BRASIL, POLÍTICA
Paulo Roberto Costa, Fernando Baiano e Alberto Youssef (Paulo
Lisboa/Brazil Photo Press, Vagner Rosário/VEJA e Fabio Rodrigues
Pozzebom/Agência Brasil)
Relatório da Polícia Federal (PF) enviado ao juiz Sergio Moro
revela que a queda de braço entre a corporação e a Procuradoria da
República em torno do alcance e da importância da delação premiada já se
arrasta há meses. O documento, produzido em abril, chegou também à
força-tarefa do Ministério Público Federal em Curitiba, base da Lava
Jato. Ele detalha um inquérito policial que tramitou por quase dois
anos, aponta três delatores que ganharam benefícios e “em nada
auxiliaram os trabalhos investigativos”.
A PF se referiu especificamente ao ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa, ao doleiro Alberto Youssef e ao operador de propinas Fernando Falcão, o Fernando Baiano
– todos delatores da Lava Jato que foram contemplados com vantagens. O
inquérito foi aberto em 8 de julho de 2015 e mirava no ex-ministro da
Fazenda e da Casa Civil Antonio Palocci.
O petista foi preso em setembro de 2016 na Operação Omertà,
desdobramento da Lava Jato. Palocci foi condenado a 12 anos, 2 meses e
20 dias de prisão por corrupção e lavagem de dinheiro em ação penal
sobre favorecimento à Odebrecht em contratos de afretamento de sondas. O
ex-ministro responde ainda a outro processo por propinas da
empreiteira, ao lado do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Neste inquérito, aberto em 2015, Paulo Roberto Costa relatou
que teria recebido pedido de Youssef para liberação de 2 milhões de
reais da “cota” do PP no esquema de corrupção instalado na Petrobras.
Segundo o ex-diretor da estatal, a solicitação teria sido
feita ao doleiro pelo ex-ministro ou por “pessoa vinculada a este”. No
relatório, a PF narrou que Youssef “refutou integralmente a narrativa”
do ex-diretor da Petrobras. “Dois criminosos colaboradores, que
auferiram benefícios em decorrência dos acordos firmados com a
Procuradoria-Geral da República, apresentaram versões conflitantes de
suposto fato ilícito. Nada obstante, continuou-se a investigar”,
observou a PF.
De acordo com a corporação, Fernando Baiano declarou que
presenciou Palocci solicitar de Paulo Roberto Costa valores ilícitos
destinados à campanha presidencial do PT de 2010. “Muito embora já
existisse evidente conflitos de versões entre Paulo Roberto Costa e
Alberto Youssef, admitiu-se, nesta investigação, novo conflito de
versões entre Paulo Roberto Costa e Fernando Antonio Falcão Soares”,
anota a Polícia Federal.
O relatório indicou que “diversas acareações” foram feitas e
ainda assim as contradições foram mantidas. A PF relatou a Moro e aos
procuradores que realizou também “diligências junto a hotéis e
companhias aéreas”.
“No entanto, não consubstanciaram elementos probatórios
aptos a corroborar qualquer das três diferentes versões apresentadas
pelos três criminosos colaboradores ouvidos nestes autos. Não se
vislumbra, depois de diversas diligências e colheita de declarações,
medidas investigativas úteis a comprovar a hipótese investigativa que
originou este inquérito. As mesmas diligências tampouco comprovaram as
demais hipóteses investigativas que passaram a ser aceitas no
apuratório”, destaca o relatório.
O delegado Filipe Hille Pace, que assina o documento,
encerrou diligências de investigação no inquérito. “É temerário que
inquérito policial tenha tramitado por quase dois anos em função de três
versões de fatos diferentes apresentadas por três criminosos que
celebraram acordo de colaboração premiada com a Procuradoria-Geral da
República e que a partir disso obtiveram inegáveis benefícios. Em outras
palavras, no presente caso, os colaboradores em nada auxiliaram os
trabalhos investigativos, muito embora tenham sido beneficiados para
tanto. Pelo contrário, auxiliaram apenas na manutenção de investigação
com pouquíssima perspectiva de resolução”, alertou.
Pace ponderou, no entanto, que se o Ministério Público
Federal entender que são necessárias novas investigações no inquérito, a
PF atenderá ao pedido. Além disso, caso os delatores apresentem novas
provas no processo, o delegado afirma que é possível que as apurações
sejam retomadas.
(com Estadão Conteúdo)
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