George Câmara, do Partido Comunista do Brasil (PCdoB), foi um dos
primeiros pré-candidatos a prefeito lançados às eleições de 2016, em
Natal. A decisão foi divulgada em novembro do ano passado e, se
confirmada na convenção do partido, vai gerar uma situação política no
mínimo inusitada.
O PCdoB, atualmente, é aliado
do prefeito Carlos Eduardo Alves (PDT). Conta, inclusive, com uma pasta
importante na gestão municipal: a da Educação, comandada pela
professora Justina Iva, filiada à legenda comunista. Ao mesmo tempo é
aliado em nível estadual do PSD do governador Robinson Faria - que é
oposição à gestão municipal. O PCdoB, por sua vez, quer o apoio do
governador.
George Câmara é vereador de Natal no terceiro mandato e está
licenciado porque atualmente exerce o cargo de secretário estadual de
Esportes e Lazer. Para ele, a possível candidatura faz parte de um
processo de amadurecimento do partido que já vem ocupando espaços
institucionais no Legislativo (nas três esferas federativas) e nos
últimos anos passou a ocupar o Executivo em cidades brasileiras de
grande e médio porte, além do governo do estado do Maranhão. O PCdoB,
diz, se considera credenciado devido à experiência acumulada. A sigla
conta com 51 pré-candidatos a vereador.
Câmara
justifica que o apoio à atual gestão municipal surgiu em um momento em
que era preciso se unir para “recuperar a cidade da catástrofe que foi a
gestão de Micarla de Sousa”. Passados três anos o pré-candidato
considera que o prefeito conseguiu alguns feitos, como superar a
ausência de projetos para as obras que foram realizadas para a Copa do
Mundo de 2014, quando ocorreram quatro jogos na cidade. “Mas essa gestão
também enfrenta suas dificuldades”, considera.
Para
ele o município não exerce um protagonismo na discussão sobre a região
metropolitana e deixa a desejar na articulação entre as cidades e o
estado. Além disso, de acordo com o secretário de Esportes do estado, a
cidade vive a reboque dos repasses federais, sem lutar junto a outras
capitais por uma reforma que gere real autonomia. Por fim, considera que
Natal não avançou no diálogo entre gestor e população.
“Não
basta fazer num belo dia, num sábado de manhã, uma reunião sobre
orçamento participativo, sem que isso tenha sido precedido de um
movimento de consulta aos bairros, de ter delegados designados para esse
bairro. É preciso capacitar a população para que ela atue como fiscal”,
sublinha. A capacitação dos técnicos efetivos também é um de seus
focos. Além de gerar uma memória técnica (os servidores continuam,
independentemente da gestão), eles teriam capacidade para executar
projetos que hoje são feitos por empresas contratadas, argumenta.
“Natal pode ser refém de uma empresa que vem de fora para fazer uma
licitação de transporte público”, pondera.
George
disse que, apesar de o partido ainda fazer parte da gestão municipal,
discute o possível rompimento de forma franca. “Você tem 10 candidatos
de oposição, mas não pode ter mais de um de situação. Claro que o PCdoB
sabe disso. Ao fazer essa formulação de lançar candidatura própria o
partido tem claro que Natal precisa mudar. Entendemos que é preciso
avançar mais e que os limites dessa gestão vem se revelando”, diz.
George conclui que o assunto ainda é um debate interno, mas não
escondido. “No momento da convenção tomaremos nossa decisão definitiva
com partidos aliados e vamos buscar apoio na base de apoio do nosso
projeto nacional”, acrescenta.
Meta do partido é segundo turno
Nas
eleições para o Palácio Felipe Camarão, sede da prefeitura de Natal,
George Câmara quer ir ao segundo turno. Desde já, acredita que o partido
pode receber ou dar apoio ao PT e ao PSD na segunda fase do pleito.
Vale ressaltar que o PT, aliado local e nacional, já apresentou a
pré-candidatura do deputado estadual Fernando Mineiro. “Não fazemos isso
para encurralar o governador (Robinson Faria). Pelo contrário, é para
darmos mais alternativas. Nos partidos da base aliada, considerando que
Natal tem dois turnos, você pode ter postulações de várias candidaturas
de perfis parecidos, no campo popular. E no segundo turno vamos buscar o
apoio dos partidos que não alcançaram êxito”, conclui. Os três partidos
(PCdoB, PT e PSD) já conversam por apoio mútuo pelas prefeituras de
Caicó, Ceará-Mirim e Parelhas.
