Itep recolhe corpo de Franciélio Nogueira da Silva, o Pelado (Foto: Eurípedes Dias)
Quatro
casas com as portas arrombadas. Em uma delas, um casal morto na cama em
que dormia. Numa outra residência, um homem também é encontrado sem
vida, caído no piso. Foi este o cenário da madrugada desta terça-feira,
23, em Jandaíra, município da microrregião da Baixa Verde do Rio Grande
do Norte.
A pequena cidade com menos de sete mil
habitantes, de acordo com dados do IBGE disponibilizados no ano passado,
registrou quatro homicídios somente nos primeiros 23 dias de 2018. Isso
porque uma semana atrás, José Carlos Bezerra Viana, foi o primeiro a
morrer.
Carlinhos de Zé Almeida, como era
chamado, era conhecido pelo engajamento na política. Ocupou cargos de
confiança na Prefeitura de Galinhos e até tentou se eleger vereador
nesse município, vizinho a Jandaíra. A morte dele, na semana passada,
chocou a população e levou muitas pessoas ao sepultamento.
O assassinato de Carlinhos de Zé Almeida
ainda era o principal assunto nas rodas de conversa da cidade até esta
terça-feira. “Hoje, a cidade poderia ter amanhecido com cinco mortes só
durante a noite porque mais duas casas, além das que estavam com os
corpos, foram arrombadas. A sorte dos alvos é que um conseguiu fugir e o
outro não estava”, revelou ao PORTAL NO AR, o sargento Francisco
Canindé da Silva, que trabalha na cidade.
Gutemberg Marques da Silva, conhecido
como Gutinho, e a companheira, Margarete Pedro da Silva, não tiveram
como escapar. Morreram sobre a cama na qual descansavam por volta das 2
horas, quando o crime ocorreu. Assim como eles, Franciélio Nogueira da
Silva, o Pelado, também não teve como se livrar da morte.
Os homicídios que aterrorizam Jandaíra
podem ficar sem solução. Os policiais militares da cidade não contam
sequer com uma viatura para trabalhar. Há dois meses, o veículo quebrou
durante uma perseguição que só acabou em João Câmara. “Para atender as
ocorrências, vou no meu próprio carro. Não posso deixar a população a
mercê dos bandidos”, disse o sargento chamado de Kiko pelos
jandairenses.
As ocorrências atendidas pelo sargento e
pela equipe formada por mais seis policiais militares são levadas à
Delegacia de Polícia Civil de João Câmara, que atende a cinco
municípios. Responsável pela investigação, o delegado Joacir Rocha
também foi procurado pela reportagem.
Perguntado sobre o que fazer para
elucidar os casos homicidas em Jandaíra, o delegado revelou também ser
um refém da crise vivida pelo estado na segurança pública.
“Não tem como fazer nada. Eu trabalho com
dois agentes e um escrivão para dar conta de cinco cidades. Em João
Câmara, a principal delas, a gente só consegue resolver 5% dos casos.
Nesse momento, estou aqui sozinho na delegacia, se alguém quiser me
matar me mataria facilmente. É periclitante. Com as condições de
trabalho que temos a gente não investiga, apenas ouve o povo. É o que
estamos fazendo, ouvindo os familiares das vítimas de Jandaíra”,
declarou.
Baseado nos depoimentos que conseguiu
colher, o delegado acredita que os homicídios têm relação com o tráfico
de drogas. A opinião é a mesma do sargento, que mora na cidade: “Conheço
eles. Eram traficantes ou usuários”, assegurou.
O número de mortos em Jandaíra neste ano
pode subir a qualquer momento. Isso porque um homem raptado há mais de
20 dias ainda está desaparecido. Nem a Polícia Militar nem a Polícia
Civil souberam dizer quem é. “O que sabemos é que foi pego quando
trafegava de moto, mas ele não é daqui. Estava de passagem pela cidade”,
informou o sargento, reforçando que quem vê os crimes tem medo de
colaborar com as forças policiais.
*Os parágrafos a seguir se tratam de atualização feita após a chegada de novas informações buscadas pela reportagem
De acordo com o Observatório da Violência do Rio Grande do Norte repassados ao PORTAL NO AR, os quatro homicídios registrados em 2018 mostram que o município caminha para um recorde de mortes violentas.
Nos últimos 15 anos, apenas em 2015,
quando cinco foram mortos, e no ano passado, quando sete mortes foram
registradas, a quantidade de assassinatos foi superior a dos primeiros
23 dias de 2018.
(Por Ayrton Freire/Portal no Ar)
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