quinta-feira, 2 de junho de 2016

Sindicato do Crime ordena redução de assaltos nas praias da Zona Leste

ORDEM
 
Um fenômeno de redução das ocorrências de assalto que vem sendo registrada no litoral da zona Leste de Natal é ordem do Sindicato do Crime do RN (SDC), facção organizada que atua no estado. A informação é de uma fonte ligada à Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social (Sesed), que prefere não ser identificada na matéria.

O motivo da determinação, segundo a fonte, é que esses pequenos casos de assalto levam a polícia para dentro das comunidades da região à procura dos responsáveis, porque é para onde correm os criminosos após após cometerem os delitos, por conta da proximidade. O fluxo de policiais estaria atrapalhando o comércio do tráfico de drogas, que é a principal fonte de renda da organização criminosa.

O NOVO foi até a 2ª Delegacia de Polícia, em Brasília Teimosa, DP responsável pelo registro dos casos na área indicada, e obteve a confirmação da queda no número das ocorrências desta natureza.

De acordo com os dados da delegacia, em maio foram quatro assaltos no trecho que compreende as praias dos Artistas e do Forte, locais que ficam sob jurisdição da DP.

Segundo os agentes da 2ª Delegacia, a redução vem sendo observada há, pelo menos, três meses e a média anterior era de 12 assaltos por mês na faixa litorânea. No ano passado, houve um pico no mês de junho, quando 25 casos naquela área chegaram à Polícia Civil.

A PC, inclusive, vinha realizando operações na região para desarticular o tráfico de drogas e, consequentemente, desmontar o negócio do Sindicato RN. No final de abril, dia 28, a Operação Caduceu invadiu as comunidades do Paço da Pátria e de Brasília Teimosa em busca dos criminosos ligados à facção. Durante a ação policial, foram cumpridos 12 mandados de busca e apreensão e realizada três prisões em flagrante.

Na ocasião, três pessoas foram presas e autuadas por tráfico de entorpecentes, dois homens e uma mulher. A delegada Sheila Freitas, comandante da Delegacia da Grande Natal, declarou à época que pessoas ligadas ao Sindicato do Crime do RN vinham realizando crimes associados ao tráfico de drogas na Zona Leste, como assalto e homicídio.

A ordem do SDC seria para evitar incursões policiais como esta, de acordo com a fonte que conversou com o NOVO, e conseguir praticar o tráfico com mais facilidade dentro das comunidades periféricas.
A Operação Caduceu aconteceu três dias depois que circulou em grupos de WhatsApp um áudio atribuído ao Sindicato do Crime do RN, que determinava a suspensão dos pequenos assaltos por membros da facção.

Na gravação, um homem não identificado lê um comunicado em que justifica a determinação com o argumento de que esses crimes estariam atingindo pessoas menos abastadas e “revoltando a sociedade”. No áudio o homem diz ainda que aqueles que descumprirem a lei imposta serão punidos ao ingressarem no sistema penitenciário.

O bairro de Mãe Luiza, na Zona Leste, é berço do SDC, segundo consta nas cartas e estatutos apreendidos pelos agentes nos presídios. O que se comenta entre os moradores de lá é que a ordem é real. Não se pode roubar dentro do bairro, sob pena de represália por parte da facção criminosa.

Na ocasião da circulação do áudio, a Secretaria de Segurança não confirmou a veracidade do material que rodava no WhatsApp.

Dias antes, em 21 de abril, a Sesed também negou que fosse verídica uma corrente que foi compartilhada no WA, que ameaça o Governo do Estado. O texto diz que, caso o Executivo instalasse bloqueadores de sinal de aparelho celular nas penitenciárias, haveria represália com atos de vandalismo e assaltos do lado de fora das unidades carcerárias.

Um sindicato fora da lei
Em janeiro deste ano, o NOVO publicou uma reportagem que tratava da atuação das facções organizadas no Rio Grande do Norte: Primeiro Comando da Capital (PCC) e Sindicato do Crime do RN (SDC).

