Um
fenômeno de redução das ocorrências de assalto que vem sendo
registrada no litoral da zona Leste de Natal é ordem do Sindicato do
Crime do RN (SDC), facção organizada que atua no estado. A informação é
de uma fonte ligada à Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social
(Sesed), que prefere não ser identificada na matéria.
O
motivo da determinação, segundo a fonte, é que esses pequenos casos de
assalto levam a polícia para dentro das comunidades da região à procura
dos responsáveis, porque é para onde correm os criminosos após após
cometerem os delitos, por conta da proximidade. O fluxo de policiais
estaria atrapalhando o comércio do tráfico de drogas, que é a principal
fonte de renda da organização criminosa.
O
NOVO foi até a 2ª Delegacia de Polícia, em Brasília Teimosa, DP
responsável pelo registro dos casos na área indicada, e obteve a
confirmação da queda no número das ocorrências desta natureza.
De
acordo com os dados da delegacia, em maio foram quatro assaltos no
trecho que compreende as praias dos Artistas e do Forte, locais que
ficam sob jurisdição da DP.
Segundo
os agentes da 2ª Delegacia, a redução vem sendo observada há, pelo
menos, três meses e a média anterior era de 12 assaltos por mês na faixa
litorânea. No ano passado, houve um pico no mês de junho, quando 25
casos naquela área chegaram à Polícia Civil.
A
PC, inclusive, vinha realizando operações na região para desarticular o
tráfico de drogas e, consequentemente, desmontar o negócio do Sindicato
RN. No final de abril, dia 28, a Operação Caduceu invadiu as
comunidades do Paço da Pátria e de Brasília Teimosa em busca dos
criminosos ligados à facção. Durante a ação policial, foram cumpridos 12
mandados de busca e apreensão e realizada três prisões em flagrante.
Na
ocasião, três pessoas foram presas e autuadas por tráfico de
entorpecentes, dois homens e uma mulher. A delegada Sheila Freitas,
comandante da Delegacia da Grande Natal, declarou à época que pessoas
ligadas ao Sindicato do Crime do RN vinham realizando crimes associados
ao tráfico de drogas na Zona Leste, como assalto e homicídio.
A
ordem do SDC seria para evitar incursões policiais como esta, de acordo
com a fonte que conversou com o NOVO, e conseguir praticar o tráfico
com mais facilidade dentro das comunidades periféricas.
A
Operação Caduceu aconteceu três dias depois que circulou em grupos de
WhatsApp um áudio atribuído ao Sindicato do Crime do RN, que determinava
a suspensão dos pequenos assaltos por membros da facção.
Na
gravação, um homem não identificado lê um comunicado em que justifica a
determinação com o argumento de que esses crimes estariam atingindo
pessoas menos abastadas e “revoltando a sociedade”. No áudio o homem diz
ainda que aqueles que descumprirem a lei imposta serão punidos ao
ingressarem no sistema penitenciário.
O
bairro de Mãe Luiza, na Zona Leste, é berço do SDC, segundo consta nas
cartas e estatutos apreendidos pelos agentes nos presídios. O que se
comenta entre os moradores de lá é que a ordem é real. Não se pode
roubar dentro do bairro, sob pena de represália por parte da facção
criminosa.
Na ocasião da circulação do áudio, a Secretaria de Segurança não confirmou a veracidade do material que rodava no WhatsApp.
Dias
antes, em 21 de abril, a Sesed também negou que fosse verídica uma
corrente que foi compartilhada no WA, que ameaça o Governo do Estado. O
texto diz que, caso o Executivo instalasse bloqueadores de sinal de
aparelho celular nas penitenciárias, haveria represália com atos de
vandalismo e assaltos do lado de fora das unidades carcerárias.
Um sindicato fora da lei
Em
janeiro deste ano, o NOVO publicou uma reportagem que tratava da
atuação das facções organizadas no Rio Grande do Norte: Primeiro Comando
da Capital (PCC) e Sindicato do Crime do RN (SDC).
