DESPERDÍCIO
Inaugurado há quase um ano e meio, o Mercado Modelo das Rocas –
moderno micro shopping localizado no bairro homônimo – está quase vazio
tanto no tocante a comerciantes quanto a consumidores. Atualmente, o
mercado conta com 83 espaços para lojas (23 destinados a antigos
proprietários; 57 por licitação e três para administração), sendo a
maioria alugada, mas apenas seis estão funcionando. A realidade, que
pode causar estranheza àqueles que passam por lá, tem motivo simples:
infraestrutura falha.
Localizada no cruzamento da Av. Duque de
Caxias com a São Pedro, próximo ao hospital dos pescadores, o Mercado
Modelo das Roscas conta com 3.715,6 m², tendo custado R$ 5 milhões aos
cofres do município e do governo federal. A realidade que se vê
atualmente, no entanto, é que o dinheiro gasto foi desperdiçado. Apesar
do potencial, o interesse no sucesso e futuro micro shopping parece ter
sido perdido e preterido pela gestão municipal, deixando-o nas mãos dos
comerciantes, que seguem batalhando para que, eventualmente, o Mercado
se torne um ponto de referência na cidade.
O
primeiro defeito já se encontra no topo da edificação. Uma grande
claraboia arqueada de vidro se prova mais um enfeite prejudicial do que
um acessório convidativo. Isto porque das 7h ao meio-dia, quando a luz
do sol atravessa a vidraça, a temperatura sobe exponencialmente,
causando desconforto para os usuários e vendedores. O estorvo é
recorrente pela falta de refrigeração no local, que não possui qualquer
ventilador ou aparelho de ar-condicionado. Aqueles que suportarem o
calor na esperança de receber clientela perduram por lá até as 17h – ou
bem antes disso, dependendo do movimento.
Dentre os serviços
oferecidos no micro shopping estão um restaurante, uma loja que vende
produtos de artesanato e uma lanchonete. Além disso, há boxes alugados
pela agência de viagens e turismo CVC e pela própria Secretaria de
Turismo de Natal, que têm a intenção de aproveitar a localização do
mercado para atrair público interessado em explorar o mundo e
apresentar, também, as belezas da capital potiguar. Os espaços, todavia,
seguem abandonados.
Manoel Thalyson, de 26 anos, um dos poucos
comerciantes sobreviventes do Mercado das Rocas, explicou quais são os
principais problemas de infraestrutura que comprometem a vontade do
público em aparecer. “A princípio, a fiação não era adequada para
receber demandas pesadas como suporte a freezer. Se fosse ligar os fios
como estavam, provavelmente, haveria algum estouro. Houve um processo de
licitação para que se colocasse a fiação adequada, e essa parte,
felizmente, deu certo. Só que ainda temos o problema da tubulação de
gás; a estrutura está instalada, mas a prefeitura não quer se
responsabilizar pela ligação do gás”, disse.
De
acordo com Manoel, a prefeitura de Natal disse que os comerciantes
teriam que criar uma associação para que eles mesmos cuidassem do reparo
da tubulação de gás. Sem alternativas, eles se dirigiram ao cartório
para cumprir a demanda; agora esperam a liberação do CNPJ da associação
para que possam prosseguir. “O secretário afirmou que precisava abrir
uma associação para pedir o gás, se a prefeitura houvesse falado isso
antes, já teríamos adiantado isso. Ela ficou de realizar reparos, mas já
tem mais de ano que só ficou a promessa. Aqui, a temperatura é muito
alta, não há ventilação, e, por isso, o público é muito pequeno. O
pessoal que trabalha no mercado e no bairro aparece de vez em quando,
mas, mesmo em dia de feira, não tem muito movimento. Além disso, não tem
como trazer muitos produtos comestíveis, porque quase não se vende. Se
trouxer muita coisa, eles vão se estragar”, avaliou o comerciante.
No
momento em que concedia entrevista ao Agora Jornal, Manoel e a
reportagem testemunharam um casal subir as escadas para o primeiro andar
e dar meia-volta ao perceber que o Mercado das Rocas não apresentava
quase nenhum serviço. “Ninguém sobe, veja esse casal. Às vezes as
pessoas vêm para ver como ficou, mas vender aqui é difícil. No início
até eles subiam, mas quando viam que não tinha quase nada, mudavam de
ideia e iam embora”, concluiu.
A frustração dos vendedores é
amplificada por mais dois fatores: o primeiro é que existe, em caixa, o
montante de R$ 700 mil que deveria ser utilizado em reformas da
claraboia para melhorar o condicionamento do micro shopping; o dinheiro,
que seria repassado pelo Ministério do Turismo e pela prefeitura de
Natal, não foi utilizado. Ademais, o espaço no primeiro andar que
deveria ser destinado a uma praça de alimentação, não recebe visitas.
Isto seria importante porque a Companhia de Bebidas das Américas (Ambev)
está bastante interessada em firmar uma parceria para distribuição de
bebidas e refrigerantes.
A reportagem do Agora Jornal
encontrou-se, ainda, com Dimas Oliveira, dono de um restaurante. De
acordo com o comerciante, a parte inferior do Mercado deveria funcionar
como um tipo de feira, vendendo frutas, verduras, carnes e produtos do
gênero. A parte superior, por sua vez, uniria a praça de alimentação aos
estabelecimentos e atrações musicais que apareceriam nos finais de
semana. Há a possibilidade, inclusive, de se oferecer o serviço do “Café
da Manhã Rural” com iguarias e receitas mais conhecidas no interior –
para tanto, porém, é necessária a presença de público para encorajar os
comerciantes. Enquanto isso, Dimas segue à espera de que o gás seja
ligado para que o odor das massas de pizza passem a se espalhar pelo
Mercado das Rocas.
(AgoraRN)
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