MAU EXEMPLO
Alessandra Bernardo
alessabsl@gmail.com
Quem frequenta a praia de Ponta Negra possui inúmeras reclamações sobre a situação de abandono e descaso que é possível encontrar no local, principalmente com relação à infraestrutura das escadarias e rampas de acesso ao mar e a limpeza urbana. Lixo, mato, restos de metralha e falta de acessibilidade são alguns dos pontos mais críticos que são citados pelos turistas, banhistas e comerciantes que trabalham na região, uma das mais belas de Natal.
Trabalhando em Ponta Negra há 13 anos, o comerciante Gentil Ferreira afirmou que 100% das pessoas que passam pelo seu ponto comercial reclamam da fala de infraestrutura e acessibilidade à areia, obrigando as pessoas a se arriscarem sobre as pedras colocadas para o enroncamento da praia ou descerem em escadas improvisadas de madeiras que não oferecem o mínimo de segurança.
“Isso é um absurdo, inadmissível, uma vergonha para Natal e o nosso Estado. Todos que passam aqui reclamam, tem dificuldades em subir ou descer essa rampa, que deveria ser para cadeirantes, mas não tem a mínima condição nem para nós, que andamos, imagine para uma pessoa com deficiência física. Diariamente, escuto reclamações e já colocamos esses sacos de areia para tentar ajudar as pessoas que usam esse acesso, mas ainda assim é difícil”, afirmou.
A rampa de madeira, hoje transformada em escada por causa dos sacos de areia, possui cerca de oito metros de extensão e é uma das muitas espalhadas sobre o enroncamento, para facilitar o acesso ao mar. No entanto, é alvo ainda do desgaste natural pelo tempo e a ação da água. Uma pequena parte dela foi coberta pela areia e, segundo Gentil, muitas pessoas preferem se arriscar sobre as pedras do que passar pela estrutura.
A turista paranaense Celi Bahia foi uma das poucas que usaram a escada improvisada durante a manhã desta terça-feira (28). Cansada pelo esforço físico, ela disse que ficou horrorizada com a situação de Ponta Negra e condenou o lixo, o excesso de mato e a sujeira que é encontrada por quase toda a orla. A acessibilidade precária também foi criticada por ela, que afirmou não voltar mais à cidade.
“Estou decepcionada com Natal, um lugar tão bonito e com um potencial turístico imenso, mas tão abandonada ao descaso. É uma situação lamentável, um absurdo, um crime. Em dois dias, já vi esgoto correndo para a água, muita sujeira e matagal na beira-mar, total falta de acessibilidade, agora mesmo tive que subir em uma escada de sacos de areia, uma coisa horrorosa. Quando comprei o pacote, vi belas imagens, mas quando cheguei, encontrei coisa totalmente diferente, com certeza não voltarei e não recomendo”, desabafou.
Quem também se assustou com o que encontrou em Ponta Negra foi a turista carioca Amanda Furtado, que disse estar desapontada com a situação de degradação vivida pela praia mais famosa de Natal. Para ela, é preciso uma intervenção paisagística urgente, com limpeza e urbanização da área, para que a orla volte a ser atrativa e receptiva aos turistas.
“Esse matagal todo, junto com o lixo e o estado das estruturas de acesso ao mar, sem contar no esgoto que escorre para a praia, são inadmissíveis. É um cenário muito pior que uma favela, por exemplo. Porque é isso que parece. Infelizmente, porque já tinha visto muitas fotos desta praia e todas eram lindas, mas quando cheguei aqui, encontrei esse cenário deprimente. As autoridades precisam fazer algo urgente, ainda mais agora, chegando a alta estação”, falou.
Pesagem encontra pedras abaixo do recomendado
Na manhã desta terça-feira (28) foi realizada a terceira pesagem das rochas usadas no enroncamento da praia de Ponta Negra e, novamente, os peritos da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) encontraram pedras com peso muito abaixo do exigido pelo projeto original, que custou mais de R$ 5 milhões aos cofres públicos, em recursos federais e municipais. Das sete pedras medidas durante a manhã, apenas uma estava dentro das especificações, com 2.068 quilos. As demais variavam entre 302 e 748 quilos.
Conforme o contrato com a empresa executora das obras, as rochas deveriam ter entre 1.840 e 2.300 quilos, no entanto, segundo consultoria feita no mês passado por uma empresa privada, elas não tinham mais que 1,1 mil quilos. O trabalho de medição deve ser feito até a Rua Tivoli, último acesso da orla À Avenida Roberto Freire, no sentido Morro do Careca-Via Costeira.
“Dentro de um universo de 40 mil a 250 mil pedras usadas nestes dois quilômetros de enroncamento, checaremos no máximo 30 rochas. Estamos analisando como poderemos fazer essa medição na parte onde não há via para veículos, possivelmente com uma retroescavadeira, mas ainda não foi decidido. Queremos fazer esse trabalho de forma a termos uma amostragem mínima com 90% de confiabilidade, para emitir o relatório final”, explicou o coordenador de peritos da UFRN, Ângelo Roncalli.
A checagem começou no último dia 20, quando estiveram presentes também a promotora do Meio Ambiente do Ministério Público Estadual, Gilka da Mata e a procuradora da República e representante do Ministério Publico Federal, Clarisier de Morais. Gilka afirmou, na ocasião, que o fato de encontrar pedras muito abaixo do recomendado era preocupante porque comprometiam a durabilidade do serviço e a integridade física das pessoas, já que as pedras menores podem se deslocar com a movimentação no trecho.
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