OPERAÇÃO MIRÍADE
O nome de Antonio Palocci, ex-ministro dos governos Lula e Dilma Rousseff,
sempre foi seguido de elogios altaneiros por empresários e políticos,
que enxergavam nele habilidade política, bons contatos no mundo
empresarial, sensibilidade e capacidade de gestão, entre outras
qualidades. A Operação Omertá, 35ª fase da Lava Jato, limpa qualquer
traço de inocência sobre a importância de Palocci, preso nesta
segunda-feira (26) pela Polícia Federal. Está claro pela extensa
investigação que Palocci era o principal contato da Odebrecht com o PT e
o governo Lula. Por meio dele, escorreram cerca de R$ 128 milhões em
propina da empreiteira para o partido nos últimos anos.
A parceria PT-Odebrecht ia além do imaginado e descoberto até agora. A
Odebrecht era muito mais do que uma das empresas sócias do cartel que
fez o petrolão. Foi a principal patrocinadora do Instituto Lula,
contratou palestras do ex-presidente, contratou o ex-ministro José
Dirceu, contribuiu para as campanhas de Lula e Dilma. A Omertá deixa
claro que, por meio de Palocci, a Odebrecht foi beneficiada por uma
Medida Provisória criada para aliviar seu caixa no pagamento de
impostos. Deu errado? Palocci pediu à empresa sugestões de como
compensá-la financeiramente, talvez em contratos com a Petrobras. Era
uma parceria direta, intensa, com bons negócios para os dois lados – e
péssima para o contribuinte.
Três fases anteriores da Lava Jato
possibilitaram as descobertas que levaram à Omertá. A mais importante
delas foi a descoberta do departamento de operações estruturadas, uma
divisão clandestina da Odebrecht especializada no gerenciamento e
pagamento de propina. Ao descobrir o funcionamento do subterrâneo, a
força-tarefa atingiu um mar de informações, que deu a certeza da atuação
de Palocci e de muitos negócios sujos praticados pela empreiteira. O
arquivo da Odebrecht é um manancial de corrupção em formato digital. Nos
e-mails guardados, os diretores da Odebrecht debatem o pagamento de
propinas a obras não só federais, mas dos governos de Rio de Janeiro e
São Paulo, entre outros – governos estes que não eram geridos pelo PT,
mas por PSDB e PMDB (este, o sócio minoritário do PT no petrolão).
A
Omertá dá uma amostra do estrago que podem provocar as revelações
vindas do acordo da delação premiada que a Odebrecht negocia há meses
com a força-tarefa da Lava Jato. Nas conversas preliminares, as
histórias oferecidas pela Odebrecht aos investigadores da Lava Jato
passavam de 90 até a semana passada. Uma coisa é corrupção na Petrobras;
outra, maior, é abrir os segredos sujos de uma empreiteira, uma
entidade amiga de todos os partidos e governos, interessada apenas em
negócios. A Omertá mostra que, assim como doava para todos os partidos, a
Odebrecht também distribuía propina a quem interessava,
independentemente da sigla. A própria Odebrecht deve se preocupar. Como a
Lava Jato descobriu muito até agora, sem a sua ajuda, a delação vai
sair mais cara que o previsto.
por: LEANDRO LOYOLA/Época
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