INDUSTRIA DO SEXO NO JAPÃO
A atriz e youtuber japonesa Aroma Kurumin (Youtube/Reprodução)
Ela tinha 23 anos e sonhava em ser uma estrela da música quando foi
abordada por um homem em uma movimentada rua de Tóquio, com a oferta de
trabalho como modelo. Ao aceitar, caiu na armadilha de uma rede de
coerção que arrasta milhares de jovens do Japão a participar de filmes pornôs
todos os anos. Aroma Kurumin, cujas cenas gravadas em 2013 ainda
circulam na internet, apesar de seus esforços para tirar as imagens do
ar, é uma das vítimas das produtoras de filmes eróticos. Trata-se de um fenômeno antigo, que só agora começou a ser revelado.
“Pensei que era a oportunidade para realizar o meu sonho”,
conta a jovem. O pesadelo começou com uma entrevista e uma sessão de
fotos sem roupa — na promessa de que só teria que posar assim uma vez —
para uma famosa revista sensacionalista. A “agência de modelos”, então, a
convidou para outra sessão de fotos e filmagens em Saipan, no Oceano
Pacífico. Lá, Aroma se viu cercada de homens e pressionada a
rodar cenas quentes pelas quais depois recebeu um pagamento
ínfimo. “Tudo aconteceu muito rápido. Quando me recusava a fazer algo,
eles diziam que essa era a melhor forma de começar uma carreira musical e
insistiam até eu ceder”, lembrou ela, educada em um país onde a mulher
nunca deve dizer “não”, ainda mais quando jovem.
Aroma Kurumin é o apelido que agora ela usa como youtuber e ativista para conscientizar outras meninas sobre essa situação e evitar que mordam a isca da poderosíssima indústria pornô japonesa,
na qual conglomerados que monopolizam redes de TV, gravadoras, editoras
de livros, agências de “talentos” e produtoras de filmes são máquinas
de sugar aspirantes ao estrelato, que se tornam presas fáceis nas mãos
de charlatões.
“O problema existe há anos, mas só agora começamos a falar
dele”, diz a coordenadora e advogada da ONG que apoia vítimas do tráfico
sexual Lighthouse, Aiki Segawa, acrescentando que o fenômeno “continua
sendo um tabu no Japão”.
Com sede na capital, a organização recebeu só neste ano mais
de 40 pedidos de ajuda de meninas obrigadas fazer pornô. Em geral, a
vítima é mulher, tem entre 18 e 25 anos e o sonho de brilhar em uma
carreira no mundo da moda, música ou cinema. Além dos “caça-talentos”,
que abordam meninas na rua, a indústria do pornô se vale de anúncios em
revistas, na internet e até publicidade em caminhões, prometendo
excelentes salários para trabalhar meio expediente como modelo ou
comissária de bordo. As interessadas vão a entrevistas onde são
convencidas a assinar contratos confusos, e depois chantageadas de
diversas formas para participar das filmagens. Algumas são ameaçadas
fisicamente e até estupradas. As cenas são gravadas e distribuídas como
filmes, segundo Aiki Segawa.
Em um relatório recente, a ONG Human Rights Now revelou o
caso de uma jovem que se matou depois de ver seus vídeos espalhados na
rede e não conseguir impedir a distribuição. “As vítimas se sentem muito
envergonhadas e assustadas para pedir ajuda ou relatar sua
experiência”, afirmando a coordenadora da Lighthouse, destacando que
quase sempre elas “se culpam e acreditam ser as responsáveis pela
situação”.
Uma pesquisa feita no início deste ano pelo governo com
2.500 aspirantes ao estrelado revelou que 27% das jovens contratadas por
“agências de talentos” foram chamadas para gravar cenas de sexo, e 8%
delas aceitaram. Diante disso, foi decidido fazer uma campanha de
conscientização.
As ONGs exigem leis de trabalho mais rígidas — para prevenir
os abusos –, maior controle sobre as “agências de talentos” e que os
filmes sejam supervisionados para garantir que todos os atores
participam com pleno consentimento. Aiki Segawa, no entanto, admite ser
“difícil” controlar a gigantesca indústria do pornô japonês, uma das
maiores do mundo, com faturamento de 4,4 bilhões de dólares por ano e
uma crescente projeção mundo afora.
(Com agência EFE)
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