Do ponto de vista
das alianças municipais, ele considera que o partido de Carlos Eduardo
seguiu um caminho pelo qual o PCdoB não deverá ir. “O PDT escolheu um
caminho mais conservador. O mesmo Henrique Alves (PMDB), que dois anos
antes tentou inviabilizar a eleição de Carlos Eduardo em 2012, recebeu
seu apoio para governador em 2014”, lembra. O PCdoB, diz, não fez esse
movimento, apesar de ter respeitado a posição do aliado. Se tivesse
embarcado na aliança aponta, “estaria fortalecendo os setores que
chantageiam Dilma e governa o Brasil há 500 anos”.
IMPEACHMENT
Sobre
política nacional, o pré-candidato considera que o pedido de
impeachment contra a presidente Dilma Rousseff (PT), é um golpe. Para
ele, não existem as prerrogativas que ensejem o impedimento da petista.
“O que existe é uma oposição descontente com o resultado das eleições e
que tenta fazer a reedição do que o corvo Carlos Lacerda fez a Getúlio
Vargas. Não pode se candidatar; se candidato, não pode ser eleito; se
eleito, não pode tomar posse; se empossado, não pode governar. Mas se
não pode governar, para o país”, comenta.
Especialista em regiões metropolitanas
Com
estudos a respeito das regiões metropolitanas e pós-graduação em Gestão
de Políticas Públicas, George Câmara criou a primeira experiência de
parlamento comum no Brasil em 2001, dois meses após assumir uma cadeira
na Câmara Municipal de Natal. Hoje ele faz parte do Conselho Nacional
das Cidades. A discussão a respeito desse tema deve ser uma de suas
principais pautas ao longo da campanha para a prefeitura de Natal.
“Dentro
do movimento municipalista você, às vezes, resolve muitos problemas.
Mas se você se exacerbar nessa visão, cai numa lógica localista que não
dá conta da complexidade de muitos problemas”, teoriza. Após a
articulação do ponto de vista das câmaras municipais, foi implementado o
conselho metropolitano.
George aponta que um
Plano Estratégico de Desenvolvimento Sustentável da região
metropolitana, coordenado por professoras da UFRN e da UFPE traçou
características da Região Metropolitana de Natal: “Do ponto de vista
físico-territorial e ambiental, frágil; socioeconomicamente desigual e
política-
institucionalmente desarticulada. Hoje não tem uma relação de
colaboração, mas de disputa. É ninguém por ninguém. É preciso que
políticas habitacionais, de saneamento, de gestão de transporte e os
planos gestores, urbanísticos e ambientais sejam pensados de forma
coletiva por essas cidades”, sustenta o pré-candidato.
O
trânsito de Natal, exemplifica George, poderia ser aliviado sem pôr “um
metro quadrado de asfalto” na capital, desde que fosse criada uma via
metropolitana ao redor da cidade, por onde passaria o fluxo de veículos
pesados que não têm a capital como destino, mas que atualmente precisam
passar por dentro dela.
De acordo com ele, o
partido articula uma série de candidaturas com outra legendas para
apresentar alternativas neste sentido, em outubro. Além dele na
capital, conta com Geraldo Veríssimo em São Gonçalo do Amarante; Arlindo
Dantas (recém-filiado ao PCdoB) em São José de Mipibu; Carlos Augusto
Maia (PTdoB) em Parnamirim; e Júlio César (PSD) em Ceará-Mirim.
George
Câmara avalia que Natal enfrenta problemas socioambientais provocados,
entre outros fatores, pelo crescimento desordenado. Além disso, se
tornou uma cidade desigual, com mansões e grandes favelas lado-a-lado.
“Temos as melhores universidades e 10,2% da população analfabeta. Se nós
segregássemos os analfabetos de Natal, daria 85 mil pessoas. Seria a
quinta maior cidade do estado”, aponta.
Para o
pré-candidato, a gestão precisa ouvir a sociedade. Mas, para tanto, é
necessário capacitar o cidadão para que ele entenda o processo político.
“A gente precisa capacitar a sociedade para ela entender por onde passa
a alocação de recursos, e as limitações, por exemplo”. De acordo com
ele, isso será feito caso ele vença as eleições. “Precisamos ter
conselhos populares. Não é abrir mão da prerrogativa e da
responsabilidade de tomar decisão como gestor, mas vamos estar
lastreados de toda uma fundamentação junto à sociedade. Isso legitima a
gestão e capacita a sociedade para que cada um seja fiscal, porque,
afinal, é o seu dinheiro, pago através dos impostos”.
por:Igor Jácome/NOVO
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