As
duas dividem o controle das penitenciárias e têm integrantes espalhados
por todo o Rio Grande do Norte. Informações obtidas pelos agentes
penitenciários através de relatos de presos e apreensões de telefones e
cartas dentro das unidades detalham a atuação e a estruturação dessas
facções.
De
acordo com os dados obtidos pelos agentes penitenciários em apreensões,
o PCC está presente do Rio Grande do Norte já há alguns anos, porém o
Sindicato do Crime foi fundado em 2013.
A
reportagem conta que as cartas trocadas entre os detentos e o próprio
estatuto da facção dão conta de que a organização criminosa começou com
Isaac Heleno da Cruz, o Rivotril, que morreu em 2014 após ser baleado
numa incursão da Polícia Militar.
“Quando
eles fazem as músicas do Sindicato, também, eles citam os principais
líderes, e se referem ao fundador como ‘pai’”, diz Vilma Batista,
presidente do Sindicato dos Agentes Penitenciários.
Rivotril,
oriundo do bairro de Mãe Luiza, onde segundo a polícia ele mantinha sua
atuação criminosa, teria brigado com integrantes do PCC e resolvido
iniciar sua própria facção. A ideia foi se espalhando entre os
presidiários, inicialmente na Cadeia Pública de Natal e no Presídio de
Parnamirim.
Rivotril
e seus aliados atuavam onde o Estado não chegava. Davam auxílio de
saúde aos detentos e familiares, auxílio financeiro e até custeavam os
advogados para acompanharem os processos de cada um dos filiados.
O
Sindicato do Crime, assim como o PCC, se sustenta através das
mensalidades de seus associados. “Os valores variam”, afirma Vilma
Batista. As informações dos documentos apreendidos nas prisões dizem que
os o valor varia entre R$ 100 e R$ 200 para quem está em reclusão. Os
valores são pagos pela Caixa Econômica Federal, com a ajuda de
familiares e conhecidos.
Quando
soltos, os presidiários pagam até R$ 400, a depender de suas condições,
e também precisam dar parte do dinheiro que conseguem na atividade
criminosa do lado de fora. Segundo as apreensões e depoimentos de
presos, quem não pode arcar com os custos mensais dentro da prisão nem
com apoio dos familiares, precisa realizar tarefas determinadas pelos
líderes de seu pavilhão: lavar as roupas deles e até assumir o porte de
drogas encontradas em revistas.
Do
lado de fora, as “missões”, como eles denominam, podem ser determinadas
tanto aos que têm o dinheiro da mensalidade quanto aos que não têm.
Comumente dizem respeito à prática de crimes, como participação em
roubos e assassinatos.
Mas
os chefões da facção também fazem agrados. Periodicamente, um domingo
por mês, eles promovem sorteios de rifas. O custo, pago em casas
lotéricas por pessoas de fora da prisão, varia entre R$ 10 e R$ 25, e os
prêmios entre quilos de maconha e carros.
Morte na Comunidade do Japão
Uma
disputa entre facções criminosas rivais causou uma morte na noite da
sexta-feira passada na comunidade Novo Horizonte, mais conhecida como
‘Favela do Japão’, localizada na Zona Oeste de Natal. As informações
são da assessoria de imprensa da Secretaria Estadual de Segurança. Ainda
não foram divulgadas mais informações sobre a vítima.
A
tomada de posse pelo comando do tráfico de drogas entre duas facções
criminosas na região causou uma noite violenta para a comunidade, no
entanto, não resultou em nenhuma prisão já que todos os envolvidos
conseguiram escapar antes que o Batalhão de Choque percorresse a
comunidade.
O
secretário de Segurança Pública do Rio Grande do Norte, Ronaldo
Lundgren, usando um colete a prova de bala, também participou da
operação policial, pessoalmente.
Até
o início do ano passado, o Governo evitava falar na existência das
facções organizadas no RN, sob justificativa de que a “publicidade”
fortaleceria os grupos. No entanto agora o Executivo Estadual reconhece a
presença dessas organizações e realiza ações para combatê-las.
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