Nicolás Maduro recebe faixa presidencial na posse para um novo mandato como presidente da Venezuela — Foto: Carlos Garcia Rawlins/Reuters
A posse do ditador Nicolás Maduro para um novo mandato, até 2025, é
mais um desafio à democracia, à comunidade internacional e ao povo da
Venezuela. Resultado de eleições fajutas, convocadas pela Assembleia
Nacional Constituinte que Maduro instituiu para esvaziar os poderes de
um Parlamento controlado pela oposição, o novo mandato prolonga a agonia
do chavismo e mantém o país em seu estado crônico de fome, epidemias,
violência, miséria e hiperinflação.
Não é novidade que a Venezuela vive um descalabro que contribui para a
instabilidade de todo o continente. O relatório da Organização dos
Estados Americanos (OEA) publicado há um ano pintava o quadro dantesco
no dia a dia dos venezuelanos (leia mais aqui).
O regime chavista que já dura 19 anos pode ser descrito como
“clepto-socialismo”. Militares próximos do poder enriquecem à custa do
dinheiro do petróleo, enquanto a miséria se espalha pela população, sob
pretextos como combate ao “imperialismo”, ao “capitalismo”, aos
"ianques" ou a qualquer espantalho a que Maduro possa atribuir a
calamidade vergonhosa que se abateu sobre o país – cujo único
responsável é o próprio chavismo.
A eleição foi condenada pelo Grupo de Lima (que reúne 14 países da
América Latina, entre os quais o Brasil), pela própria OEA, pela União
Europeia e pelos Estados Unidos. Maduro só conta hoje com o apoio de
extremistas que veem seu governo como última esperança para tirar a
esquerda latino-americana do buraco em que ela própria se enfiou.
É o caso da presidente do PT, Gleisi Hoffman. Embora o partido tenha
boicotado a posse de Jair Bolsonaro, ela foi representar os petistas na
posse de Maduro, reconheceu a legitimidade de seu mandato e o elogiou.
No universo de Gleisi, aparentemente o cleptosocialismo é um regime
político preferível à democracia e um sistema econômico que, a despeito
de levar milhões à miséria ou a fugir do país, pode servir de inspiração
ao resto do continente.
Para a América Latina e o Brasil, a situação se torna a cada dia mais
preocupante. O ideal seria que os próprios venezuelanos se encarregassem
de retirar Maduro e o chavismo do poder, por meios democráticos.
Infelizmente, e impossível fazer isso sob uma ditadura. Os cenários
vislumbrados para o futuro são, portanto, todos difíceis.
O melhor seria uma transição negociada para um regime cuja legitimidade
possa ser reconhecida, com eleições livres e a reconstituição da
oposição, hoje sufocada ou no exílio. A quantidade de defecções no
regime e de ex-chavistas que aceitariam tal saída só faz crescer. Mas a
oposição está dividida, não há alternativa clara de liderança, e Maduro e
seu entorno jamais aceitariam largar o osso. Os meios de pressão usados
têm sido insuficientes para convencê-lo.
Um segundo cenário seria um golpe militar, como tantos que o país já
viveu. Para se precaver dessa possibilidade, Maduro mantém controle
absoluto sobre o Exército, que cobre de benesses e privilégios. Toda
ruptura é indesejável, pois traria sequelas a qualquer arranjo
democrático futuro.
O terceiro cenário é uma intervenção externa: uma guerra para depor o
governo Maduro e reinstaurar a democracia no país, com a participação de
Estados Unidos, Brasil e outros países latino-americanos. Era um
cenário antes improvável diante das articulações diplomáticas.
Lideranças do próprio PT sempre usaram o pretexto de evitar um conflito
nas nossas fronteiras para justificar as relações próximas dos
venezuelanos, que tornariam o Brasil fiador de qualquer saída negociada.
Infelizmente, essa visão esbarra na realidade de um regime ditatorial
inflexível, infenso a toda forma de pressão, dedicado a manter o poder a
todo custo.
Ainda é difícil prever qual das três saídas prevalecerá. A posse de
Maduro, contudo, reduz as chances da diplomacia e aumenta as de golpe e
mesmo de guerra. Uma guerra é tudo o que China e Rússia – os dois
sustentáculos financeiros do clepto-socialismo de Maduro – gostariam de
ver no quintal dos Estados Unidos. Se o governo Donald Trump decidir
intervir, o Brasil, mesmo que não queira, seria provavelmente arrastado
ao conflito.
(G1.com.br)
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