sexta-feira, 30 de setembro de 2016

Após tragédia, ‘Velho Chico’ afasta tristeza com final feliz. Até Afrânio, que poderia ter um final duro, deve encontrar a redenção no último capítulo

UFA! ATÉ QUE EM FIM ESSE CHORORÔ ACABA
Velho Chico chega ao fim nesta sexta-feira em tom melancólico. Em especial pela morte de Domingos Montagner, que se afogou inesperadamente durante um mergulho no rio São Francisco, depois de construir um Santo digno da força que o protagonista pedia. Mas também pela perda de Umberto Magnani, o Padre Romão, falecido logo no início da trama. E pelas dificuldades que o folhetim encontrou pelo caminho: uma história que parecia congelada no tempo e que não engrenava, apesar das belas imagens produzidas por Luiz Fernando Carvalho e sua equipe. Não está sendo fácil para o elenco — é possível ver olhares emocionados dos atores mirando a câmera subjetiva, que, desde o começo desta semana, substitui Santo nas cenas que Montagner não teve tempo de gravar. Em meio a essa atmosfera trágica, os autores Benedito Ruy Barbosa e Bruno Luperi, seu neto, mantêm o caminho da felicidade e da redenção no último capítulo. Aliás, é aguardada uma homenagem ao ator, que tinha 54 anos e deixou três filhos.

Santo ainda vive, o que foi uma solução acertada dos autores. O desfecho do personagem será da forma como ele sempre sonhou: Santo se casará com Tereza (Camila Pitanga), com direito a festa com todos, até os agora antigos rivais, presentes. O final feliz na ficção aplacará, mesmo que por alguns minutos, a dor da vida real.

A redenção teve início já no capítulo desta quinta-feira, com o coronel Afrânio, de Antônio Fagundes, que “matou” simbolicamente o odiado Saruê que habitava seu corpo enquanto tentava encontrar o filho Martim (Lee Taylor). Afrânio, que poderia ter um desfecho letal no folhetim, reencontrou a si mesmo e ao amor, nos braços de Iolanda (Cristiane Torloni), e agora acerta as suas contas com a Justiça e com a consciência.

Mesmo morto, Martim também terá seu momento de realização. O filho do coronel, assassinado pelo vilão de última hora Carlos Eduardo (Marcelo Serrado), terá a chance de ver sua família unida novamente, algo que tanto desejava em vida. Luzia (Lucy Alves), que não foi propriamente uma vilã, mas cometeu atos insanos em nome do amor que tinha por Santo, como destruir as cartas que Tereza escreveu para ele na juventude — o que os separou por anos e impediu que Santo conhecesse o filho antes da idade adulta –, é outra que terá uma segunda chance. Ela, que foi adotada ainda bebê pelo casal formado por Eulália (Fabiula Nascimento) e pelo capitão Rosa (Rodrigo Lombardi), na primeira fase, nunca se sentiu parte da família. Agora, Luzia adotará uma criança e assim perceberá que ela própria recebeu amor, como filha adotada que foi.

Apesar de ser marcada pelas mortes de Umberto Magnani, que interpretou padre Romão, e Domingos Montagner, Velho Chico não merece só ser lembrada pelo lado trágico. A começar pelas grandes interpretações do elenco, como Rodrigo Santoro, na primeira fase, e Domingos Montagner e Camila Pitanga na segunda. Camila, como Tereza, protagonizou embates emblemáticos na telinha, tanto com o pai Afrânio quanto com o marido Carlos Eduardo (Marcelo Serrado). A novela proporcionou à atriz um dos grandes momentos da carreira. Se não, o maior. Houve ainda os temas ambientais e sociais que trouxe à tona em horário nobre – transformando, por exemplo, o Rio São Francisco em um cenário-personagem.

Outro ponto a ser destacado é a estética criada pelo diretor Luiz Fernando Carvalho, que levou para essa novela das 9 contemporânea e realista – com alguns momentos de fantasia – sua câmera lúdica, a mesma que já havia encantado o público em produções mais poéticas dirigidas por ele na TV, como Hoje É Dia de Maria e A Pedra do Reino. Mesmo antes de sair do ar, Velho Chico já marcou a história da teledramaturgia.

(Com informações do Estadão Conteúdo)

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