quarta-feira, 23 de janeiro de 2019

Assembleia Nacional assume atribuição de Maduro e nomeia embaixador na OEA. Mike Pence dá apoio a manifestação da oposição, nesta quarta-feira, e é acusado de golpismo e de enviar terroristas por ministro venezuelano

VENEZUELA
 
 O presidente da Assembleia Nacional da Venezuela, Juan Guaidó: preservação do país na OEA - 10/01/2019 (Fernando Llano/AP)

A Assembleia Nacional da Venezuela, de maioria opositora, assumiu nesta terça-feira, 22, uma das competências que seria do Poder Executivo e designou Gustavo Tarre Briceño como embaixador “especial” do país na Organização dos Estados Americanos (OEA). O objetivo de Tarre Briceño será  “coordenar com essa organização as ações necessárias para o restabelecimento do ordenamento constitucional” no país.

“Continuamos cumprindo o compromisso do nosso Parlamento e do nosso povo, ao não deixá-lo sozinho”, disse o presidente da Assembleia Nacional, Juan Guaidó, que no dia 11 passado declarou-se presidente interino da Venezuela.

Os parlamentares também aprovaram a permanência do país na OEA, contrariando o processo iniciado pelo regime de Nicolás Maduro de retirada da Venezuela da organização. Pelo Twitter, Guaidó afirmou que a designação de Tarre Briceño tem também o objetivo de “garantir que a Venezuela se mantenha dentro” da OEA.

As decisões da Assembleia Nacional não são acatadas pelo Executivo desde que o órgão foi declarado em “desacato” pelo Tribunal Supremo de Justiça (TSJ), em 2016. No ano seguinte, Maduro promoveu a eleição da Assembleia Constituinte, 100% ocupada por seus aliados, para tomar as atribuições da Assembleia Nacional. Na segunda-feira 21, o TSJ declarou a Assembleia Nacional como “inconstitucional” e “destituída de mesa diretora”. 


A iniciativa de Guaidó e seus aliados foi tomada há um dia da suposta tentativa de motim militar contra o regime de Maduro e a um dia da manifestação convocada por ele contra o governo chavista. Há temores de reação violenta da Guarda Nacional Bolivariana e das milícias pró-Maduro.

O líder chavista venceu com folga as eleições presidenciais de maio, em uma disputa que não contou com a maioria da oposição. A votação foi considerada fraudulenta pelos Estados Unidos, Brasil e União Europeia (UE), entre outros, que não reconhecem a legitimidade do atual mandato de Maduro. A Assembleia Nacional considera o chavista como um usurpador.

Nesta terça-feira, em Davos, o presidente do Paraguai, Mario Abdo Benítez, afirmou nesta terça-feira que seu governo reconheceria Juan Guaidó como chefe de Estado da Venezuela, se assim decidir a Assembleia Nacional. “Tudo o que contribua para a libertação da Venezuela vai ter o voto e o apoio da República do Paraguai”, completou Benítez.

Caracas x Washington

Nesta véspera de manifestações, o vice-presidente dos Estados Unidos, Mike Pence, divulgou um vídeo no qual chama Maduro de “ditador”, diz que a Assembleia nacional é o “último vestígio de democracia” da Venezuela e envia uma mensagem ao povo venezuelano: “Estamos com vocês”.

“Enquanto vocês fazem com que as suas vozes sejam ouvidas amanhã (quarta-feira), em nome do povo americano, dizemos às pessoas de bem da Venezuela: ‘Estamos com vocês, apoiamos vocês e vamos apoiá-los até que a democracia na Venezuela seja restaurada e os direitos de liberdade que os pertencem sejam reivindicados”, afirmou Pence no vídeo.

As declarações de Pence caíram mal em Caracas. O ministro de Comunicação da Venezuela, Jorge Rodríguez, chamou o vice-presidente dos Estados Unidos de “golpista” e o acusou de ter mandado “terroristas” promoverem atos de violência para desestabilizar o governo de Nicolás Maduro.

Rodríguez afirmou que alguns dos 27 militares presos na segunda-feira por se revoltarem contra Maduro confessaram ter entregado a ativistas da oposição uma parte das armas que haviam roubado de um quartel.

Ele se referiu aos ativistas como “civis pertencentes à célula terrorista Vontade Popular”, o partido do líder opositor Leopoldo López, em prisão domiciliar, e de Guaidó. Disse ainda que o objetivo deles era usar uniformes militares e “eventualmente dispararem contra a manifestação opositora”.

“Para quê? Para cumprir as ordens de Mike Pence”, garantiu.

A vice-presidente da Venezuela, Delcy Rodríguez, também disparou contra Pence, acusando-o de “pretender vir governar a Venezuela, dando instruções do que se fazer amanhã na Venezuela, pedindo abertamente um golpe de Estado”. “‘Yankee go home’, não vamos a permitir que se intrometam nos assuntos da pátria”, completou.



(Com EFE)

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