quarta-feira, 28 de setembro de 2016

A parceria da corrupção é mais extensa do que se pensava. Operação Omertá revela uma miríade de negócios suspeitos entre PT e Odebrecht, tocados por Palocci

OPERAÇÃO MIRÍADE
 Antonio Palocci deixa a sede da PF em São Paulo em van com presos na operação. (Foto: Pedro Kirilos / Agência O Globo)
O nome de Antonio Palocci, ex-ministro dos governos Lula e Dilma Rousseff, sempre foi seguido de elogios altaneiros por empresários e políticos, que enxergavam nele habilidade política, bons contatos no mundo empresarial, sensibilidade e capacidade de gestão, entre outras qualidades. A Operação Omertá, 35ª fase da Lava Jato, limpa qualquer traço de inocência sobre a importância de Palocci, preso nesta segunda-feira (26) pela Polícia Federal. Está claro pela extensa investigação que Palocci era o principal contato da Odebrecht com o PT e o governo Lula. Por meio dele, escorreram cerca de R$ 128 milhões em propina da empreiteira para o partido nos últimos anos.

A parceria PT-Odebrecht ia além do imaginado e descoberto até agora. A Odebrecht era muito mais do que uma das empresas sócias do cartel que fez o petrolão. Foi a principal patrocinadora do Instituto Lula, contratou palestras do ex-presidente, contratou o ex-ministro José Dirceu, contribuiu para as campanhas de Lula e Dilma. A Omertá deixa claro que, por meio de Palocci, a Odebrecht foi beneficiada por uma Medida Provisória criada para aliviar seu caixa no pagamento de impostos. Deu errado? Palocci pediu à empresa sugestões de como compensá-la financeiramente, talvez em contratos com a Petrobras. Era uma parceria direta, intensa, com bons negócios para os dois lados – e péssima para o contribuinte.

Três fases anteriores da Lava Jato possibilitaram as descobertas que levaram à Omertá. A mais importante delas foi a descoberta do departamento de operações estruturadas, uma divisão clandestina da Odebrecht especializada no gerenciamento e pagamento de propina. Ao descobrir o funcionamento do subterrâneo, a força-tarefa atingiu um mar de informações, que deu a certeza da atuação de Palocci e de muitos negócios sujos praticados pela empreiteira. O arquivo da Odebrecht é um manancial de corrupção em formato digital. Nos e-mails guardados, os diretores da Odebrecht debatem o pagamento de propinas a obras não só federais, mas dos governos de Rio de Janeiro e São Paulo, entre outros – governos estes que não eram geridos pelo PT, mas por PSDB e PMDB (este, o sócio minoritário do PT no petrolão).

A Omertá dá uma amostra do estrago que podem provocar as revelações vindas do acordo da delação premiada que a Odebrecht negocia há meses com a força-tarefa da Lava Jato. Nas conversas preliminares, as histórias oferecidas pela Odebrecht aos investigadores da Lava Jato passavam de 90 até a semana passada. Uma coisa é corrupção na Petrobras; outra, maior, é abrir os segredos sujos de uma empreiteira, uma entidade amiga de todos os partidos e governos, interessada apenas em negócios. A Omertá mostra que, assim como doava para todos os partidos, a Odebrecht também distribuía propina a quem interessava, independentemente da sigla. A própria Odebrecht deve se preocupar. Como a Lava Jato descobriu muito até agora, sem a sua ajuda, a delação vai sair mais cara que o previsto.

por: LEANDRO LOYOLA/Época

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