sábado, 25 de junho de 2016

Remoção da Favela do Maruim depende de acerto entre Prefeitura e Codern

REMOÇÃO DA FAVELA DO  MARUIM
 
A Companhia Docas do Rio Grande do Norte (Codern) só vai se pronunciar sobre as obras de ampliação do Porto de Natal na próxima semana, após uma reunião com a Prefeitura Municipal de Natal, agendada para quarta-feira (29), ocasião em que serão acertados os detalhes de utilização da área que até então abriga a comunidade do Maruim, nas Rocas, região sem saneamento básico, pavimentação e drenagem historicamente originada na mesma área do terminal portuário.
 
Essa foi a resposta obtida pelo NOVO durante a tentativa de conversar com o presidente da Codern, Hanna Youssef, sobre os planos do órgão para a área com cerca de 15 mil metros quadrados, onde funciona a comunidade que há seis anos foi alertada de que será removida, desde quando foi anunciado o projeto dea expansão do porto.
A assessoria de imprensa do órgão informou, no entanto, que apenas 50% da área será destinada aos projetos de expansão do porto, com a ampliação do cais e ampliação do espaço para armazenamento dos containers. O restante do terreno será utilizado pela prefeitura para obras urbanas e de melhorias de acesso ao bairro das Rocas, Zona Leste de Natal. O recurso será proveniente do governo federal.
 
No final da tarde de ontem, o prefeito Carlos Eduardo inaugurou o Residencial São Pedro, condomínio que vai abrigar 200 famílias que sobrevivem na comunidade do Maruim. "São duas grandes soluções. A social, de moradia digna para as pessoas e depois uma solução econômica, que há pelo menos 50 anos se reivindica a ampliação do porto para melhorar as importações e exportações, salários e divisas para o estado. As pessoas saem para uma moradia digna e Natal dá as condições para o estado desenvolver essa economia", disse o prefeito.
 
O investimento foi de R$ 12,2 milhões com a obra iniciada no final de julho de 2014. Ontem, o prefeito cobrou agilidade da Codern para promover a ampliação do porto, como há décadas tem prevalecido a justificativa de que a obra não podia ser executada por causa da presença da comunidade do Maruim. Ele disse que não cabe mais à prefeitura nenhuma ação neste sentido. "A Codern precisa ter agilidade e não me venha com burocracia. O porto reivindica seu crescimento há mais de 50 anos e era impedido por causa do Maruim. Agora a gente dá a solução e precisamos de agilidade. Nossa parte foi feita, que a Codern agora faça a dela", declarou.
 
O secretário de Habitação do município, Getúlio Batista da Silva Neto, destacou que antes e depois da mudança os moradores passam por acompanhamento de profissionais da assistência social e psicólogos. "Tem toda uma equipe acompanhando, cadastrando e orientado há um ano esses moradores; e, depois da mudança, a equipe da secretaria permanece por um ano orientando sobre a administração e convivência no condomínio no período de adaptação", explicou.
 
Mudança só na próxima semana
 
Apesar da inauguração ter ocorrido ontem, a mudança dos beneficiários para os novos apartamentos será feita após a assinatura do contrato e a solicitação da ligação da energia elétrica à Companhia de Energética do Rio Grande do Norte (Cosern), que será feita individualmente por cada proprietário.  A previsão, de acordo com os próprios moradores, é o dia 2 de julho.
 
Por enquanto, todos os moradores estão sendo chamados por condomínios para que corram atrás das burocracias necessárias para ligar a água e a energia do seu apartamento. Todos já foram informados de seus blocos e apartamentos há algum tempo e, pelo que ouviram, devem se mudar definitivamente até o dia 2 de julho.
 
O pedido final da comunidade foi que a mudança fosse realizada somente após os festejos de São Pedro, comemorado no dia 29 de junho. Padroeiro dos pescadores, anualmente o santo recebe homenagem da comunidade. “A festa vai ser grande esse ano porque vai ser a despedida, aí vamos fazer aqui mesmo na praça”, indicava a pescadora Maria de Fátima Nascimento (47), enquanto tirava as últimas peças de roupa do varal, aproveitando o forte sol ausente nos últimos dias, quando contou à reportagem que vivia na comunidade há 46 anos.
 
Na manhã de ontem, horas antes da inauguração dos apartamentos para onde as famílias serão transferidas, a reportagem visitou a comunidade e conversou os moradores do Maruim.“O ruim de lá, desse novo endereço, é porque não tem área de serviço e não vai ter como estender roupa”, comentou a pescadora, também marisqueira nos dias de menor movimento no mar, preocupada também com o isolamento entre os vizinhos.
 
“Aqui todo mundo se ajuda nos dias de aperreio. Nunca falta peixe na casa de um e assim a gente vai se ajudando”, comenta a pescadora, reconhecendo, no entanto, uma melhora nas condições de saúde, já que todos os apartamentos terão banheiros. “Aqui tem muitas casas que não tem banheiros, inclusive a minha”, diz a moradora diante de um esgoto que percorre toda a ruela ao lado de sua casa.
 
Com visão bem mais pessimista, dona Selma Cardoso (59), que mora no Maruim desde os 14 anos, não aprova de jeito nenhum a ideia de um novo endereço. “Estou indo porque sou obrigada mesmo, sobrevivo com bolsa família e nem sei como vou começar a pagar energia e as taxas de condomínio”, argumenta.
 
Dona Selma se preocupa em não poder mais vender alguns produtos para complementar a renda. “Na minha casa eu vendo lanche e algumas coisinhas, mas e lá com todo mundo de porta fechada? Sem movimento?”, diz.
 
“Mulher, pois eu já comprei um carrinho e vou vender meus lanches lá por baixo também”, contrapõe a vizinha pescadora, tentando convencer a amiga de uma nova perspectiva no novo endereço.
 
Bem mais otimista, dona Edileuza Maria da Silva (54), considera o novo apartamento como uma bênção, já que seu quartinho com menos de 5 metros de largura, onde ela mora há 20 anos, mal dá para acomodar ela e o marido.
 
“Tem um banheirinho pequeno, mas é tudo muito apertado, meu filho”, explica a mulher que vive com o marido pescador, também encantado com o novo endereço. “Meu marido também adorou, porque não fica longe de onde  vivemos e tudo lá será novinho”, explica.
 

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