quarta-feira, 29 de junho de 2016

Delator afirma que o PT pediu R$ 30 milhões para quitar dívida de Haddad. Flávio Gomes Machado Filho, ex-diretor da empreiteira Andrade Gutierrez, disse que o pedido foi feito pelo ex-tesoureiro do PT, João Vaccari Neto

PRA QUITAR DÍVIDAS

O prefeito de São Paulo, Fernando Haddad durante coletiva de imprensa
O prefeito de São Paulo, Fernando Haddad durante coletiva de imprensa(Adriano Vizoni/Folhapress)

O ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto pediu à Andrade Gutierrez o pagamento de uma dívida de 30 milhões de reais da campanha do prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT). O valor teria sido cobrado também de mais cinco construtoras, revelou Flávio Gomes Machado Filho, ex-diretor da empreiteira, em delação premiada na Operação Lava Jato. "Em 2013, o PT, por meio de João Vaccari Neto, tesoureiro do partido, solicitou à Andrade Gutierrez o pagamento de uma dívida do partido referente à campanha de Haddad à Prefeitura de São Paulo", afirmou Machado Filho, em depoimento no dia 25 de fevereiro, na Procuradoria-Geral da República (PGR), em Brasília.

"A dívida era de 30 milhões de reais. Também houve a solicitação do pagamento a outras cinco empresas, de modo que ficariam 5 milhões de reais para pagamento pela Andrade Gutierrez." Vaccari está preso. Dono da UTC Engenharia, Ricardo Pessoa - primeiro grande empreiteiro a fazer delação premiada - já confessara, no ano passado, que chegou a pagar uma despesa de 2,4 milhões de reais da campanha do petista.

Eleito em 2012, Haddad arrecadou 42 milhões de reais em sua campanha e gastou 67 milhões de reais - um rombo de pelo menos 25 milhões de reais, assumido pelo Diretório Nacional do PT no ano seguinte. Parte desse valor era do contrato fechado com a Polis Propaganda e Marketing, de João Santana. Responsável pela campanha de reeleição de Luiz Inácio Lula da Silva, em 2006, e da primeira vitória da presidente afastada Dilma Rousseff, em 2010, o publicitário foi contratado pela campanha de Haddad por 30 milhões de reais. Em 2014, ele foi o responsável pelo marketing da campanha de reeleição de Dilma.

Pagamento - Em sua delação, o ex-executivo da Andrade Gutierrez afirmou que 5 milhões de reais que a empreiteira teria de pagar eram para Santana. "Não sabe se a dívida de 30 milhões de reais era com João Santana ou o total da campanha de Haddad, mas a parte da Andrade Gutierrez, os 5 milhões de reais, era de dívida do PT com João Santana", afirmou aos procuradores. O delator disse que foi "o próprio Vaccari" quem passou o contato da mulher do marqueteiro, Mônica Moura. Sócia do marido na Polis, ela era a responsável pelas contas do casal. Ambos estão presos em Curitiba, desde fevereiro, alvos da Operação Acarajé, quando foi descoberta conta secreta na Suíça. Santana e Mônica são acusados de corrupção e lavagem de dinheiro.

Machado Filho contou também que chegou a procurar a mulher de Santana por telefone para acertar "um café, cujo nome não se recorda, na Rua Dias Ferreira (no Leblon, Rio)". "A dívida poderia ser paga no exterior, segundo Mônica". A Lava Jato descobriu a conta usada pelo casal, na Suíça, em nome da offshore ShellBill Finance Corp. O delator disse que, em reunião com diretores, foi decidido que a Andrade Gutierrez não pagaria os valores. "Mesmo a Andrade Gutierrez não tendo pago, não houve posteriormente desdobramentos." Machado Filho disse ainda que não tratou do pedido com Haddad. "Não sabe se Haddad sabia."

Defesas - A coordenação de campanha do prefeito Fernando Haddad informou que foi deixada uma dívida da disputa, em 2012, que chegava a 29 milhões de reais. "O valor foi declarado ao Tribunal Regional Eleitoral (TRE) e repassado ao Diretório Nacional do Partido dos Trabalhadores, que faria sua liquidação", informou a equipe. Por meio de sua assessoria de imprensa, o PT disse que "refuta totalmente as ilações apresentadas". "Todas as doações que o PT recebeu foram realizadas estritamente dentro dos parâmetros legais e posteriormente declaradas à Justiça Eleitoral", disse o partido, em nota. A defesa de João Santana informou que apenas se manifestaria após conversar com seu cliente sobre o assunto.

(Com Estadão Conteúdo)

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