A Companhia Docas do Rio Grande do Norte (Codern) só vai se
pronunciar sobre as obras de ampliação do Porto de Natal na próxima
semana, após uma reunião com a Prefeitura Municipal de Natal, agendada
para quarta-feira (29), ocasião em que serão acertados os detalhes de
utilização da área que até então abriga a comunidade do Maruim, nas
Rocas, região sem saneamento básico, pavimentação e drenagem
historicamente originada na mesma área do terminal portuário.
Essa foi a resposta obtida pelo NOVO durante a tentativa de
conversar com o presidente da Codern, Hanna Youssef, sobre os planos do
órgão para a área com cerca de 15 mil metros quadrados, onde funciona a
comunidade que há seis anos foi alertada de que será removida, desde
quando foi anunciado o projeto dea expansão do porto.
A assessoria de imprensa do órgão informou, no entanto, que apenas
50% da área será destinada aos projetos de expansão do porto, com a
ampliação do cais e ampliação do espaço para armazenamento dos
containers. O restante do terreno será utilizado pela prefeitura para
obras urbanas e de melhorias de acesso ao bairro das Rocas, Zona Leste
de Natal. O recurso será proveniente do governo federal.
No final da tarde de ontem, o prefeito Carlos Eduardo inaugurou o
Residencial São Pedro, condomínio que vai abrigar 200 famílias que
sobrevivem na comunidade do Maruim. "São duas grandes soluções. A
social, de moradia digna para as pessoas e depois uma solução econômica,
que há pelo menos 50 anos se reivindica a ampliação do porto para
melhorar as importações e exportações, salários e divisas para o estado.
As pessoas saem para uma moradia digna e Natal dá as condições para o
estado desenvolver essa economia", disse o prefeito.
O investimento foi de R$ 12,2 milhões com a obra iniciada no final
de julho de 2014. Ontem, o prefeito cobrou agilidade da Codern para
promover a ampliação do porto, como há décadas tem prevalecido a
justificativa de que a obra não podia ser executada por causa da
presença da comunidade do Maruim. Ele disse que não cabe mais à
prefeitura nenhuma ação neste sentido. "A Codern precisa ter agilidade e
não me venha com burocracia. O porto reivindica seu crescimento há mais
de 50 anos e era impedido por causa do Maruim. Agora a gente dá a
solução e precisamos de agilidade. Nossa parte foi feita, que a Codern
agora faça a dela", declarou.
O secretário de Habitação do município, Getúlio Batista da Silva
Neto, destacou que antes e depois da mudança os moradores passam por
acompanhamento de profissionais da assistência social e psicólogos. "Tem
toda uma equipe acompanhando, cadastrando e orientado há um ano esses
moradores; e, depois da mudança, a equipe da secretaria permanece por um
ano orientando sobre a administração e convivência no condomínio no
período de adaptação", explicou.
Mudança só na próxima semana
Apesar da inauguração ter ocorrido ontem, a mudança dos
beneficiários para os novos apartamentos será feita após a assinatura do
contrato e a solicitação da ligação da energia elétrica à Companhia de
Energética do Rio Grande do Norte (Cosern), que será feita
individualmente por cada proprietário. A previsão, de acordo com os
próprios moradores, é o dia 2 de julho.
Por enquanto, todos os moradores estão sendo chamados por
condomínios para que corram atrás das burocracias necessárias para ligar
a água e a energia do seu apartamento. Todos já foram informados de
seus blocos e apartamentos há algum tempo e, pelo que ouviram, devem se
mudar definitivamente até o dia 2 de julho.
O pedido final da comunidade foi que a mudança fosse realizada
somente após os festejos de São Pedro, comemorado no dia 29 de junho.
Padroeiro dos pescadores, anualmente o santo recebe homenagem da
comunidade. “A festa vai ser grande esse ano porque vai ser a despedida,
aí vamos fazer aqui mesmo na praça”, indicava a pescadora Maria de
Fátima Nascimento (47), enquanto tirava as últimas peças de roupa do
varal, aproveitando o forte sol ausente nos últimos dias, quando contou à
reportagem que vivia na comunidade há 46 anos.
Na manhã de ontem, horas antes da inauguração dos apartamentos para
onde as famílias serão transferidas, a reportagem visitou a comunidade e
conversou os moradores do Maruim.“O ruim de lá, desse novo endereço, é
porque não tem área de serviço e não vai ter como estender roupa”,
comentou a pescadora, também marisqueira nos dias de menor movimento no
mar, preocupada também com o isolamento entre os vizinhos.
“Aqui todo mundo se ajuda nos dias de aperreio. Nunca falta peixe
na casa de um e assim a gente vai se ajudando”, comenta a pescadora,
reconhecendo, no entanto, uma melhora nas condições de saúde, já que
todos os apartamentos terão banheiros. “Aqui tem muitas casas que não
tem banheiros, inclusive a minha”, diz a moradora diante de um esgoto
que percorre toda a ruela ao lado de sua casa.
Com visão bem mais pessimista, dona Selma Cardoso (59), que mora no
Maruim desde os 14 anos, não aprova de jeito nenhum a ideia de um novo
endereço. “Estou indo porque sou obrigada mesmo, sobrevivo com bolsa
família e nem sei como vou começar a pagar energia e as taxas de
condomínio”, argumenta.
Dona Selma se preocupa em não poder mais vender alguns produtos
para complementar a renda. “Na minha casa eu vendo lanche e algumas
coisinhas, mas e lá com todo mundo de porta fechada? Sem movimento?”,
diz.
“Mulher, pois eu já comprei um carrinho e vou vender meus lanches
lá por baixo também”, contrapõe a vizinha pescadora, tentando convencer a
amiga de uma nova perspectiva no novo endereço.
Bem mais otimista, dona Edileuza Maria da Silva (54), considera o
novo apartamento como uma bênção, já que seu quartinho com menos de 5
metros de largura, onde ela mora há 20 anos, mal dá para acomodar ela e o
marido.
“Tem um banheirinho pequeno, mas é tudo muito apertado, meu filho”,
explica a mulher que vive com o marido pescador, também encantado com o
novo endereço. “Meu marido também adorou, porque não fica longe de onde
vivemos e tudo lá será novinho”, explica.
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