quarta-feira, 24 de junho de 2015

Lula tem direito de criticar, afirma Dilma

POLÍTICA

Brasília (AE) - As duras críticas feitas pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao PT, dias após ter afirmado que tanto ele como sua sucessora, Dilma Rousseff, estavam no “volume morto”, provocaram mal estar no Palácio do Planalto, mas foram bem recebidas por petistas que pedem mudanças radicais no partido.

Marcelo Camargo
Dilma Rousseff evitou um comentário mais detalhado sobre as crítica do ex-presidente LulaDilma Rousseff evitou um comentário mais detalhado sobre as crítica do ex-presidente Lula

Embora Dilma tenha dito que Lula tem o direito de fazer críticas, o movimento do ex-presidente contrariou o governo. "Acho que todo mundo tem direito de criticar, ainda mais o presidente Lula, que é muito criticado por vocês", afirmou Dilma.

Nos bastidores, ministros do PT observaram que Lula toma a dianteira para se afastar dos escândalos de corrupção que abalam o partido e aponta falhas do governo por não ser ouvido e se sentir abandonado por Dilma. Avaliaram, porém, que essa atitude escancara a divisão entre “criador” e “criatura” e prejudica a presidente.

O líder do governo na Câmara, José Guimarães (CE), disse que as críticas de Lula são pertinentes enquanto observações internas e “não públicas”. “Vamos esperar as eleições. Já vi tantas projeções feitas e não realizadas. Vamos aguardar 2016”.

Para o senador Lindbergh Farias (RJ), “o PT não pode só dizer amém ao governo Dilma”. “É preciso mais independência e Lula está certo ao dar essa chacoalhada. Ele está preocupado com a política e o andar das coisas. Tudo o que está dizendo precisa ser visto à luz desse momento de tensão”, completou o senador Jorge Viana (AC).

Respaldo
O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, disse que Lula tomou uma “posição de vanguarda” que deve levar os petistas à reflexão “daquilo que é necessário” corrigir. “O presidente Lula é um dos grandes líderes da história do Brasil, é um líder com peso nacional e internacional. É absolutamente legítimo que ele professe aquilo que ele ache correto”, disse Cardozo a jornalistas, ao participar da divulgação do Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias (Infopen), em Brasília. “Eu, pessoalmente, participo de uma corrente do PT que há alguns anos acha que algumas questões teriam de se reformuladas. Acho que o nosso líder maior, ao fazer essa reflexão, induz todos os petistas e simpatizantes a refletirem sobre isso”, comentou o ministro, que integra a corrente Mensagem ao Partido, mais à esquerda da corrente majoritária Construindo um Novo Brasil (CNB), à qual pertence o ex-presidente. Na avaliação de Cardozo, Lula “toma uma posição de vanguarda” ao colocar o tema em debate “Com essa posição do presidente Lula, isso nos leva a pensar, sim, em correção daquilo que é necessário”, afirmou Cardozo.

Em nota, a bancada do PT no Senado fez um desagravo a Lula, que na segunda-feira disse que o PT está “velho” e só pensa em cargos. “Temos que definir se queremos salvar a nossa pele e os nossos cargos ou se queremos salvar o nosso projeto”, fustigou o ex-presidente, em palestra promovida pelo Instituto Lula.

Líder do PT minimiza declarações
Brasília (AE) - O vice-presidente nacional do PT e líder do governo na Câmara, deputado José Guimarães (CE), minimizou as críticas do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao partido. Disse que se o governo federal conseguir retomar o crescimento econômico, o PT se sairá bem nas eleições municipais de 2016.

"Nossa preocupação agora é retomar o crescimento da economia brasileira. Quem ganha a eleição é economia, é bolso, não é nada de outra coisa. Se a economia retoma o processo de crescimento em 2016, não tenho menor dúvida de que nós vamos sair bem. Tem muita água pra rolar ainda", disse José Guimarães.

Em palestra realizada na segunda-feira, 22, em São Paulo, Lula disse que o PT está "velho e viciado em poder" e que "só pensa em cargos". O dirigente petista demonstrou desconforto com as declarações do ex-presidente da República e criticou "quem fica apregoando essa história que o PT está no fundo do poço ou está no volume morto".

Para ele, as críticas de Lula são pertinentes enquanto observações internas e "não públicas". "Vamos esperar as eleições. Já vi tantas projeções feitas e não realizadas. Vamos aguardar 2016", completou.

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