiros e às suas famílias. Essas mortes e os impactos da pandemia
na economia poderiam ser minimizados com a compra de vacinas ainda no
ano passado e com o (bom) exemplo dado pelo presidente. O peso das
mortes dessas milhares de pessoas que se foram por causa de uma doença,
que nunca foi só uma gripezinha, acompanhará Bolsonaro, mesmo após sair
do cargo”.
ANDRÉ CECILIANO, presidente da Assembleia Legislativa do Rio
“É muito triste e lamentável o país ter atingido esse
número de mortos. Na Alerj, temos trabalhado, incansavelmente, e tomado
todas as medidas para ajudar o Estado no enfrentamento à covid-19. No
ano passado, por exemplo, dos mais de 1.600 projetos de lei
apresentados, a maioria foi relacionada ao combate à pandemia; e desse
total 435 projetos se tornaram leis de proteção à vida e ao direito do
cidadão. Acabamos de aprovar, na Casa, a lei já sancionada que cria um
auxílio emergencial de até R$ 300 voltado à população em vulnerabilidade
social e que prevê também linha de crédito de até R$ 50 mil para
microempreendedores individuais, autônomos, entre outras categorias.
Todo esse esforço é importante, mas sabemos que a pandemia só será
controlada com a vacinação em massa dos brasileiros. Portanto, a
principal luta é ampliar o número de pessoas vacinadas o quanto antes
possível".
RAUL VELLOSO, economista
"A chegada do Brasil a número tão alto de mortes por
covid, especialmente em comparação com os demais países, reflete a
combinação da alta vulnerabilidade da população carente com o desacerto
das políticas e ações seguidas por aqui. Ou seja, o negacionismo das
autoridades, a falta de ação na compra de vacinas no ano passado e,
principalmente, a falta de coordenação das políticas de isolamento
social. Em adição, o governo falhou muito ao hesitar na definição e na
implementação de medidas como auxílio emergencial às pessoas carentes".
PATRICIA PILLAR, atriz
“Pela completa falta de responsabilidade e humanidade
deste governo, a parte mais pobre da população está com fome.
Precisamos urgentemente de um auxílio emergencial digno para que pessoas
não morram também de fome nesse país. Aproveito este espaço para
reforçar a importância de ajudar quem possa estar com dificuldade de
alimentar sua família nesse momento".
CARLO CAIADO, presidente da Câmara de Vereadores do Rio
(Por Fernando Faria/O Dia)
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