Nove meses depois de conseguir o registro do seu partido, o Rede
Sustentabilidade, a ex-senadora Marina Silva esteve ontem (22) em Natal
para lançar a pré-candidatura de Freitas Júnior à Prefeitura, ocasião em
que se defendeu das acusações de que teria sido beneficiada com
dinheiro de empreiteiras envolvidas na Operação Lava Jato para sua
eleição presidenciável em 2010, ou que tenha sido cúmplice de formação
de caixa 2 para a campanha de Eduardo Campos em 2014.
Segundo o jornal O Globo, Marina teria sido citada como
beneficiária pelo ex-presidente da OAS, Léo Pinheiro, no âmbito das
investigações da Operação Lava Jato. O coordenador de sua campanha,
Guilherme Leal, sócio da Natura, teria pedido contribuição para caixa
dois da campanha presidencial em 2010.
”É uma infâmia. Guilherme Leal jamais faria uma proposta dessa
natureza. A nossa campanha foi uma campanha exemplar, com pouco
dinheiro. Não teve um centavo de caixa 2 e desafio. Se houve caixa 2 eu
desafio: a quem deu o dinheiro? Onde deu o dinheiro? Quando deu o
dinheiro? Nunca me reuni com este senhor”, declara.
Ela acredita que a Polícia Federal é altamente capacitada para
comprovar que essas acusações são inverídicas. A ex-senadora elogiou a
Operação Lava Jato e disse que essa ação investigativa está promovendo
uma reforma política. Ela disse desconhecer qualquer esquema de caixa
para as eleições de 2014 em que iniciou o pleito como candidata a vice
de Eduardo Campos e, após sua morte, durante a queda do avião que o
transportava em Santos/SP, assumiu a cabeça da chapa como candidata à
presidência.
Na última terça-feira (21), a Polícia Federal deflagrou a Operação
Turbulência, que investiga empresas envolvidas na aquisição da aeronave
usada por Campos, apontadas como sendo de fachada e em nome de laranjas.
Estas realizavam transações entre si e com outras empresas fantasmas,
inclusive com algumas empresas investigadas na Operação Lava-Jato e
parte dos recursos que transitaram nas contas examinadas servia para
pagamento de propina a políticos e formação de caixa 2 de empreiteiras,
que teriam abastecido a campanha de Eduardo Campos em 2014.
Marina diz que a estrutura de sua campanha é diferente da estrutura
de pré-campanha de Eduardo Campos. “Após a formalização da chapa
existem as contas de Eduardo, que estão sendo questionadas, e a minha
que não está sendo questionada porque foi outra coisa. O avião não tinha
minha responsabilidade. Das 120 viagens que fiz, apenas oito foram no
avião a convite de Eduardo campos. Eu confio inteiramente no trabalho da
justiça e no trabalho da polícia e neste momento é fundamental que as
investigações sejam aprofundadas”, disse a líder da Rede.
"Erro" começou no governo Lula
Para Marina Silva, o erro de gestão começou por volta de 2008, no
segundo mandato do governo Lula (PT), quando ela deixou o Ministério do
Meio Ambiente. Em agosto de 2009, a ex-senadora anunciou sua saída do
PT, depois de mais de 20 anos de filiação e diz que saiu porque passou a
discordar da política ambiental e de medidas adotadas pelo governo.
“Foram agravados quando em 2008 veio a crise e todos os países
começaram a tentar resolver a crise com medidas duras e aqui se dizia
que não tinha crise e se tomou medidas no sentido de artificialmente
controlar a inflação, baixar juros, congelar preços administrados”,
relata. Ela diz que o uso dos bancos públicos para empresas selecionadas
e que a valorização da eleição seguinte, que viria a eleger Dilma
Rousseff, em detrimento dos rumos da nação, foram medidas que
aprofundaram os erros ao ponto de Dilma precisar realizar operação de
crédito sem autorização do congresso, que a levou ao crime de
responsabilidade.
A solução para a crise política, diz, é a convocação de novas
eleições. “Se ficar comprovado que fraudaram as eleições com o dinheiro
da propina, a saída é cassar a chapa Dilma/Temer e convocar novas
eleições. PT e PMDB são faces da mesma moeda. Cabe ao TSE devolver ao
povo a possibilidade de repactuar as relações da sociedade com seus
dirigentes máximos”, sugere Marina Silva, alegando que não haveria
quebra de institucionalidade porque existe a prerrogativa da renúncia,
do impeachment ou da cassação.
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