As duas dividem o controle das penitenciárias e têm integrantes espalhados por todo o Rio Grande do Norte. Informações obtidas pelos agentes penitenciários através de relatos de presos e apreensões de telefones e cartas dentro das unidades detalham a atuação e a estruturação dessas facções.

De acordo com os dados obtidos pelos agentes penitenciários em apreensões, o PCC está presente do Rio Grande do Norte já há alguns anos, porém o Sindicato do Crime foi fundado em 2013.

A reportagem conta que as cartas trocadas entre os detentos e o próprio estatuto da facção dão conta de que a organização criminosa começou com Isaac Heleno da Cruz, o Rivotril, que morreu em 2014 após ser baleado numa incursão da Polícia Militar.

“Quando eles fazem as músicas do Sindicato, também, eles citam os principais líderes, e se referem ao fundador como ‘pai’”, diz Vilma Batista, presidente do Sindicato dos Agentes Penitenciários.

Rivotril, oriundo do bairro de Mãe Luiza, onde segundo a polícia ele mantinha sua atuação criminosa, teria brigado com integrantes do PCC e resolvido iniciar sua própria facção. A ideia foi se espalhando entre os presidiários, inicialmente na Cadeia Pública de Natal e no Presídio de Parnamirim.

Rivotril e seus aliados atuavam onde o Estado não chegava. Davam auxílio de saúde aos detentos e familiares, auxílio financeiro e até custeavam os advogados para acompanharem os processos de cada um dos filiados.

O Sindicato do Crime, assim como o PCC, se sustenta através das mensalidades de seus associados. “Os valores variam”, afirma Vilma Batista. As informações dos documentos apreendidos nas prisões dizem que os o valor varia entre R$ 100 e R$ 200 para quem está em reclusão. Os valores são pagos pela Caixa Econômica Federal, com a ajuda de familiares e conhecidos.

Quando soltos, os presidiários pagam até R$ 400, a depender de suas condições, e também precisam dar parte do dinheiro que conseguem na atividade criminosa do lado de fora. Segundo as apreensões e depoimentos de presos, quem não pode arcar com os custos mensais dentro da prisão nem com apoio dos familiares, precisa realizar tarefas determinadas pelos líderes de seu pavilhão: lavar as roupas deles e até assumir o porte de drogas encontradas em revistas.

Do lado de fora, as “missões”, como eles denominam, podem ser determinadas tanto aos que têm o dinheiro da mensalidade quanto aos que não têm. Comumente dizem respeito à prática de crimes, como participação em roubos e assassinatos.

Mas os chefões da facção também fazem agrados. Periodicamente, um domingo por mês, eles promovem sorteios de rifas. O custo, pago em casas lotéricas por pessoas de fora da prisão, varia entre R$ 10 e R$ 25, e os prêmios entre quilos de maconha e carros.

Morte na Comunidade do Japão
Uma disputa entre facções criminosas rivais causou uma morte na noite da sexta-feira passada na comunidade Novo Horizonte, mais conhecida como ‘Favela do Japão’, localizada na Zona Oeste de Natal. As informações são da assessoria de imprensa da Secretaria Estadual de Segurança. Ainda não foram divulgadas mais informações sobre a vítima.

A tomada de posse pelo comando do tráfico de drogas entre duas facções criminosas na região causou uma noite violenta para a comunidade, no entanto, não resultou em nenhuma prisão já que todos os envolvidos conseguiram escapar antes que o Batalhão de Choque percorresse a comunidade.

O secretário de Segurança Pública do Rio Grande do Norte, Ronaldo Lundgren, usando um colete a prova de bala, também participou da operação policial, pessoalmente.

Até o início do ano passado, o Governo evitava falar na existência das facções organizadas no RN, sob justificativa de que a “publicidade” fortaleceria os grupos. No entanto agora o Executivo Estadual reconhece a presença dessas organizações e realiza ações para combatê-las.

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