quinta-feira, 30 de outubro de 2014

Dia Nacional do Livro: bibliotecas são esquecidas pelos potiguares. Plano Municipal está em fase de conclusão e prevê “transformar” espaços em centros culturais

LAMENTÁVEL

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Marcelo Lima
marcelolimanatal@yahoo.com.br

Se depender das bibliotecas públicas localizadas no centro de Natal, o Dia Nacional do Livro (hoje, 29) vai passar esquecido. Tão esquecido quanto as próprias bibliotecas do ponto de vista do poder público e da própria população. A Biblioteca Estadual Câmara Cascudo está fechada para uma reforma que não anda, enquanto que a Biblioteca Municipal Esmeraldo Siqueira está em condições insalubres.

No bairro de Petrópolis, a instituição que leva o nome do maior intelectual potiguar fechou há anos e não tem previsão para abrir. “Inclusive essa situação não se vê em lugar nenhum, só aqui. Em qualquer outro lugar, a reforma é feita por partes, e não fechando o prédio inteiro”, observou a coordenadora geral do Instituto de Desenvolvimento da Educação (IDE), Cláudia Santa Rosa.

Na Cidade Alta, a Biblioteca Municipal Esmeraldo Siqueira é “invisível” segundo Santa Rosa. A instituição fica dentro do prédio da Secretaria Municipal de Cultura (antiga Fundação Cultural Capitania das Artes, Funcarte). O desconhecimento da população sobre essa biblioteca foi constatado na pesquisa “Natal quer ler mais”, que diagnosticou a relação do natalense com o livro.

Mas basta perguntar a qualquer um que circule pela região para verificar quanto ela está “escondida”. Exemplo disso é o ferroviário Ed Franklin da Silva de 45 anos. Quando questionado sobre a biblioteca pública mais próxima, ele responde: “eu só sei da Câmara Cascudo e sei que ela está passando por uma reforma que nunca acaba”.

Ed Franklin também lembrou saudosamente dos tempos em que frequentava o lugar. “Eu cheguei a ir lá nos anos 70 para trabalhos escolares porque morava em Petrópolis”, contou. Quando soube que havia uma biblioteca pública em frente ao prédio por onde passava, o ferroviário ficou surpreso. “Nunca ouvi falar, acho que está faltando divulgação. E olha que eu trabalho por aqui por perto”, falou.

De acordo com Santa Rosa, a pesquisa Natal Quer Ler Mais também identificou que a região leste da cidade é uma das que possui percentual mais alto de moradores que não conhecem onde ficam as bibliotecas públicas, embora seja uma região privilegiada em comparação com as outras zonas da cidade.
Na zona Oeste de Natal, não há uma biblioteca pública sequer. “Não é por acaso que a pesquisa visualiza uma grande lacuna nessa área no que diz respeito à relação do morador com o livro”, complementou a coordenadora do IDE. É por isso que a operadora de caixa Elaine Lima Nogueira, de 30 anos, tinha que se deslocar da zona Oeste para Petrópolis para realizar trabalhos da escola que necessitassem de pesquisa. “Com certeza faltam biblioteca públicas em Natal. Quando eu precisava era muito ruim porque eu tinha que me deslocar até à Câmara Cascudo. Eu morava em Nova Cidade”, relembrou.

Na zona Norte de Natal, existe a Biblioteca Pública Américo de Oliveira. “Está em estado sofrível, O Estado assume, mas não assume”, disse em relação a precariedade que também se encontrar a instituição. Na zona Sul, não há bibliotecas públicas, embora existam muitas bibliotecas universitárias como a Biblioteca Central Zila Mamede da UFRN. Mas segundo Cláudia Santa Rosa, o conceito é diferente. Apesar de o acesso ser público, o empréstimo de livro está restrito aos servidores, professores e alunos.

Plano Municipal
O Plano Municipal do Livro, Leitura, Literatura e das Bibliotecas está em fase de finalização segundo a coordenadora do IDE. Ela acredita que em 30 dias o plano siga para as mãos do Prefeito Carlos Eduardo Alves para ser enviado à Câmara Municipal para discussão e aprovação. Ainda segundo Santa Rosa, o plano já trabalha o conceito de “biblioteca viva”, quando essas instituições funcionam mais como centros culturais do que apenas um depósito de livros. Conforme esse conceito, as bibliotecas devem organizar uma programação contínua de eventos literários e até de outras expressões artísticas para estimular a leitura.

Biblioteca Pública espanta visitantes
Além de ser desconhecida pela população, o poder público faz pouco caso da situação na Biblioteca Municipal Esmeraldo Siqueira fundada em 1999. Quem chega ao lugar, encontra logo os funcionários do lado de fora do ambiente, porque os aparelhos de ar condicionado estão quebrados. Um dos aparelhos está quebrado há mais de um ano e o outro há quatro meses.

Entrar na biblioteca é outro desafio. O calor e forte odor de mofo impedem que qualquer visitante fique mais de cinco minutos entre os livros. Como se os problemas estruturais não bastassem, a biblioteca não tem servidores suficientes para se manter aberta no período da tarde. O funcionamento se restringe das 8h às 12h da manhã.

A Biblioteca tem mais cerca de 30 mil exemplares. O espaço também é insuficiente para as doações que chegam à instituição, única forma de aquisição de novas obras ultimamente. Uma das maiores gibitecas do Rio Grande do Norte, com mais de 4 mil exemplares, também está instalada na biblioteca municipal. O mais recente evento da sua programação foi o aniversário realizado em maio deste ano. O coordenador da biblioteca não quis dar declarações para O JORNAL DE HOJE, pois disse que não tinha autorização para isso.

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